O Livro de Jó
Lições do Sofrimento
Origem?
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A autoria de Jó é incerta. Alguns eruditos atribuem o livro a Moisés. Outros atribuem a um dos antigos sábios,
cujos escrito podem se encontrados em Provérbios ou Eclesiastes. Talvez o próprio Salomão tenha sido seu autor.
Os procedimentos, os costumes e o estilo de vida geral do livro de Jó são do período patriarcal (cerca de 2000-1800 aC).
Apesar dos estudiosos não concordarem quanto à época em que foi compilado, este texto é obviamente o registro de uma
tradição oral muito antiga. Aqueles que atribuem o livro a Moisés, acham que a história surgiu lá pelo séc. XV aC.
Outros acham que surgiu lá pelo séc. II aC. A maior parte dos conservadores atribuem Jó ao período salomônico,
pela metade do séc. X aC.
- Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto,
temente a Deus,que temia a Deus e que se desviava do mal.
- Nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
- Possuia sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois,
e quinhentas jumentas, era também mui numeroso o pessoal ao seu serviço; de maneira
que este homem era o maior de todos os do Oriente.
- Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquete,s cada um por sua
vez, e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.
- Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava;
levantava-se de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois
dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos, e blasfemado contra Deus em seu coração.
Assim o fazia Jó continuamente.
- Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o senhor, veio também Satanás entre eles.
- Então perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra,
e passear por ela.
- Perguntou ainda o Senhor a Satanás: Observaste a meu servo Jó? porque ninguém há na terra semelhante a ele,
homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.
- Então respondeu Satanás ao Senhor:Porventura Jó debalde teme a Deus?
- Acaso não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? a obra de suas mãos abençoaste,
e os seus bens se multiplicaram na terra.
- Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face!
- Disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a tua mão.
E Satanás saiu da presença do Senhor.
As aflições e paciência de Jó
- Sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comia, e bebiam vinho na casa do irmão primogênito,
- que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavraram, e as jumentas pasciam junto a eles;
- de repente deram sobre eles os sabeus, e os levaram,
e mataram aos servos ao fio da espada; só eu escapei, para trazer-te a nova.
- Falava este ainda quando veio outro, e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos,
e os queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova.
- Falava este ainda quando veio outro, e disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, deram
sobre os camelos, eos levaram, e mataram os servos ao fio da espada; só eu escapei, para trazer-te a nova.
- Falava este ainda quando veio outro, e disse:Fogo de deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos,
e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova.
- Também este falava ainda quando veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo, e bebendo vinho,
em casa do irmão primogênito,
- eis que se levantou grande vento da banda do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu
sobre eles, e morreram; só eu escapei, para trazer-te a nova.
- Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça, e lançou-se em terra e adorou:
- e disse: Nu sai do ventre de minha mãe, e nu voltarei;o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja
o nome do Senhor!
- Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
- Num dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor,
veio também satanás entre eles apresentar-se perante ele.
- Então o senhor disse a satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor,
e disse:De rodear a terra, e passear por ela.
- Perguntou o senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? porque ninguém há na terra
semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a deus, e que se desvia do mal.
Ele conserva a sua integridade embora me incitasses contra eloe, para o consumir sem causa.
- Então Satanás respondeu ao Senhor: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.
- Estende, porém, a tua mão, toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!
- Disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida.
- Então saiu Satanás da presença do Senhor, e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé
até ao alto da cabeça.
- Jó sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se.
- Então sua mulher lhe disse:Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.
- Mas ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus,
e não receberíamos também o mal?Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.
- Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do seu lugar:
Elifaz o temanita, Bildade o suíta, e Zofar o naamatita; e combinaram ir juntamente
condoer-se dele, e consolá-lo.
- Levantando eles de longe os olhos e não o reco0nhecendo, ergueram a voz e choraram;
e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça.
- Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites: e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam
que a dor era muito grande.
- Depois disto passou Jó a falar, e amaldiçoou o seu dia natalício.
- Disse Jó:
- Pereça o dia em que nasci e a noite que disse: Foi concebido um homem!
- Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz.
- Reclamem-no as trevas e a sombra de morte: habitem sobre ele nuvens; espante-o tudo o que pode enegrecer o dia!
- Aquela noite! dela se apoderem densas trevas; não se regozije ela entre os dias do ano, não entre na conta dos meses.
- Seja estéril aquela noite, e dela sejam banidos os sons de júbilo.
- Amaldiçoem-na aquela que sabem amaldiçoar o dia, e sabem excitar o monstro marinho.
- Escureçam-se as estrelas do crepúsculo matutino dessa noite, que ela espera a luz e a luz não venha; que não veja
as pálpebras dos olhos da alva,
- pois não se fechou as portas do ventre de minha mãe, nem escondeu dos meus olhos o sofrimento.
- Por que não morri eu na madre? Porque não expirei ao sair dela?
- Por que houve regaço que me acolheste? e por que os peitos, para que eu mamasse?
- Porque já agora repousaria tranquilo; dormiria, e então haveria para mim descanso,
- com os reis e conselheiros da terra, que para si edificaram mausoléus;
- ou com os princípes que tinham ouro, e encheram de prata as suas casas;
- ou, como aborto oculto, eu não existiria, como crianças que nunca viram a luz;
- Ali os maus cessam de perturbar, e ali repousam os cansados.
- Ali os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do feitor.
- Ali está assim o pequeno como o grande, e o servo livre de seu senhor.
- Por que se concede luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo,
- que esperam a morte, e ela não vem; cavam em procura dela mais do que tesouros ocultos;
- que se regozijariam por um túmulo, que exultariam se achassem a sepultura?
- Por que se concede luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados?
- Porque em vez do meu pão me vêm gemidos, e os meus lamentos se derramam como água;
- aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece.
- Não tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande perturbação.
- Então respondeu Elifaz o temanita, e disse:
- Se intentar alguém falar-te, enfadar-te-ás?
Quem, todavia, poderá conter as palavras?
- Eis que tens ensinado a muitos, e tens fortalecido a mãos fracas.
- As tuas palavras têm sustentado aos que tropeçam, e aos joelhos vacilantes tens fortificado.
- Mas agora, em chegando a tua vez, tu te enfadas; sendo tu atingido, te perturbas.
- Porventura não é o teu temor de Deus aquilo em que confias, e atua esperança a retidão dos teus caminhos?
- Lembra-te: acaso já pereceu algum inocente? e onde foram os retos destruídos?
- Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniquidade e semeiam o mal, isso mesmo eles segam.
- Com o hálito de Deus perecem; e com o assopro da sua ira se consomem.
- Cessa o bramido do leão e a voz do leão feroz, e os dentes dos leãozinhos se quebram.
- Perece o leão, porque não há presa, e os filhos da leoa andam dispersos.
- Uma palavra se me disse em segredo; e os meus ouvidos perceberam um sussurro dela.
- Entre pensamentos de visões noturnas, quando profundo sono cai sobre os homens,
- sobrevieram-me o espanto e o tremor, e todos os meus ossos estremeceram.
- Então um espírito passou por diante de min; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo;
- parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava diante dos meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz;
- Seria porventura o mortal justo diante de Deus? Seria acaso o homem puro diante do seu Criador?
- Eis que Deus não confia nos seus servos, e aos seus anjos atribui imperfeições;
- quanto mais àqueles que habitam em casas de barro, cujo fundamentos está no pó, e são esmagados como a traça!
- Nascem de manhã, e à tarde são destruidos; perecem para sempre, sem que disso se faça caso.
- Se se lhes corta o fio da vida, morrem, e não atingem a sabedoria./LI>
- Chama agora! Haverá alguém que te atenda? e para qual dos santos anjos te virarás?
- Porque a ira do louco o destrói, e o zelo do tolo o mata.
- Bem vi eu o louco lançar raízes; mas logo declarei maldita a sua habitação.
- Seus filhos estão longe do socorro, são espezinhados às portas,e não há quem os livre.
- A sua messe o faminto o devora, e até do meio dos espinhos a arrebata; e o intrigante abocanha os seus bens.
- Porque a aflição não vem do pó, e não é da terra que brota o enfado.
- Mas o homem nasce para o enfado como as faíscas das brasas voam para cima.
- Quanto a mim eu buscaria a deus, e a ele entregaria a minha causa;
- ele faz cousas grandes e inescrutáveis, e maravilhas que não se podem contar;
- faz chover sobre a terra, e envia águas sobre os campos,
- para pôr os abatidos num lugar alto, e para que os enlutados se alegrem da maior ventura.
- Ele frustra as maquinações dos astutos, para que as suas mãos não possam realizar seus projetos.
- Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e o conselho dos que tramam se precipita.
- Eles de dia encontram as trevas; ao meio-dia andam como de noite, às apalpadelas.
- Porém deus salva da espada que lhes sai da boca, salva o necessitado da mão do poderoso.
- Assim há esperança para o pobre, e a iniquidade tapa a sua própria boca.
- Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do Todo-poderoso.
- Porque ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas mãos curam.
- De seis angústias te livrará, e na sétima o mal te não tocará.
- Na fome te livrará da morte, na guerra do poder da espada.
- Do açoite da língua estarás abrigado, e quando vier a assolação não a temerás.
- Da assolação e da fome te rirás, e das feras da terra não terás medo.
- Porque até com as pedras do campo terás a tua aliança, e os animais da
terra viverão em paz contigo.
- Saberás que a paz é a tua tenda, percorrerás as tuas possessões, e nada te faltará.
- Saberás também que se multiplicará a tua descendência, e a tua posteridade, como a erva da terra.
- Em robusta velhice entrarás para a sepultura, como se recolhe o feixe de trigo a seu tempo.
- Eis que isto já o havemos inquirido, e assim é; ouve-o, e medita nisso para teu bem.
- Então Jó respondeu:
- Oh! se a minha queixa de fato se pesasse, e contra ela, numa balança, se pusesse a minha miséria,
- esta na verdade pesaria mais que a areia dos mares, por isso é que as minhas palavras
foram precipitadas.
- Porque as flechas do todo-poderoso estão em mim cravadas, e o meu espírito sorve o veneno
delas; os terrores de Deus se arregimentam contra mim.
- Zurrará o jumento montês junto à relva? ou mugirá o boi junto à sua forragem?
- Comer-se-á sem sal o que é insipído? ou haverá sabor na clara do ovo?
- Aquilo que a minha alma recusava tocar, isso é agora a minha comida repugnante
- Quem dera que se cumprisse o meu pedido, e que Deus me concedesse o que anelo!
- Que fosse do agrado de Deus esmagar-me, que soltasse a sua mão, e acabasse comigo!
- Isto ainda seria a minha consolação, e saltaria de contente na minha dor que ele não poupa;
porque não tenho negado as palavras do Santo,
- por que esperar se já não tenho forças?por que prolongar a vida se o meu fim é certo?
- Acaso a minha força é a força de pedra? ou é de bronze a minha carne?
- Não! jamais haverá socorro para mim; foram afastados de mim os meus recursos.
- Ao aflito deve o amigo mostrar compaixão, a menos que tenha abandonado o temor
do Todo-poderoso.
- Meus irmãos aleivosamente me trataram; são como um ribeiro, como a torrente que transborda no vale,
- turvada com o gelo e com a neve que nela se esconde,
- torrente que no tempo do calor seca, emudece e desaparece do seu lugar.
- Desviam-se as caravanas dos seus caminhos, sobem para lugares desolados, e perecem.
- As caravanas de tema a procuram, os visitantes de sabá por ele suspiram.
- Ficam envergonhados por terem confiado; em chegando ali, confundem-se.
- Assim tembém vós outros sois nada para mim; vedes os meus e vos espantais.
- Acaso disse eu:Dai-me um presente? ou: Oferecei-me um suborno da vossa fazenda?
- ou: Livrai-me do poder do opressor?ou: Redimi- das mãos dos tiranos?
- Ensinai-me, e eu me calarei; dai-me a entender em que tenho errado.
- Oh! Como são pesuasivas as palavras retas! Mas que é o que repreende a vossa repreensão?
- Acaso pensais em reprovar as minhas palavras, ditas por um desesperado ao vento?
- Até sobre o órfão lançarias sorte, e especularies com o vosso amigo?
- Agora, pois, se sois servidos, olhai para mim, e vede que não minto na vossa cara.
- Tornai a julgar, vos peço, e não haja iniquidade; tornai a julgar, e ajustiça da minha causa triunfará.
- Há iniquidade na minha língua? Não pode o meu paladar discernir cousas perniciosas?
- Não é penosa a vida do homem sobre a terra? Não são os seus dias mcomo os de um jornaleiro?
- Como o escravo que suspira pela sombra, e como o jornaleiro que espera pela sua paga,
- assim me deram por herança meses de desengano, e noites de aflição me proporcionaram.
- Ao deitar-me digo: Quando me levantarás? Mas cumprida é a noite, e farto-me de me revolver na cama, até à alva.
- A minha carne está vestida de vermes e de crostas terrosas; a minha pele se encrosta e de novo supura.
- Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão.
- Lembra-te de que a minha vida é um sopro; os meus olhos não tornarão a ver o bem.
- Os olhos dos que agora me vêem não me verão mais; os teus olhos me procurarão, mas já não serei.
- Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura jamais tornará a subir.
- Nunca mais tornará a sua casa, nem o lugar onde habita o conhecerá jamais.
- Por isso não reprimirei a minha boca, falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na
amargura da minha alma.
- Acaso sou eu o mar, ou algum monstro marinho, para que me ponhas guarda?
- Dizendo eu: Consolar-me-á o meu leito, a minha cama aliviará a minha queixa.
- então me espantas com sonhos, e com visões me assombras;
- pelo que a minha alma escolheria antes ser estrangulada, antes a morte do que esta tortura.
- Estou farto da minha vida; não quero viver para sempre. Deixa-me, pois, porque os meus dias são um sopro.
- Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado.
- e cada manhã o visites, e cada momento o ponhas à prova?
- Até quando não apartarás de mim a tua vista? Até quando não me darás tempo de engolir a minha saliva?
- Se pequei, que mal te fiz a ti, ó Espreitador dos homens? Por que te fizeste de mim um alvo,
para que a mim mesmo me seja pesado?
- Por que não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade?
Pois agora me deitarei no pó; e, se me buscas, já não serei.
- Então respondeu Bildade, o suita: Até quando falarás tais cousas?E até quando as palavras
da tua boca serão qual vento impetuoso?
- Perverteria Deus o direito, ou perverteria o Todo-poderoso a justiça?
- Se teus filhos pecaram contra ele, tanbém ele os lançou no poder da sua transgerssão.
- Mas, se tu buscares a deus, e ao Todo-poderoso pedires misericórdia,
- se fores puro e reto, ele,sem demora, despertará em teu favor, e restaurará a justiça da tua morada.
- o teu primeiro estado, na verdade, terá sido pequeno, mas o teu último crescerá sobremaneira.
- Pois, eu te peço, pergunta agora a gerações passadas, e atenta para a experiência de seus pais;
- porque nós somos de ontem, e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra.
- Porventura não te ensinarão os pais, não haverão de falar-te, e do próprio entendimento não proferirão
estas palavras:
- Pode o papiro crescer sem lodo? Ou viça o junco sem água?
- estando ainda na sua verdura, e ainda não colhidos, todavia antes de qualquer outra erva se secam.
- São assim as veredas de todos quantos se esquecem de deus; e a esperança do ímpio perecerá.
- A sua firmeza será frustrada, e a sua confiança é teia de aranha.
- Encostar-se-á à sua casa, e ela não se manterá, agarrar-se-á a ela, e ela não ficará em pé.
- Ele é viçoso perante o sol, e os seus renovos irrompem no seu jardim;
- as suas raízes se entrelaçam num montão de pedras, e penetram até às muralhas.
- Mas se deus o arranca do seu lugar, então este o negará, dizendo:Nunca te vi.
- Eis em que deu a sua vida! e do pó britarão outros.
- Eis que deus não rejeita ao íntegro, nem toma pela mão os malfeitores.
- Ele te encherá a boca de riso, eos teus lábios de júbilo.
- Teus aborrecedores se vestirão de ignomínia, e atenda dos perversos não subsistirá.
- Então Jó respondeu, e disse:
- Na verdade sei que assim é: porque, como pode o homem ser justo para com Deus?
- Se quiser contender com ele, nem a uma de mil cousas lhe poderá responder.
- Ele é sábio de coração e grande em poder; quem porfiou com ele, e teve paz?
- Ele é quem remove os montes, sem que saibam que ele na sua ira os transtorna;
- Quem move a terra para fora do seu lugar, cujas colunas estremecem;
- quem fala ao sol, e este não sai, e sela as estrelas;
- quem sozinho estende os céus, e anda sobre os altos do mar;
- quem fez a ursa, o Órion, o Sete-estrelo e as recâmaras do sul;
- quem faz grandes cousas, que se não podem esquadrinhar, e maravilhas tais que se não podem contar.
- Eis que ele passa por mim, e não o vejo; segue perante mim, e não o percebo.
- Eis que arrebata a presa! quem o pode impedir? Quem lhe dirá: Que fazes?
- Deus não revogará a sua própria ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores do Egito.
- Quanto menos lhe poderei eu responder ou escolher as minhas palavras para argumentar com ele?
- A ele, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.
- Ainda que o chamasse, e ele me respondesse, nem por isso creria eu que desse ouvidos à minha voz.
- Porque me esmaga com uma tempestade, e multiplica as minhas chagas sem causa.
- Não me permitas respirar, antes me farta de amarguras.
- Se se trata da força do poderoso, ele dirá: Eis-me aqui; se de justiça: Quem me citará?
- Ainda que eu seja justo a minha boca me condenrá; embora seja eu íntegro, ele me terá por culpado.
- Eu sou íntegro, não levo em conta a minha alma, não faço caso da minha vida.
- Para mim tudo é o mesmo, por isso digo: Tanto destrói ele o íntegro como o perverso.
- Se qualquer flagelo mata à sùbita, então se rirá do desespero do inocente.
- A terra está entregue nas mãos dos perversos; e Deus ainda cobre o rosto dos juízes dela; se não é ele o
causador disso, quem é logo?
- Os meus dias foram mais velozes do que um corredor; fugiram, e não viram a felicidade.
- Passaram como barcos de junco; como a águia que se lança sobre a presa.
- Se eu disser:Eu me esquecerei da minha queixa, deixarei o meu ar tristr, e ficarei contente;
- ainda assim todas as minhas dores me apavoram, porque bem sei que me não terás por inocente.
- Serei condenado; por que, pois, trabalho eu em vão?
- Ainda que me lave com água de neve, e purifique as mãos com cáustico,
- mesmo assim me submergirás no lodo, e as minhas próprias vestes me abominarão.
- Porque ele não é homem, como eu, a quem eu responda, vindo juntamente a juízo.
- Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos.
- Tire ele a sua vara de cima de mim, e não me amedronte o seu terror,
- então falarei sem o temer; do contrário, não estaria em mim.
- A minha alma tem tédio à minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei com amargura da minha alma.
- Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo.
- Parece-te bem que me oprimas, que rejeites a obra das tuas mãos e favoreças o conselho dos perversos?
- Tens tu olhos de carne? Acaso vês tu como vê o homem?
- São os teus dias como os dias do mortal? Ou são os teus anos como os anos de um homem,
- para te informares da minha iniquidade, e averiguas o meu pecado?
- Bem sabes tu que eu não sou culpado, todavia ninguém há que me livre da tua mão.
- As tuas mãos me plasmaram e me aperfeiçoaram, porém, agora, queres devorar-me.
- Lembra-te de que me formaste como em barro; e queres, agora, reduzir-me a pó?
- Porventura não me vazaste como leite e não me coalhaste como queijo?
- De pele e carne me vestiste, e de ossos e tendões me entreteceste.
- Vida me concedeste na tua benevolência, e o teu cuidado a mim me guardou.
- Estas cousas as ocultaste no teu coração; ma bem sei o que resolveste contigo mesmo.
- Se eu pecar, tu me observas; e da minha iniquidade não me perdoarás.
- se for perverso, ai de mim! e se for justo, não ouso levantar a minha cabeça, pois estou
cheio de ignomínia, e olho para a minha miséria.
- Porque se a levanto, tu me caças como a um leão feroz, e de novo revelas poder maravilhoso contra mim.
- Tu renovas contra mim as tuas testemunhas, e multiplicas contra mim a tua ira;
males e lutas se sucedem contra mim.
- Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! se eu morresse, antes que olhos nenhum me vissem!
- teria eu sido como se nunca existira, e já do ventre teria sido levado à sepultura.
- Não são poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu tome alento;
- antes que eu vá para o lugar de que não voltarei, para a terra das tervas e da sombra da morte;
- terra de negridão, de profunda escuridade, terra da sombra da morte e do caos, onde a própria luz é tenebrosa.
- Então respondeu Zofar, o naamatita:
- Porventura não se dará resposta a esse palavrório?
Acaso tem razão o tagarela?
- Será o caso de as tuas parolas fazerem calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe?
- Pois dizes:A minha doutrina é pura, e sou limpo aos teus olhos.
- Oh! Falasse Deus e abrisse os seus lábios contra ti,
- e te revelasse os segredos da sabedoria, da verdadeira sabedoria, que é multiforme.
sabe, portanto, que deus permite seja esquecida parte da tua iniquidade.
- Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-poderoso?
- Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo;
que poderás saber?
- A sua medida é mais longa do que a terra, e mais larga do que o mar.
- Se ele passa, prende a alguém, e chama a juízo, quem o poderá impedir?
- porque ele conhece os homens vãos, e, sem esforço, v^a iniquidade.
- Mas o homem estúpido se tornará sábio, quando a cria de um asno montês nascer homem.
- Se dispuseres o teu coração, e estenderes as tuas mãos para Deus;
- se lançares para longe a iniquidade da tua mão, e não permitires habitar na tua tenda a injustiça;
- então levantarás o teu rosto sem mácula, estarás seguro, e não temerás.
- Pois te esquecerás dos teus sofrimentos, e dele só terás lembrança como de águas que passaram.
- A tua vida será mais clara que o meio-dia; ainda que lhe haja trevas, será como a manhã.
- Sentir-te-ás seguro, porque haverá esperança; olharás derredor, e dormirás tranquilo.
- Deitar-te-ás, e ninguém te espantará; e muitos procurarão obter o teu favor.
- Mas os olhos dos perversos desfalecerão, o seu refúgio perecerá; sua esperança será o render do espírito.
- Então Jó respondeu:
- Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.
- Também eu tenho entendimento como vós, eu não vos sou inferior; quem não sabe cousas como essas?
- Eu sou irrisão para os meus amigos; eu, que invocava a Deus, e ele me respondia;
o justo e o reto servem de irrisão.
- No pensamento de quem está seguro há desprezo para o infortúnio, um empurrão para aquele cujos pés já vacilam.
- As tendas dos tiranos gozam paz, e os que provocam a Deus estão seguros; têm o punho por seu Deus.
- Mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e ás aves dos céus, e elas to farão saber.
- Ou fala com a terra, e ela te i9nstruirá; até os peixes do mar to contarão.
- Qual entre todos estes não sabe que a mão do Senhor fez isto?
- Na sua mão está a alma de todo ser vivente, e o espírito de todo o gênero humano.
- Porventura o ouvido não submete à prova as palavras, como o paladar prova as comidas?
- Está a sabedoria com os idosos, e na longevidade o entendimento?
- Não! Com Deus está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento.
- O que ele deitar abaixo não se reedificará; lança na prisão e ninguém a pode abrir.
- Se retém as águas, elas secam; se as larga, devastam a terra.
- Com ele está a força e a sabedoria; seu é o que erra e o que faz errar.
- Aos conselheiros leva-os despojados do seu cargo, e aos juízes faz desvairar.
- Dissolve a autoridade dos reis, e uma corda lhes cinge os lombos.
- Aos sacerdotes leva os despojados do seu cargo, e aos poderosos transtorna.
- Aos eloquentes ele tira a palavra, e tira o entendimento aos anciãos.
- Lança desprezo sobre os princípes, e afrouxa o cinto dos fortes.
- Das trevas manifesta cousas profundas, e traz à luz a densa escuridade.
- Multiplica as nações e as faz perecer; dispersa-as e de novo as congrega.
- Tira o entendimento aos príncipes do povo da terra, e os faz vaguear pelos desertos sem caminho.
- Nas trevas andam às apalpadelas sem terem luz, e os faz cambalear como ébrios.
- Eis que tudo isso viram os meus olhos, eos meus ouvidos o ouviram e entenderam.
- Como vós o sabeis, também eu o sei; não vos sou inferior.
- Mas falarei ao todo-poderoso, e quero defender-me perante Deus.
- Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras, e vós todos sois médicos que não valem nada.
- Oxalá vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria!
- Ouvi agora a minha defesa, e atentai para os argumentos dos meus lábios.
- Porventura falareis perversidade em favor de Deus, a seu favor falareis mentiras?
- Sereis parciais por ele? contendereis a favor de Deus?
- Ser-vos-ia bom, se ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dele, como se zomba de um homem qualquer?
- Acerbamente vos repreenderá, se em oculto fordes parciais.
- Porventura não vos amendrontará a sua dignidade, e não cairá sobre vós o seu terror?
- As vossas máximas são como provérbios de cinza, os vossos baluartes, baluartes de barro.
- Calai-vos perante mim, e falarei eu, e venha sobre mim o que vier.
- Toamarei a minha carne nos meus dentes, e porei a vida na minha mão.
- Eis que me matará, já não tenho esperança; contudo defenderei o meu procedimento.
- Também isto será a minha salvação, o fato de o ímpio não vir perante ele.
- atentai para as minhas razões, e dai ouvidos à minha exposição.
- Tenho já bem encaminhada minha causa, e estou certo de que serei justificado.
- Quem há que possa contender comigo? Neste caso eu me calaria, e renderia o espírito.
- Concede-me somente duas cousas; então me não esconderei do teu rosto:
- Alivia a tua mão de sobre mim, e não me espante o teu terror.
- Interpela-me e te responderei, ou deixa-me falar, e tu me responderás.
- Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado.
- Por que escondes o teu rosto, e me tens por teu inimigo?
- Queres aterrorizar uma folha arrebatada pelo vento? e perseguirás a palha seca?
- Pois decretas contra mim cousas amargas e me atribuis as culpas da minha mocidade.
- Também pões os meus pés no tronco, observas todos os meus caminhos, e traças limites à planta dos meus pés.
- apesar de eu ser como uma cousa podre que se consome, e como a roupa que é comida da traça.
- O homem, nascido de mulher, vive breve tempo, cheio de inquietação.
- Nasce como a flor, e murcha; foge como a sobra, e não permanece,
- e sobre tal homem abres os teus olhos, e o fazes entrar em juízo contigo?
- Quem da imundícia poderá tirar cousa pura? Ninguém.
- Visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem puseste limites, além dos quais não passará.
- Desvia dele os teus olhares, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha prazer no seu dia.
- Porque há esperança para a árvore, pois mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos.
- Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco,
- ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como a planta nova.
- O homem, porém, morre, e fica prostrado; expira o homem, e onde está?
- Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca,
- assim o homem se deita, e não se levanta: enquanto existirem os céus não acordará, nem será despertado
do seu sono.
- Oxalá me encobrisses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se fosse, e me pusesses um prazo
e depois te lembrasses de mim!
- Morrendo o homem, porventura toranará a viver? Todos os dias da minha milícia esperaria, até que eu fosse substituido.
- Chamar--me-ias, e eu te responderia; terias saudades da obra de tuas mãos;
- e até contarias os meus passos, e não levarias em conta os meus pecados.
- A minha transgressão estaria selada num saco, e terias encoberto as minhas iniquidades.
- Como o monte que se esboroa e se desfaz, e a rocha que remove do seu lugar,
- como as águas gastam as pedras, e as cheias arrebatam o pó da terra, assim destróis a esperança do homem!
- Tu prevaleces para sempre contra ele, e ele passa, mudas-lhe o semblante, e o despedes para o além.
- Os seus filhos recebem honras, e ele o não sabe;são humilhados, e ele o não percebe.
- Ele sente as dores de apenas seu próprio corpo, e só a seu respeito sofre a sua alma.
- Então respondeu Elifaz, o tematita:
- Porventura dará o sábio em resposta ciência de vento?
- E encher-se-á a si mesmo de vento oriental?
- Arguindo com palavras que de nada servem, e com razões, de que nada aproveita?
- Tornas vão o temor de Deus, e diminui a devoçaõ a ele devida.
- Pois a tua iniquidade ensina à tua boca, e tu escolheste a língua dos astutos.
- A tua própria boca te condena, e não eu:os teus lábios testificam contra ti.
- És tu porventura o primeiro homm que nasceu? Ou tfoste formado antes dos outeiros?
- Ou ouviste o secreto coonselho de deus e a ti só limitaste a sabedoria?
- Que sabes tu, que nós não saibamos? que entendes, que não haja em nós?
- Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai.
- Porventura fazes pouco caso das consolações de Deus, e das suaves palavras que te dirigimos nós?
- Por que te arrebata o teu coração?Por que flamejam os teus olhos,
- para voltares contra deus o teu furor, e deixares sair tais palavras da tua boca?
- Que é o homem, para que seja puro? e o que nasce de mulher, para ser justo?
- Eis que Deus, não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos,
- quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que bebe da iniquidade como a água?
Elifaz mostra o justo castigo dos perversos
- Escuta-me, mostrar-to-ei; e o que tenho visto te contarei,
- o que os sábios anunciaram, que o ouviram de seus pais, e não o ocultaram
- (Aos quais somente se dera a terra, e nenhum estranho passou por entre eles):
- Todos os dias o perverso é atormentado, no curto número de anos que se reservam para o opressor.
- O sonido dos horrores está nos seus ouvidos; na prosperidade lhe sobrevém o assolador,
- Não crê que tornará das trevas, e , sim, que o espera a espada.
- Por pão0 anda vagueando, dizendo: Onde está? Bem sabe que o dia das trevas lhe está preparado, à mão.
- Assombram-no a angústia e a tribulação; prevalecem contra ele, como o rei preparado para a peleja.
- porque estendeu a sua mão contra Deus, e desafiou o Todo-poderoso;
- arremete contra ele obstinadamente, atrás da grossura dos seus escudos,
- porquanto cobriu o rosto com a sua gordura, e criou enxúndia nas ilhargas;
- habitou em cidades assoladas, em casas em que ninguém devia morar, que estavam destinadas a se fazerem
montões de ruínas.
- Por isso não se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazebda, nem se estenderão seus bens pela terra.
- Não escapará das trevas; a chama do fogo secará os seus renovos e ao assopro da boca de Deus será arrebatado.
- Não confie, pois, na vaidade enganando-se a si mesmo, porque a vaidade será a sua recompensa.
- esta se lhe consumará antes dos seus dias, e o seu ramo não reverdecerá.
- sacudirá as suas uvas verdes, como a vide, e deixará cair a sua flor como a oliveira;
- pois a companhia dos ímpios será estéril, e o fogo consumirá as tendas de suborno.
- Concebem a malícia, e dão à luz a iniquidade, pois o seu coração só prepara enganos.
- Então respondeu Jó:
- Tenho ouvido muitas coisas como essas; todos vós sois consoladores molestos.
- Porventura não terão fim essas palavras de vento?Ou que é que te instiga para responderes assim?
- Eu também poderia falar como vós falais; se a vossa alma estivesse em lugar da minha, eu poderia
dirigir-vos um montão de palavras, e menear contra vós outros a minha cabeça;
- poderia fortalecer-vos com as minhas palavras, e a compaixão dos meus lábios abrandaria a vossa dor.
- Se eu falar, a minha dor não cessa, se me calar, qual é o meu alívio?
- Na verdade, as minhas forças estão exaustas; tu, ó deus, destruíste a minha família toda.
- Testemunha disto é que já me tornaste encarquilhado, a minha magreza já se levanta contra mim
e me acusa cara a cara.
- Na sua ira me despedaçou, e tem animosidade contra mim; contra mim rangeu os dentes e, como meu adversário,
aguça os olhos.
- Homens abrem contra mim a boca, com desprezo me esbofeteiam, e comtra mim todos se ajuntam.
- Deus me entrega ao ímpio, e nas mãos dos perversos me faz cair.
- Em paz eu vivia, porém ele me quebrantou; pegou-me pelo pescoço, e me despedaçou. Pôs-me por seu alvo:
- Cercam-me as suas flechas, atravessa-me os rins, e não me poupa; e o meu fel derrama na terra.
- Fere-me com ferimento sobre ferimento, arremete contra mim como um guerreiro.
- Cosi sobre a minha pele o cilício, e revolvi o meu orgulho no pó.
- O meu rosto está todo afogueado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte,
- embora não haja violência nas minhas mãos, e seja pura a minha oração.
- Ó terra, não cubras o meu sangue, e não haja lugar em que se oculte o meu clamor!
- Já agora sabei que a minha testemunha está no céu, e nas alturas quem advoga a minha causa.
- Os meus amigos zombam de mim, mas os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus,
- para que ele mantenha o direito do homem contra o prórpio Deus, e o do filho contra o seu próximo!
- Porque dentro em poucos anos eu seguirei o caminho de onde não tornarei./LI>
- O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim a sepultura.
- estou de fato cercado de zombadores, e os meus olhos são obrigados a lhes contemplar a provocação.
- Dá-me, pois, um penhor, sê o meu fiador para contigo mesmo; quem mais haverá que se possa comprometer comigo?
- Porque aos seus corações encobriste o entendimento, pelo que não os exaltarás.
- Se alguém oferece os seus amigos como presa, os olhos de seus filhos desfalecerão.
- Mas a mim me pôs por provérbio dos povos; tornei-me como aquele em cujo rosto se cospe.
- Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos, e já todos os meus membros são como a sombra;
- os retos pasmam disto, e o inocente se levanta contra o ímpio.
- Contudo o justo segue o seu caminho, e o puro de mãos cresce mais e mais em força.
- Mas tornai-vos todos vós, e vinde cá; porque sábio nenhum acharei entre vós.
- Os meus dias passaram, e se malograram os meus prpósitos, as aspirações do meu coração.
- Convertem-me a noite em dia, e aluz, dizem, está perto das trevas.
- Mas, se eu aguardo já a sepultura por minha casa, se nas trevas estendo a minha cama;
- se ao sepulcro eu clamo:Tu és meu pai; e aos vermes: Vós sois minha mãe e minha irmã;
- onde está, pois, a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?
- Ela descerá até às portas da morte, quando juntamente no pó teremos descanso.
- Então respondeu Bildade, o suíta:
- Até quando andarás à caça de palavras? Considera bem, e então falaremos.
- Por que somos reputados por animais, e aos teus olhos possamos por curtos de inteligência?
- Oh! tu, que te despedaças na tua ira, será a terra abandonada por tua causa? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?
- Na verdade, a luz dos perversos se apagará, e para seu fogo não resplandecerá a faísca;
- a luz se escurecerá nas suas tendas, e a sua lâmpada sobre ele se apagará;
- os seus passos fortes se estreitarão, e o seu próprio trama o derribará.
- Porque por seus próprios pés é lançado na rede, e andará na boca de forje.
- A armadilha o apanhará pelo calcanhar, e olaço o prenderá.
- A corda está-lhe escondida na terra, e a armadilha na vereda.
- Os assombros o espantarão de todos os lados, e o perseguirão a cada passo.
- A calamidade virá faminta sobre ele, e a miséria estará alerta ao seu lado,
- a qual lhe devorará os membros do corpo; serão devorados pelo primogênito da morte.
- O perverso será arrancado da sua tenda, onde está confiado, e será levado ao rei dos terrores.
- Nenhum dos seus morará na sua tenda, espalhar-se-á enxofre sobre a sua habilitação.
- Por baixo secarão as suas raízes, e murcharão por cima os seus ramos.
- A sua memória desaparecerá da terra, e pelas praças não terá nome.
- Da luz o lançarão nas trevas, e o afugentarão do mundo.
- Não terá filho nem posteridade entre o seu povo, nem sobrevivente algum ficará nas suas moradas.
- Do seu dia se espantarão os do ocidente, e os do oriente serão tomados de horror.
- Tais são, na verdade, as moradas, as moradas do perverso, e este é o paradeiro do que não conhece Deus.
- Então respondeu Jó:
- Até quando afligireis a minha alma; e me quebrantareis com palavras?
- Já dez vezes me vituperastes, e não vos envergonhais de injuriar-me.
- Embora haja eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro.
- Se quereis engrandecer-vos contra mim, e me arguis pelo meu opróbrio,
- sabei agora que Deus é que me oprimiu e com a sua rede me cercou.
- Eis que clamo: Violência!mas não sou ouvido; grito: Socorro! porém não há justiça.
- O meu caminho ele fechou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas.
- Da minha honra me despojou; e tirou-me da cabeça a coroa.
- Arruinou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou-me a esperança, como a uma árvore.
- Inflamou contra mim a sua ira, e me tem na conta de seu adversário.
- JJuntas vieram as suas tropas, prepararam contra mim o seu caminho, e se acamparam ao redor da minha tenda.
- Pôs longe de mim a meus irmãos, e os que me conhecem, como estranhos se apartaram de mim.
- Os meus parentes me desampararam, eos meus conhecidos se esqueceram de mim, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.
- Os que se abrigaram na minha casa e as minhas servas me têm por estranho, e vim a ser estrangeiro aos seus olhos.
- Chamo o meu criado, e ele não me responde; tenho de suplicar-lhe, eu mesmo.
- O meu hálito é intolerável à minha mulher, e pelo mau cheiro sou repugnante aos filhos de minha mãe.
- Até as crianças me desprezam, e, querendo eu levantar-me, zombam de mim.
- Todos os meus amigos íntimos me abominam e até os que eu amava se tornaram contra mim.
- Os meus ossos se apegam à minha pele e à minha carne, e salvei-me só com a pele dos meus dentes.
Por que me perseguis como deus me persegue, e não cessais de devorar a minha carne?
- Quem me dera fossem agora escritas as minhas palavras! Quem me dera fossem gravadas em livro!
- Que, com pena de ferro, e com chembo, para sempre fossem esculpidas na rocha!
- Porque eu sei que o meu redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra.
- Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus.
- Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro
em mim.
- Se disserdes: Como o perseguiremos? e: A causa deste mal se acha nele.
- temei, pois, a espada, porque tais acusações merecem o seu furor, para saberdes que há um juízo.
- Então respondeu Zofar, o naamatita:
- Visto que os meus pensamentos me impõem resposta, eu me apresso.
- Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, mas o meu espírito me obriga a responder segundo o meu entendimento.
- Porventura não sabes tu que desde todos os tempos, desde que o homem foi posto sobre a terra,
- o júbilo dos perversos é breve, e a alegria dos ímpios momentânea?
- Ainda que a sua presunção remonte aos céus, e a sua cabeça atinja as nuvens,
- como o seu próprio esterco apodrecerá para sempre; e os que o conheceram dirão:Onde está?
- Voará como um sonho, e não será achado, será afungentado como uma visão da noite.
- Os olhos que o viram jamais o verão, e o seu lugar não o verá outra vez.
- Os seus filhos procurarão aplacar aos pobres, e as suas mãos lhes restaurarão os seus bens.
- Ainda que os seus ossos estejam cheios do vigor da sua juventude, esse vigor se deitará com ele no pó.
- Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da língua,
- e o saboreie, e o não deixe, antes o retenha no seu paladar,
- contudo a sua comida se transformará nas suas entranhas; fel de áspides será no seu interior.
- Engoliu riquezas, mas vomitá-las-á; do seu ventre Deus as lançará.
- veneno de áspides sorveu; língua de víbora o matará.
- Não se deliciará com a vista dos ribeiros, e dos rios transbordantes de mel e de leite.
- devilverá o fruto do seu trabalho e não o engolirá; do lucro de sua barganha não tirará prazer nenhum.
- Oprimiu e desamparou os pobres, roubou casas que não edificou.
- Por não haver limites à sua cobiça, não chegará a salvar as cousas por ele desejadas.
- Nada escapou à sua cobiça insaciável, pelo que a sua prosperidade não durará.
- Na plenitude da sua abastança, ver-se-á angustiado; toda a força da miséria virá sobre ele.
- Para encher a sua barriga deus mandará sobre ele o furor da sua ira, que, por alimento, mandará chover sobre ele.
- Se fugir das armas de ferro, o arco de bronze o transpassará.
- Ele arranca das suas costas a flecha, e esta vem resplandecente do seu fel; e haverá assombro sobre ele.
- Todas as calamidades serão reservadas contra os seus tesouros; fogo não assoprado o consumirá, fogo que se apascentará do que o
ficar na sua tenda.
- Os céus lhe manifestarão a sua iniquidade; e a terra se levantará contra ele.
- As riquezas de sua casa serão transportadas; como água serão derramadas no dia da ira de Deus.
- Tal é, da parte de Deus, a sorte do homem perverso, tal a herança decretada por Deus.
- Respondeu, porém, Jó:
- ouvi atentamente as minhas razões, e já isso me será a vossa consolação.
- Tolerai-me, e eu falarei; e , havendo eu falado, podereis zombar.
- Acaso é do homem que eu me queixo? Não tenho motivo de me impacientar?
- Olhai para mim, e pasmai; e ponde a mão sobre a boca;
- porque só de pensar nisso me perturbo, e um calafrio se apodera de toda a minha carne.
- Como é, pois, que vivem os perversoso, envelhecem, e ainda se tornam mais poderosos?
- Seus filhos se estabelecem na sua presença; e os seus descendentes ante seus olhos.
- As suas casas têm paz, sem temor, e a vara de Deus não os fustiga.
- O seu touro gera, e não falha, suas novilhas têm a cria, e não abortam.
- Deixam correr suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos saltam de alegria;
- cantam com tamboril e harpa, e alegram-se ao som da flauta.
- E são estes os que disseram a Deus; retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos.
- que é o Todo-poderoso, para que nós o sirvamos?E que nos aproveitará que lhe façamos orações?
- Vede, porém, que não provém deles a sua prosperidade, longe de mim o conselho dos perversos!
- Quantas vezes sucede que se apaga a lâmpada dos perversos? que lhes sobrevém a destruição? que
Deus na sua ira lhes reparte dores?
- Que são como a palha diante do vento, e como a pragana arrebatada pelo redemoinho?
- deus, dizei vós, guarda a iniquidade do perverso para seus filhos. Mas é a ele que deveria deus dar o pago, para que o sinta.
- Seus próprios olhos devem ver a sua ruína, e ele, beber do furor fo Todo-poderoso.
- Porque depois de morto, cortado já o número dos seus meses, que lhe interessa a ele a sua casa?
- Acaso, alguém ensinará ciência a Deus, a ele que julga os que estão nos céus?
- Um morre em pleno vigor, despreocupado e tranquilo,
- com seus baldes cheios de leite, e fresca a medula dos seus ossos.
- Ouro, ao contrário, morre na amargura do seu coração, não havendo provado o bem.
- Juntamente jazem no pó, onde os vermes os cobrem.
- Vede que conheço os vossos pensamentos, eos injustos desígnios com que me tratais.
- Porque direis: Onde está a casa do princípe, e onde a tenda em que morava o perverso?
- Porventura não tendes interrogado os que viajam? e não considerastes as suas declarações,
- que os maus são poupados no dia da calamidade, são socorridos no dia do furor?
- Quem lhe lançará em rosto o seu proceder? Quem lhe dará o pago do que faz?
- Finalmente é levado à sepultura, e sobre o seu túmulo se faz vigilância.
- Os torrões do vale lhe são leves, todos os homens o seguem, assim como não têm número os que foram adiante dele.
- Como, pois, me consolais em vão?Das vossas respostas só resta falsidade.
- Então respondeu Elifaz, o temanita:
- Porventura será o homem de algum proveito a Deus? Antes o sábio é só útil a si mesmo.
- ou tem o Todo-poderoso interesse em que sejas justo, ou algum lucro em que faças perfeitos os teus caminhos?
- Ou te repreende pelo teu temor de Deus, ou entra contra ti em juízo?
- Porventura não é grande a tua malícia, e sem termo as tuas iniquidades?
- Porque sem causa tomaste penhores a teu irmão, e aos seminus despojaste das suas roupas.
- Não deste água a beber ao cansado, e ao faminto retiveste o pão.
- Ao braço forte pertencia a terra, e só os homens favorecidos habitavam nela.
- As viúvas despediste de mãos vazias, e os braços dos órfãos foram quebrados.
- Por isso estás cercado de laços, e repentino pavor te conturba,
- ou trevas em que nada vês; e águas transbordantes te cobrem.
- Porventura não está Deus nas alturas do céu? Olha para as estrelas mais altas. que altura!
- E dizes:Que sabe Deus? Acaso poderá ele julgar através de densa escuridão?
- Grossas nuvens o encobrem, de modo que não pode ver: ele passeia pela abóbada do céu.
- Queres seguir a rota antiga, que os homens iníquos pisaram?
- estes foram arrebatados antes de tempo:o seu fundamento uma torrente o arrasta.
- Diziam ao senhor:Retira-te de nós.E: Que pode fazer-nos o Todo-poderoso?
- Contudo ele enchera de bens as suas casas.
- Longe de mim o conselho dos perversos!
- Os justos o vêem, e se alegram, e o inocente escarnece deles,
- dizendo:porquanto o nosso adversário foi destruido, e o fogo consumiu o resto deles.
- Reconcilia-te, pois, com ele, e tem paz, e assim te sobrevirá o bem.
- Aceita, peço-te, a instrução que profere, e põe as suas palavras no teu coração.
- se te converteres ao Todo-poderoso, serás restabelecido: se afastares a injustiça da tua tenda,
- e deitares ao pó o teu ouro, e o ouro de Ofir entre pedras dos ribeiros,
- então o Todo-poderoso será o teu ouro, e a tua prata escolhida.
- Deleitar-te-ás, pois, no Todo-poderoso, e levantarás o teu rosto para Deus.
- Orarás a ele, e ele te ouvirá; e pagarás os teus votos.
- Se projetas alguma cousa, ela te sairá bem, e aluz brilhará em teus caminhos.
- Se estes descem, então dirás: Para cima! E Deus salvará o humilde;
- e livrará até ao que não é inocenet; sim, será libertado, graças à pureza de tuas mãos
- Respondeu, porém, Jó:
- Ainda hoje a minha queixa é de um revoltado, apesar de a minha mão reprimir o meu gemido.
- Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! então me chegaria ao seu tribunal
- Exporia ante ele a minha causa, encheria a minha boca de argumentos.
- Saberia as palavras que ele me respondesse, e entenderia o que me dissesse.
- Acaso segundo a grandeza de seu poder contenderá comigo? Não; antes me atenderia.
- Ali o homem reto pleitearia com ele, e eu me livraria para sempre do meu juiz.
- Eis que se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo.
- Se opera à esquerda, não o vejo; esconde-se à direita, não o vejo; e não o diviso.
- Mas ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia eu como o ouro.
- Os meus pés seguiram as suas pisadas; guardei o seu caminho, e não me desviei dele.
- Do mandamento de seus lábios nunca me apartei, escondi no meu íntimo as palavras da sua boca.
- Mas, se ele resolveu alguma cousa, quem o pode dissuadir? O que ele deseja, isso fará.
- Pois ele cumprirá o que está ordenado, a meu respeito, e muitas cousas como estas ainda tem consigo.
- Por isso me perturbo perante ele; e quando o considero, tem-me dele.
- Deus é quem me fez desmaiar o coração, e o Todo-poderoso quem me perturbou,
- porque não estou desfalecido por causa das trevas, nem porque a escuridão cobre o meu rosto.
- Por que o todo-poderoso não designa tempos de julgamentos?E por que os que o conhecem não vêem tais dias?
- Há os que removem os limites, roubam os rebanhos e os apascentam.
- Levam do órfão o jumento, da viúva tomam-lhe o boi.
- Desviam do caminho aos necessitados, e os pobres da terra todos têm de esconder-se.
- Como asnos monteses no deserto saem estes para o seu mister, à procura de presa no campo aberto, como pão
para eles e seus filhos.
- No campo segam o pasto do perverso, e lhe rabisacam a vinha.
- Passam a noite nus por falta de roupa, e não têm cobertas contra o frio.
- Pelas chuvas das montanhas são molhados, e, não tendo refúgio, abraçam-se com as rochas.
- Orfãozinhos são arrancados ao peito, e dos pobres se toma penhor;
- de modo que estes andam nus, sem roupa, e, famintos, arrastam os molhos.
- Entre os muros desses perversos espremem o azeite, pisam-lhes o lagar, contudo padecem sede.
- desde as cidades gemem os homens, e a alma dos feridos clama; e contudo Deus não tem isso por anormal.
- Os perversos são inimigos da luz, não conhecem os seus caminhos, nem permanecem nas suas veredas.
- De madrugada se levanta o homicida, mata ao pobre e ao necessitado, e de noite se torna ladrão.
- Aguardam o crespúsculo os olhos do adúltero; este diz consigo: ninguém me reconhecerá; e cobre o rosto.
- Nas trevas minam as casas, de dia se conservam encerrados, nada querem com a luz.
- Pois a manhã para todos eles é como sombra de morte; mas os terrores da noite lhes são familiares.
- Vós dizeis: Os perversos são levados rapidamente na superfície das águas; maldita é a porção dos tais na terra; já não andam
pelo caminho das vinhas.
- A secura e o calor desfazem as águas da neve; assim faz a sepultura aos que pecaram.
- A mãe se esquecerá dele, os vermes o comerão gostosamente; nunca mais haverá lembrança dele;
como árvore será quebrado o injusto,
- aquele que devora o estéril que não tem filhos, e não faz o bem à viúva.
- Não! pelo contrário! Deus por sua força prolonga os dias dos valentes; vêem-se eles de pé quando desesperavam da vida.
- Ele lhes dá descanso, e nisso se estribam; os olhos de deus estão nos caminhos deles.
- São exaltados por breve tempo; depois passam, colhidos como todos os mais; são cortados como as pontas
das espigas.
- se não é assim, quem me desmentirá, e anulará as minhas razões?
- Então respondeu Bildade, o suíta:
- A Deus pertence o domínio e o poder, ele faz reinar a paz nas alturas celestes.
- Acaso têm número os seus exércitos?E sobre quem não se levanta a sua luz?
- Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?
- Eis que até a lua não tem brilho, e as estrelas não são puras aos olhos dele.
- Quanto menos o homem, que ´gusano, e o filho do homem, que é verme!
- Jó, porém, respondeu:
- Como sabes ajudar ao que não tem força! e prestar socorro ao braço que não tem vigor!
- Como sabes aconselhar ao que não tem sabedoria! e revelar plenitude de verdadeiro conhecimento!
- Com a ajuda de quem proferes tais palavras? E de quem é o espírito que fala em ti? E de quem é o espírito que
fala em ti?
- As almas dos mortos tremem debaixo das águas com seus habitantes.
- O além está desnudo perante ele, e não há coberta para o abismo.
- Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a terra sobre o nada.
- Prende as águas em densas nuvens, e as nuvens não se rasgam debaixo delas.
- Encobre a face do seu trono, e sobre ele estende a sua nuvem.
- Traçou um círculo à superfície das águas até aos confins da luz e das trevas.
- As colunas do céu tremem, e se espantam da sua ameaça.
- Com a sua força fende o mar, e com o seu entendimento abate o adversário.
- Pelo seu sopro aclara os céus, a sua mão fere o dragão veloz.
- Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos! Que leve sussuro temos ouvido dele! Mas o trovão do seu poder,
quem o entenderá?
- Prosseguindo Jó em seu discurso, disse:
- Tão certo como vive o senhor, que me tirou o direito, e o Todo-poderoso, que amargurou a minha alma,
- enquanto em mim estiver a minha vida, e o sopro de Deus nos meus narizes,
- nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano.
- Longe de mim que eu vos dê razão, até que eu expire, nunca afastarei de mim a minha integridade.
- A minha justiça me apegarei e não a largarei; não me reprova a minha consciência por qualquer dia da minha vida.
- Seja como o perverso o meu inimigo, e o que se levantar contra mim como o injusto.
- Porque qual será a esperança do ímpio, quando lhe for cortada a vida, quando deus lhe arrancar a alma?
- Acaso ouvirá deus o seu clamor, em lhe sobrevindo a tribulação?
- Deleitar-se-á o perverso no Todo-poderoso, e invocará a Deus em todo o tempo?
- Ensinar-vos-ei o que encerra a mão de Deus, e não vos ocultarei o que está com o Todo-poderoso.
- Eis que todos vós já vistes isso; por que, pois, alimentais vãs noções?
- Eis qual será da parte de Deus a porção do perverso, e aherança, que os opressores receberão do Todo-poderoso:
- Se os seus filhos se multiplicarem, será para a espada, e a sua prole não se fartará de pão.
- Os que ficarem dela, a peste os enterrará, e as suas viúvas não chorarão.
- Se o perverso amontoar prata como pó, e acumular vestes como barro,
- ele os acumulará, mas o justo é que os vestirá, e o inocente repartirá a prata.
- Ele edifica a sua casa como a da traça, e como a choça que o vigia constrói.
- Rico se deita, com a sua riqueza, abre os seus olhos, e já não a vê.
- Pavores se apoderam dele como inundação, de noite a tempestade o arrebata.
- O vento oriental o leva, e ele se vai; varre-o com ímpeto do seu lugar.
- Deus lança isto sobre ele, e não o poupa, a ele que procura fugir precipitadamente da sua mão;
- à sua queda lhe batem palmas, à saída o apupam com assobios.
- Na verdade, a prata tem suas minas, e o ouro, que se refina, os seu lugar.
- O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre.
- Os homens põem termo à escuridão, a até aos últimos confins procuram as pedras ocultas nas trevas
e na densa escuridade.
- Abrem entrada para minas longe da habitação dos homens, esquecidos dos transeuntes; e, oscilam de um
lado para outro.
- Da terra procede o pão, mas em baixo é resilvida como por fogo.
- Nas suas pedras se encontra safira, e há pó que contém ouro.
- essa vereda, a ave de rapina a ignora, e jamais a viram os olhos do falcão.
- Nunca a pisaram feras majestosas, nem o leãozinho passou por ela.
- Estende p homem a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes.
- Abre canais nas pedras, eos seus olhos vêem tudo o que há de mais precioso.
- Tapa os veios de água e nem uma gota sai deles, e traz à luz o que estava escondido.
A verdadeira sabedoria é dom de Deus
- Mas onde se achará a sabedoria? e onde está o lugar do entendimento?
- O homem não conhece o valor dela, nem se acha ela na terra dos viventes.
- O abismo diz: Ela não está em mim; e o mar diz: Não está comigo.
- Não se dá por ela ouro fino, nem se pesa prata em câmbio dela.
- O seu valor não se pode avaliar pelo ouro de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.
- O ouro não se iguala a ela, nem o cristal; ela não se trocará por jóia de ouro fino;
- ela faz esquecer o coral e o cristal; a aquisição da sabedoria é melhor que a das pérolas.
- Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode avaliar por ouro puro.
- Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento?
- está encoberta aos olhos de todo vivenete, e oculta às aves do céu.
- O abismo e a morte dizem: ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.
- Deus lhe entende o caminho, e ele é quem sabe o seu lugar.
- porque ele perscuta até as extremidades da terra, vê tudo o que há debaixo dos céus.
- Quando regulou o peso do vento, e fixou a medida das águas;
- quando determinou leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões;
- então viu ele a sabedoria e a manifestou; estabeleceu-a, e também a esquadrinhou.
- E disse ao homem: eis que o temor do senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o
enetndimento.
- Prosseguiu Jó no seu discurso, e disse:
- Ah! quem me dera ser como fui nos meses passados, como nos dias em que deus me guardava!
- Quando fazia resplandecer a sua lâmpada sobre a minha cabeça, quando eu, guiado por sua luz,
caminhava pelas trevas;
- como fui nos dias do meu vigor, quando a amizade de deus estava sobre a minha tenda;
- quando o todo-poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim;
- quando eu lavava os meus pés em leite, e da rocha me corriam ribeiros de azeite!
- Quando eu saia para a porta da cidade, e na praça me era dado sentar-me,
- os moços me via, e se retiravam; os idosos se levantavam e se punham em pé;
- os princípes reprimiam as suas palavras, e punham a mão sobre a boca;
- a voz dos nobres emudecia, e a sua língua se apegava ao paladar.
- ouvindo-me alhum ouvido, esse me chamava feliz; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim;
- porque eu livrava os pobres que clamavam, e também o órfão que não tinha quem o socorrese.
- A bênção do que estava a perecer vinha sobre mim, e eu fazia rejubilar-se o coração da viúva.
- Eu me cobria de justiça, e esta me servia de veste; como manto e turbante era a minha equidade.
- Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo.
- Dos necessitados era pai, e até as causas dos desconhecidos eu examinava.
- Eu quebrava os queixos do iníquo, e dos seus dentes lhe fazia eu cair a vítima.
- Eu dizia: No meu ninho expirarei, multiplicarei os meus dias como a areia.
- A minha raiz se estenderá até às águas, e orvalho ficará durante a noite sobre os meus ramos;
- a minha honra se renovará na minha mão.
- Os que me ouviam esperavam o meu conselho e guardavam silêncio para ouví-lo.
- Havendo eu falado não replicavam; as minhas palavras caiam sobre eles como orvalho.
- esperavam-me como à chuva de primavera.
- Sorria-me para eles quando não tinham confiança; e a luz do meu rosto não desprezavam.
- Eu lhes escolhia o caminho, assentava-me como chefe, e habitava como rei entre as suas tropas,
como quem consola os que pranteiam.
- Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr
ao lado doa cães do meu rebanho.
- de que também me serviria a força das suas mãos? homens cujo vigor já pereceu.
- De míngua e fome se debilitaram; roem os lugares secos, desde muito em ruínas e desolados.
- Apanham malvas e folhas dos arbustos, e se sustentam de raízes de zimbro.
- S=E3o expulsos do meio dos homens, que gritam atr=E1s deles, como =
atr=E1s de um=20
ladr=E3o.
- T=EAm que habitar nos desfiladeiros sombrios, nas cavernas da =
terra e dos=20
penhascos.
- Bramam entre os arbustos, ajuntam-se debaixo das urtigas. =
- S=E3o filhos de insensatos, filhos de gente sem nome; da terra =
foram=20
enxotados.
- Mas agora vim a ser a sua can=E7=E3o, e lhes sirvo de =
prov=E9rbio.
- Eles me abominam, afastam-se de mim, e no meu rosto n=E3o se =
privam de=20
cuspir.
- Porquanto Deus desatou a minha corda e me humilhou, eles sacudiram =
de si o=20
freio perante o meu rosto.
- =EB direita levanta-se gente vil; empurram os meus p=E9s, e contra =
mim erigem=20
os seus caminhos de destrui=E7=E3o.
- Estragam a minha vereda, promovem a minha calamidade; n=E3o h=E1 =
quem os=20
detenha.
- V=EAm como por uma grande brecha, por entre as ru=EDnas se =
precipitam. =20
- Sobrevieram-me pavores; =E9 perseguida a minha honra como pelo =
vento; e como=20
nuvem passou a minha felicidade.
- E agora dentro de mim se derrama a minha alma; os dias da =
afli=E7=E3o se=20
apoderaram de mim.
- De noite me s=E3o traspassados os ossos, e o mal que me corr=F3i =
n=E3o=20
descansa.
- Pela viol=EAncia do mal est=E1 desfigurada a minha veste; como a =
gola da minha=20
t=FAnica, me aperta.
- Ele me lan=E7ou na lama, e fiquei semelhante ao p=F3 e =E0 =
cinza.
- Clamo a ti, e n=E3o me respondes; ponho-me em p=E9, e n=E3o =
atentas para=20
mim.
- Tornas-te cruel para comigo; com a for=E7a da tua m=E3o me =
persegues. =20
- Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e =
dissolves-me na=20
tempestade.
- Pois eu sei que me levar=E1s =E0 morte, e =E0 casa do ajuntamento =
destinada a=20
todos os viventes.
- Contudo n=E3o estende a m=E3o quem est=E1 a cair? ou n=E3o clama =
por socorro na=20
sua calamidade?
- N=E3o chorava eu sobre aquele que estava aflito? ou n=E3o se =
angustiava a=20
minha alma pelo necessitado?
- Todavia aguardando eu o bem, eis que me veio o mal, e esperando eu =
a luz,=20
veio a escurid=E3o.
- As minhas entranhas fervem e n=E3o descansam; os dias da =
afli=E7=E3o me=20
surpreenderam.
- Denegrido ando, mas n=E3o do sol; levanto-me na congrega=E7=E3o, e =
clamo por=20
socorro.
- Tornei-me irm=E3o dos chacais, e companheiro dos avestruzes. =
- A minha pele enegrece e se me cai, e os meus ossos est=E3o =
queimados do=20
calor.
- Pelo que se tornou em pranto a minha harpa, e a minha flauta em =
voz dos=20
que choram.
- Fiz pacto com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa =
virgem? =20
- Pois que por=E7=E3o teria eu de Deus l=E1 de cima, e que heran=E7a =
do=20
Todo-Poderoso l=E1 do alto?
- N=E3o =E9 a destrui=E7=E3o para o perverso, e o desastre para os =
obradores da=20
iniq=FCidade?
- N=E3o v=EA ele os meus caminhos, e n=E3o conta todos os meus =
passos? =20
- Se eu tenho andado com falsidade, e se o meu p=E9 se tem apressado =
ap=F3s o=20
engano
- (pese-me Deus em balan=E7as fi=E9is, e conhe=E7a a minha =
integridade); =20
- se os meus passos se t=EAm desviado do caminho, e se o meu =
cora=E7ao tem=20
seguido os meus olhos, e se qualquer mancha se tem pegado =E0s minhas=20
m=E3os;
- ent=E3o semeie eu e outro coma, e seja arrancado o produto do meu=20
campo.
- Se o meu cora=E7=E3o se deixou seduzir por causa duma mulher, ou =
se eu tenho=20
armado trai=E7=E3o =E0 porta do meu pr=F3ximo,
- ent=E3o moa minha mulher para outro, e outros se encurvem sobre =
ela. =20
- Pois isso seria um crime infame; sim, isso seria uma iniq=FCidade =
para ser=20
punida pelos ju=EDzes;
- porque seria fogo que consome at=E9 Abadom, e desarraigaria toda a =
minha=20
renda.
- Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles =
pleitearam comigo,
- ent=E3o que faria eu quando Deus se levantasse? E quando ele me =
viesse=20
inquirir, que lhe responderia?
- Aquele que me formou no ventre n=E3o o fez tamb=E9m a meu servo? E =
n=E3o foi um=20
que nos plasmou na madre?
- Se tenho negado aos pobres o que desejavam, ou feito desfalecer os =
olhos=20
da vi=FAva,
- ou se tenho comido sozinho o meu bocado, e n=E3o tem comido dele o =
=F3rf=E3o=20
tamb=E9m
- (pois desde a minha mocidade o =F3rf=E3o cresceu comigo como com =
seu pai, e a=20
vi=FAva, tenho-a guiado desde o ventre de minha m=E3e);
- se tenho visto algu=E9m perecer por falta de roupa, ou o =
necessitado n=E3o ter=20
com que se cobrir;
- se os seus lombos n=E3o me aben=E7oaram, se ele n=E3o se aquentava =
com os velos=20
dos meus cordeiros;
- se levantei a minha m=E3o contra o =F3rfao, porque na porta via a =
minha=20
ajuda;
- ent=E3o caia do ombro a minha esp=E1dua, e separe-se o meu bra=E7o =
da sua=20
juntura.
- Pois a calamidade vinda de Deus seria para mim um horror, e eu =
n=E3o poderia=20
suportar a sua majestade.
- Se do ouro fiz a minha esperan=E7a, ou disse ao ouro fino: Tu =E9s =
a minha=20
confian=E7a;
- se me regozijei por ser grande a minha riqueza, e por ter a minha =
m=E3o=20
alcan=E7a o muito;
- se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, quando =
ela=20
caminhava em esplendor,
- e o meu cora=E7=E3o se deixou enganar em oculto, e a minha boca =
beijou a minha=20
m=E3o;
- isso tamb=E9m seria uma iniq=FCidade para ser punida pelos =
ju=EDzes; pois assim=20
teria negado a Deus que est=E1 l=E1 em cima.
- Se me regozijei com a ru=EDna do que me tem =F3dio, e se exultei =
quando o mal=20
lhe sobreveio
- (mas eu n=E3o deixei pecar a minha boca, pedindo com =
impreca=E7=E3o a sua=20
morte);
- se as pessoas da minha tenda n=E3o disseram: Quem h=E1 que n=E3o =
se tenha=20
saciado com carne provida por ele?
- O estrangeiro n=E3o passava a noite na rua; mas eu abria as minhas =
portas ao=20
viandante;
- se, como Ad=E3o, encobri as minhas transgress=F5es, ocultando a =
minha=20
iniq=FCidade no meu seio,
- porque tinha medo da grande multid=E3o, e o desprezo das =
fam=EDlias me=20
aterrorizava, de modo que me calei, e n=E3o sa=ED da porta... =
- Ah! quem me dera um que me ouvisse! Eis a minha defesa, que me =
responda o=20
Todo-Poderoso! Oxal=E1 tivesse eu a acusa=E7=E3o escrita pelo meu =
advers=E1rio! =20
- Por certo eu a levaria sobre o ombro, sobre mim a ataria como =
coroa. =20
- Eu lhe daria conta dos meus passos; como pr=EDncipe me chegaria a =
ele =20
- Se a minha terra clamar contra mim, e se os seus sulcos juntamente =
chorarem;
- se comi os seus frutos sem dinheiro, ou se fiz que morressem os =
seus=20
donos;
- por trigo me produza cardos, e por cevada joio. Acabaram-se as =
palavras de=20
J=F3.
- E aqueles tr=EAs homens cessaram de responder a J=F3; porque era =
justo aos=20
seus pr=F3prios olhos.
- Ent=E3o se acendeu a ira de Eli=FA, filho de Baraquel, o buzita, =
da fam=EDlia de=20
R=E3o; acendeu-se a sua ira contra J=F3, porque este se justificava a =
si mesmo, e=20
n=E3o a Deus.
- Tamb=E9m contra os seus tr=EAs amigos se acendeu a sua ira, porque =
n=E3o tinham=20
achado o que responder, e contudo tinham condenado a J=F3. =
- Ora, Eli=FA havia esperado para falar a J=F3, porque eles eram =
mais idosos do=20
que ele.
- Quando, pois, Eli=FA viu que n=E3o havia resposta na boca daqueles =
tr=EAs=20
homens, acendeu-se-lhe a ira.
- Ent=E3o respondeu Eli=FA, filho de Baraquel, o buzita, dizendo: Eu =
sou de=20
pouca idade, e v=F3s sois, idosos; arreceei-me e temi de vos declarar =
a minha=20
opini=E3o.
- Dizia eu: Falem os dias, e a multid=E3o dos anos ensine a =
sabedoria. =20
- H=E1, por=E9m, um esp=EDrito no homem, e o sopro do Todo-Poderoso =
o faz=20
entendido.
- N=E3o s=E3o os velhos que s=E3o os s=E1bios, nem os anci=E3os que =
entendem o que =E9=20
reto.
- Pelo que digo: Ouvi-me, e tamb=E9m eu declararei a minha =
opini=E3o. =20
- Eis que aguardei as vossas palavras, escutei as vossas =
considera=E7=F5es,=20
enquanto busc=E1veis o que dizer.
- Eu, pois, vos prestava toda a minha aten=E7=E3o, e eis que n=E3o =
houve entre v=F3s=20
quem convencesse a J=F3, nem quem respondesse =E0s suas =
palavras;
- pelo que n=E3o digais: Achamos a sabedoria; Deus =E9 que pode =
derrub=E1-lo, e=20
n=E3o o homem.
- Ora ele n=E3o dirigiu contra mim palavra alguma, nem lhe =
responderei com as=20
vossas palavras.
- Est=E3o pasmados, n=E3o respondem mais; faltam-lhes as =
palavras.
- Hei de eu esperar, porque eles n=E3o falam, porque j=E1 pararam, e =
n=E3o=20
respondem mais?
- Eu tamb=E9m darei a minha resposta; eu tamb=E9m declararei a minha =
opini=E3o.
- Pois estou cheio de palavras; o esp=EDrito dentro de mim me=20
constrange.
- Eis que o meu peito =E9 como o mosto, sem respiradouro, como odres =
novos que=20
est=E3o para arrebentar.
- Falarei, para que ache al=EDvio; abrirei os meus l=E1bios e =
responderei: =20
- Que n=E3o fa=E7a eu acep=E7=E3o de pessoas, nem use de lisonjas =
para com o=20
homem.
- Porque n=E3o sei usar de lisonjas; do contr=E1rio, em breve me =
levaria o meu=20
Criador.
- Ouve, pois, as minhas palavras, =F3 J=F3, e d=E1 ouvidos a todas =
as minhas=20
declara=E7oes.
- Eis que j=E1 abri a minha boca; j=E1 falou a minha l=EDngua =
debaixo do meu=20
paladar.
- As minhas palavras declaram a integridade do meu cora=E7=E3o, e os =
meus l=E1bios=20
falam com sinceridade o que sabem.
- O Esp=EDrito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me d=E1 =
vida. =20
- Se podes, responde-me; p=F5e as tuas palavras em ordem diante de =
mim;=20
apresenta-te.
- Eis que diante de Deus sou o que tu =E9s; eu tamb=E9m fui formado =
do=20
barro.
- Eis que n=E3o te perturbar=E1 nenhum medo de mim, nem ser=E1 =
pesada sobre ti a=20
minha m=E3o.
- Na verdade tu falaste aos meus ouvidos, e eu ouvi a voz das tuas =
palavras.=20
Dizias:
- Limpo estou, sem transgress=E3o; puro sou, e n=E3o h=E1 em mim =
iniq=FCidade. =20
- Eis que Deus procura motivos de inimizade contra mim, e me =
considera como=20
o seu inimigo.
- P=F5e no tronco os meus p=E9s, e observa todas as minhas =
veredas.
- Eis que nisso n=E3o tens raz=E3o; eu te responderei; porque Deus e =
maior do=20
que o homem.
- Por que raz=E3o contendes com ele por n=E3o dar conta dos seus =
atos? =20
- Pois Deus fala de um modo, e ainda de outro se o homem n=E3o lhe=20
atende.
- Em sonho ou em vis=E3o de noite, quando cai sono profundo sobre os =
homens,=20
quando adormecem na cama;
- ent=E3o abre os ouvidos dos homens, e os atemoriza com =
avisos,
- para apartar o homem do seu des=EDgnio, e esconder do homem a =
soberba; =20
- para reter a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela =
espada. =20
- Tamb=E9m =E9 castigado na sua cama com dores, e com incessante =
contenda nos=20
seus ossos;
- de modo que a sua vida abomina o p=E3o, e a sua alma a comida=20
apetec=EDvel.
- Consome-se a sua carne, de maneira que desaparece, e os seus =
ossos, que=20
n=E3o se viam, agora aparecem.
- A sua alma se vai chegando =E0 cova, e a sua vida aos que trazem a =
morte.
- Se com ele, pois, houver um anjo, um int=E9rprete, um entre mil, =
para=20
declarar ao homem o que lhe =E9 justo,
- ent=E3o ter=E1 compaix=E3o dele, e lhe dir=E1: Livra-o, para que =
n=E3o des=E7a =E0 cova;=20
j=E1 achei resgate.
- Sua carne se reverdecer=E1 mais do que na sua inf=E2ncia; e ele =
tornar=E1 aos=20
dias da sua juventude.
- Deveras orar=E1 a Deus, que lhe ser=E1 prop=EDcio, e o far=E1 ver =
a sua face com=20
j=FAbilo, e restituir=E1 ao homem a sua justi=E7a.
- Cantar=E1 diante dos homens, e dir=E1: Pequei, e perverti o =
direito, o que de=20
nada me aproveitou.
- Mas Deus livrou a minha alma de ir para a cova, e a minha vida =
ver=E1 a=20
luz.
- Eis que tudo isto Deus faz duas e tr=EAs vezes para com o =
homem, =20
- para reconduzir a sua alma da cova, a fim de que seja iluminado =
com a luz=20
dos viventes.
- Escuta, pois, =F3 J=F3, ouve-me; cala-te, e eu falarei. =
- Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo=20
justificar-te.
- Se n=E3o, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a =
sabedoria. =20
- Prosseguiu Eli=FA, dizendo:
- Ouvi, v=F3s, s=E1bios, as minhas palavras; e v=F3s, entendidos, =
inclinai os=20
ouvidos para mim.
- Pois o ouvido prova as palavras, como o paladar experimenta a=20
comida.
- O que =E9 direito escolhamos para n=F3s; e conhe=E7amos entre =
n=F3s o que =E9=20
bom.
- Pois J=F3 disse: Sou justo, e Deus tirou-me o direito. =
- Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida =
=E9=20
incur=E1vel, embora eu esteja sem transgress=E3o.
- Que homem h=E1 como J=F3, que bebe o esc=E1rnio como =E1gua, =
- que anda na companhia dos malfeitores, e caminha com homens =
=EDmpios? =20
- Porque disse: De nada aproveita ao homem o comprazer-se em =
Deus. =20
- Pelo que ouvi-me, v=F3s homens de entendimento: longe de Deus o =
praticar a=20
maldade, e do Todo-Poderoso o cometer a iniq=FCidade!
- Pois, segundo a obra do homem, ele lhe retribui, e faz a cada um =
segundo o=20
seu caminho.
- Na verdade, Deus n=E3o proceder=E1 impiamente, nem o Todo-Poderoso =
perverter=E1=20
o ju=EDzo.
- Quem lhe entregou o governo da terra? E quem lhe deu autoridade =
sobre o=20
mundo todo?
- Se ele retirasse para si o seu esp=EDrito, e recolhesse para si o =
seu=20
f=F4lego,
- toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o =
p=F3. =20
- Se, pois, h=E1 em ti entendimento, ouve isto, inclina os ouvidos =
=E0s palavras=20
que profiro.
- Acaso quem odeia o direito governar=E1? Querer=E1s tu condenar =
aquele que =E9=20
justo e poderoso?
- aquele que diz a um rei: =F3 vil? e aos pr=EDncipes: =F3 =
=EDmpios?
- que n=E3o faz acep=E7=E3o das pessoas de pr=EDncipes, nem estima o =
rico mais do=20
que o pobre; porque todos s=E3o obra de suas m=E3os?
- Eles num momento morrem; e =E0 meia-noite os povos s=E3o =
perturbados, e=20
passam, e os poderosos s=E3o levados n=E3o por m=E3o humana. =
- Porque os seus olhos est=E3o sobre os caminhos de cada um, e ele =
v=EA todos os=20
seus passos.
- N=E3o h=E1 escurid=E3o nem densas trevas, onde se escondam os =
obradores da=20
iniq=FCidade.
- Porque Deus n=E3o precisa observar por muito tempo o homem para =
que este=20
compare=E7a perante ele em ju=EDzo.
- Ele quebranta os fortes, sem inquiri=E7ao, e p=F5e outros em lugar =
deles.
- Pois conhecendo ele as suas obras, de noite os transtorna, e ficam =
esmagados.
- Ele os fere como =EDmpios, =E0 vista dos circunstantes; =
- porquanto se desviaram dele, e n=E3o quiseram compreender nenhum =
de seus=20
caminhos,
- de sorte que o clamor do pobre subisse at=E9 ele, e que ouvisse o =
clamor dos=20
aflitos.
- Se ele d=E1 tranq=FCilidade, quem ent=E3o o condenar=E1? Se ele =
encobrir o rosto,=20
quem ent=E3o o poder=E1 contemplar, quer seja uma na=E7=E3o, quer seja =
um homem=20
s=F3?
- para que o =EDmpio n=E3o reine, e n=E3o haja quem iluda o =
povo.
- Pois, quem jamais disse a Deus: Sofri, ainda que n=E3o =
pequei;
- o que n=E3o vejo, ensina-me tu; se fiz alguma maldade, nunca mais =
a hei de=20
fazer?
- Ser=E1 a sua recompensa como queres, para que a recuses? Pois tu =
tens que=20
fazer a escolha, e n=E3o eu; portanto fala o que sabes.
- Os homens de entendimento dir-me-=E3o, e o var=E3o s=E1bio, que me =
ouvir: =20
- J=F3 fala sem conhecimento, e =E0s suas palavras falta =
sabedoria.
- Oxal=E1 que J=F3 fosse provado at=E9 o fim; porque responde como =
os=20
in=EDquos.
- Porque ao seu pecado acrescenta a rebeli=E3o; entre n=F3s bate as =
palmas, e=20
multiplica contra Deus as suas palavras.
- Disse mais Eli=FA:
- Tens por direito dizeres: Maior =E9 a minha justi=E7a do que a de =
Deus? =20
- Porque dizes: Que me aproveita? Que proveito tenho mais do que se =
eu=20
tivera pecado?
- Eu te darei respostas, a ti e aos teus amigos contigo. =
- Atenta para os c=E9us, e v=EA; e contempla o firmamento que =E9 =
mais alto do que=20
tu.
- Se pecares, que efetuar=E1s contra ele? Se as tuas transgress=F5es =
se=20
multiplicarem, que lhe far=E1s com isso?
- Se fores justo, que lhe dar=E1s, ou que receber=E1 ele da tua =
m=E3o? =20
- A tua impiedade poderia fazer mal a outro tal como tu; e a tua =
justi=E7a=20
poderia aproveitar a um filho do homem.
- Por causa da multid=E3o das opress=F5es os homens clamam; clamam =
por socorro=20
por causa do bra=E7o dos poderosos.
- Mas ningu=E9m diz: Onde est=E1 Deus meu Criador, que inspira =
can=E7=F5es durante a=20
noite;
- que nos ensina mais do que aos animais da terra, e nos faz mais =
s=E1bios do=20
que as aves do c=E9u?
- Ali clamam, por=E9m ele n=E3o responde, por causa da arrog=E2ncia =
os maus. =20
- Certo =E9 que Deus n=E3o ouve o grito da vaidade, nem para ela =
atentar=E1 o=20
Todo-Poderoso.
- Quanto menos quando tu dizes que n=E3o o v=EAs. A causa est=E1 =
perante ele; por=20
isso espera nele.
- Mas agora, porque a sua ira ainda n=E3o se exerce, nem grandemente =
considera=20
ele a arrog=E2ncia,
- por isso abre J=F3 em v=E3o a sua boca, e sem conhecimento =
multiplica=20
palavras.
- Prosseguiu ainda Eli=FA e disse:
- Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda h=E1 raz=F5es a =
favor de=20
Deus.
- De longe trarei o meu conhecimento, e ao meu criador atribuirei a=20
justi=E7a.
- Pois, na verdade, as minhas palavras n=E3o ser=E3o falsas; contigo =
est=E1 um que=20
tem perfeito conhecimento.
- Eis que Deus =E9 mui poderoso, contudo a ningu=E9m despre grande =
=E9 no poder de=20
entendimento.
- Ele n=E3o preserva a vida do =EDmpio, mas faz justi=E7a aos =
aflitos. =20
- Do justo n=E3o aparta os seus olhos; antes com os reis no trono os =
faz=20
sentar para sempre, e assim s=E3o exaltados.
- E se est=E3o presos em grilh=F5es, e amarrados com cordas de =
afli=E7=E3o, =20
- ent=E3o lhes faz saber a obra deles, e as suas transgress=F5es, =
porquanto se=20
t=EAm portado com soberba.
- E abre-lhes o ouvido para a instru=E7=E3o, e ordena que se =
convertam da=20
iniq=FCidade.
- Se o ouvirem, e o servirem, acabar=E3o seus dias em prosperidade, =
e os seus=20
anos em del=EDcias.
- Mas se n=E3o o ouvirem, =E0 espada ser=E3o passados, e expirar=E3o =
sem=20
conhecimento.
- Assim os =EDmpios de cora=E7=E3o amontoam, a sua ira; e quando =
Deus os p=F5e em=20
grilh=F5es, n=E3o clamam por socorro.
- Eles morrem na mocidade, e a sua vida perece entre as =
prostitutas. =20
- Ao aflito livra por meio da sua afli=E7=E3o, e por meio da =
opress=E3o lhe abre=20
os ouvidos.
- Assim tamb=E9m quer induzir-te da ang=FAstia para um lugar =
espa=E7oso, em que=20
n=E3o h=E1 aperto; e as iguarias da tua mesa ser=E3o cheias de =
gordura.
- Mas tu est=E1s cheio do ju=EDzo do =EDmpio; o ju=EDzo e a =
justi=E7a tomam conta de=20
ti.
- Cuida, pois, para que a ira n=E3o te induza a escarnecer, nem te =
desvie a=20
grandeza do resgate.
- Prevalecer=E1 o teu clamor, ou todas as for=E7as da tua fortaleza, =
para que=20
n=E3o estejas em aperto?
- N=E3o suspires pela noite, em que os povos sejam tomados do seu =
lugar. =20
- Guarda-te, e n=E3o declines para a iniq=FCidade; porquanto isso =
escolheste=20
antes que a afli=E7=E3o.
- Eis que Deus =E9 excelso em seu poder; quem =E9 ensinador como =
ele? =20
- Quem lhe prescreveu o seu caminho? Ou quem poder=E1 dizer: Tu =
praticaste a=20
injusti=E7a?
- Lembra-te de engrandecer a sua obra, de que t=EAm cantado os =
homens. =20
- Todos os homens a v=EAem; de longe a contempla o homem. =
- Eis que Deus =E9 grande, e n=F3s n=E3o o conhecemos, e o n=FAmero =
dos seus anos=20
n=E3o se pode esquadrinhar.
- Pois atrai a si as gotas de =E1gua, e do seu vapor as destila em=20
chuva,
- que as nuvens derramam e gotejam abundantemente sobre o =
homem. =20
- Poder=E1 algu=E9m entender as dilata=E7=F5es das nuvens, e os =
trov=F5es do seu=20
pavilh=E3o?
- Eis que ao redor de si estende a sua luz, e cobre o fundo do =
mar. =20
- Pois por estas coisas julga os povos e lhes d=E1 mantimento em=20
abund=E2ncia.
- Cobre as m=E3os com o rel=E2mpago, e d=E1-lhe ordem para que fira =
o alvo. =20
- O fragor da tempestade d=E1 not=EDcia dele; at=E9 o gado pressente =
a sua=20
aproxima=E7=E3o.
- Sobre isso tamb=E9m treme o meu cora=E7=E3o, e salta do seu =
lugar.
- Dai atentamente ouvidos ao estrondo da voz de Deus e ao sonido que =
sai da=20
sua boca.
- Ele o envia por debaixo de todo o c=E9u, e o seu rel=E2mpago at=E9 =
os confins da=20
terra.
- Depois do rel=E2mpago ruge uma grande voz; ele troveja com a sua =
voz=20
majestosa; e n=E3o retarda os raios, quando =E9 ouvida a sua =
voz.
- Com a sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes coisas, =
que n=F3s=20
n=E3o compreendemos.
- Pois =E0 neve diz: Cai sobre a terra; como tamb=E9m =E0s chuvas e =
aos=20
aguaceiros: Sede copiosos.
- Ele sela as m=E3os de todo homem, para que todos saibam que ele os =
fez.
- E as feras entram nos esconderijos e ficam nos seus covis. =
- Da rec=E2mara do sul sai o tuf=E3o, e do norte o frio. =
- Ao sopro de Deus forma-se o gelo, e as largas =E1guas s=E3o =
congeladas. =20
- Tamb=E9m de umidade carrega as grossas nuvens; as nuvens espalham=20
rel=E2mpagos.
- Fazem evolu=E7=F5es sob a sua dire=E7=E3o, para efetuar tudo =
quanto lhes ordena=20
sobre a superf=EDcie do mundo habit=E1vel:
- seja para disciplina, ou para a sua terra, ou para benefic=EAncia, =
que as=20
fa=E7a vir.
- A isto, J=F3, inclina os teus ouvidos; p=E1ra e considera as obras =
maravilhosas de Deus.
- Sabes tu como Deus lhes d=E1 as suas ordens, e faz resplandecer o =
rel=E2mpago=20
da sua nuvem?
- Compreendes o equil=EDbrio das nuvens, e as maravilhas daquele que =
=E9=20
perfeito nos conhecimentos;
- tu cujas vestes s=E3o quentes, quando h=E1 calma sobre a terra por =
causa do=20
vento sul?
- Acaso podes, como ele, estender o firmamento, que =E9 s=F3lido =
como um espelho=20
fundido?
- Ensina-nos o que lhe diremos; pois n=F3s nada poderemos p=F4r em =
boa ordem,=20
por causa das trevas.
- Contar-lhe-ia algu=E9m que eu quero falar. Ou desejaria um homem =
ser=20
devorado?
- E agora o homem n=E3o pode olhar para o sol, que resplandece no =
c=E9u quando o=20
vento, tendo passado, o deixa limpo.
- Do norte vem o =E1ureo esplendor; em Deus h=E1 tremenda =
majestade. =20
- Quanto ao Todo-Poderoso, n=E3o o podemos compreender; grande =E9 =
em poder e=20
justi=E7a e pleno de retid=E3o; a ningu=E9m, pois, oprimir=E1. =
- Por isso o temem os homens; ele n=E3o respeita os que se julgam=20
s=E1bios.
- Depois disso o Senhor respondeu a J=F3 dum redemoinho, =
dizendo:
- Quem =E9 este que escurece o conselho com palavras sem =
conhecimento? =20
- Agora cinge os teus lombos, como homem; porque te perguntarei, e =
tu me=20
responder=E1s.
- Onde estavas tu, quando eu lan=E7ava os fundamentos da terra? =
Faze-mo saber,=20
se tens entendimento.
- Quem lhe fixou as medidas, se =E9 que o sabes? ou quem a mediu com =
o=20
cordel?
- Sobre que foram firmadas as suas bases, ou quem lhe assentou a =
pedra de=20
esquina,
- quando juntas cantavam as estrelas da manh=E3, e todos os filhos =
de Deus=20
bradavam de j=FAbilo?
- Ou quem encerrou com portas o mar, quando este rompeu e saiu da=20
madre;
- quando eu lhe pus nuvens por vestidura, e escurid=E3o por =
faixas, =20
- e lhe tracei limites, pondo-lhe portas e ferrolhos,
- e lhe disse: At=E9 aqui vir=E1s, por=E9m n=E3o mais adiante; e =
aqui se quebrar=E3o=20
as tuas ondas orgulhosas?
- Desde que come=E7aram os teus dias, deste tu ordem =E0 madrugada, =
ou mostraste=20
=E0 alva o seu lugar,
- para que agarrasse nas extremidades da terra, e os =EDmpios fossem =
sacudidos=20
dela?
- A terra se transforma como o barro sob o selo; e todas as coisas =
se=20
assinalam como as cores dum vestido.
- E dos =EDmpios =E9 retirada a sua luz, e o bra=E7o altivo se =
quebranta. =20
- Acaso tu entraste at=E9 os mananciais do mar, ou passeaste pelos =
recessos do=20
abismo?
- Ou foram-te descobertas as portas da morte, ou viste as portas da =
sombra=20
da morte?
- Compreendeste a largura da terra? Faze-mo saber, se sabes tudo =
isso. =20
- Onde est=E1 o caminho para a morada da luz? E, quanto =E0s trevas, =
onde est=E1 o=20
seu lugar,
- para que =E0s tragas aos seus limites, e para que saibas as =
veredas para a=20
sua casa?
- De certo tu o sabes, porque j=E1 ent=E3o eras nascido, e porque =
=E9 grande o=20
n=FAmero dos teus dias!
- Acaso entraste nos tesouros da neve, e viste os tesouros da =
saraiva, =20
- que eu tenho reservado para o tempo da ang=FAstia, para o dia da =
peleja e da=20
guerra?
- Onde est=E1 o caminho para o lugar em que se reparte a luz, e se =
espalha o=20
vento oriental sobre a terra?
- Quem abriu canais para o aguaceiro, e um caminho para o =
rel=E2mpago do=20
trov=E3o;
- para fazer cair chuva numa terra, onde n=E3o h=E1 ningu=E9m, e no =
deserto, em=20
que n=E3o h=E1 gente;
- para fartar a terra deserta e assolada, e para fazer crescer a =
tenra=20
relva?
- A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as gotas do =
orvalho? =20
- Do ventre de quem saiu o gelo? E quem gerou a geada do =
c=E9u?
- Como pedra as =E1guas se endurecem, e a superf=EDcie do abismo se=20
congela.
- Podes atar as cadeias das Pl=EAiades, ou soltar os atilhos do =
Oriom? =20
- Ou fazer sair as constela=E7=F5es a seu tempo, e guiar a ursa com =
seus=20
filhos?
- Sabes tu as ordenan=E7as dos c=E9us, ou podes estabelecer o seu =
dom=EDnio sobre=20
a terra?
- Ou podes levantar a tua voz at=E9 as nuvens, para que a =
abund=E2ncia das =E1guas=20
te cubra?
- Ou ordenar=E1s aos raios de modo que saiam? Eles te dir=E3o: =
Eis-nos=20
aqui?
- Quem p=F4s sabedoria nas densas nuvens, ou quem deu entendimento =
ao=20
meteoro?
- Quem numerar=E1 as nuvens pela sabedoria? Ou os odres do c=E9u, =
quem os=20
esvaziar=E1,
- quando se funde o p=F3 em massa, e se pegam os torr=F5es uns aos =
outros? =20
- Podes ca=E7ar presa para a leoa, ou satisfazer a fome dos filhos =
dos=20
le=F5es,
- quando se agacham nos covis, e est=E3o =E0 espreita nas =
covas?
- Quem prepara ao corvo o seu alimento, quando os seus pintainhos =
clamam a=20
Deus e andam vagueando, por n=E3o terem o que comer? =
- Sabes tu o tempo do parto das cabras montesas, ou podes observar =
quando =E9=20
que parem as cor=E7as?
- Podes contar os meses que cumprem, ou sabes o tempo do seu =
parto? =20
- Encurvam-se, d=E3o =E0 luz as suas crias, lan=E7am de si a sua =
prole. =20
- Seus filhos enrijam, crescem no campo livre; saem, e n=E3o tornam =
para=20
elas:
- Quem despediu livre o jumento mont=EAs, e quem soltou as pris=F5es =
ao asno=20
veloz,
- ao qual dei o ermo por casa, e a terra salgada por morada? =
- Ele despreza o tumulto da cidade; n=E3o obedece os gritos do =
condutor. =20
- O circuito das montanhas =E9 o seu pasto, e anda buscando tudo o =
que est=E1=20
verde.
- Querer=E1 o boi selvagem servir-te? ou ficar=E1 junto =E0 tua =
manjedoura? =20
- Podes amarrar o boi selvagem ao arado com uma corda, ou =
esterroar=E1 ele=20
ap=F3s ti os vales?
- Ou confiar=E1s nele, por ser grande a sua for=E7a, ou deixar=E1s a =
seu cargo o=20
teu trabalho?
- Fiar=E1s dele que te torne o que semeaste e o recolha =E0 tua =
eira? =20
- Movem-se alegremente as asas da avestruz; mas =E9 benigno o adorno =
da sua=20
plumagem?
- Pois ela deixa os seus ovos na terra, e os aquenta no p=F3, =
- e se esquece de que algum p=E9 os pode pisar, ou de que a fera os =
pode=20
calcar.
- Endurece-se para com seus filhos, como se n=E3o fossem seus; =
embora se perca=20
o seu trabalho, ela est=E1 sem temor;
- porque Deus a privou de sabedoria, e n=E3o lhe repartiu =
entendimento. =20
- Quando ela se levanta para correr, zomba do cavalo, e do =
cavaleiro. =20
- Acaso deste for=E7a ao cavalo, ou revestiste de for=E7a o seu =
pesco=E7o? =20
- Fizeste-o pular como o gafanhoto? Terr=EDvel =E9 o fogoso respirar =
das suas=20
ventas.
- Escarva no vale, e folga na sua for=E7a, e sai ao encontro dos=20
armados.
- Ri-se do temor, e n=E3o se espanta; e n=E3o torna atr=E1s por =
causa da=20
espada.
- Sobre ele rangem a aljava, a lan=E7a cintilante e o dardo. =
- Tremendo e enfurecido devora a terra, e n=E3o se cont=E9m ao som =
da=20
trombeta.
- Toda vez que soa a trombeta, diz: Eia! E de longe cheira a guerra, =
e o=20
trov=E3o dos capit=E3es e os gritos.
- =C9 pelo teu entendimento que se eleva o gavi=E3o, e estende as =
suas asas para=20
o sul?
- Ou se remonta a =E1guia ao teu mandado, e p=F5e no alto o seu =
ninho? =20
- Mora nas penhas e ali tem a sua pousada, no cume das penhas, no =
lugar=20
seguro.
- Dali descobre a presa; seus olhos a avistam de longe.
- Seus filhos chupam o sangue; e onde h=E1 mortos, ela a=ED =
est=E1. =20
- Disse mais o Senhor a J=F3:
- Contender=E1 contra o Todo-Poderoso o censurador? Quem assim =
arg=FAi a Deus,=20
responda a estas coisas.
- Ent=E3o J=F3 respondeu ao Senhor, e disse:
- Eis que sou vil; que te responderia eu? Antes ponho a minha m=E3o =
sobre a=20
boca.
- Uma vez tenho falado, e n=E3o replicarei; ou ainda duas vezes, =
por=E9m n=E3o=20
prosseguirei.
- Ent=E3o, do meio do redemoinho, o Senhor respondeu a J=F3: =
- Cinge agora os teus lombos como homem; eu te perguntarei a ti, e =
tu me=20
responder=E1s.
- Far=E1s tu v=E3o tamb=E9m o meu ju=EDzo, ou me condenar=E1s para =
te justificares a=20
ti?
- Ou tens bra=E7o como Deus; ou podes trovejar com uma voz como a =
dele? =20
- Orna-te, pois, de excel=EAncia e dignidade, e veste-te de gl=F3ria =
e de=20
esplendor.
- Derrama as inunda=E7=F5es da tua ira, e atenta para todo soberbo, =
e=20
abate-o.
- Olha para todo soberbo, e humilha-o, e calca aos p=E9s os =EDmpios =
onde=20
est=E3o.
- Esconde-os juntamente no p=F3; ata-lhes os rostos no lugar =
escondido. =20
- Ent=E3o tamb=E9m eu de ti confessarei que a tua m=E3o direita te =
poder=E1=20
salvar.
- Contempla agora o hipop=F3tamo, que eu criei como a ti, que come a =
erva como=20
o boi.
- Eis que a sua for=E7a est=E1 nos seus lombos, e o seu poder nos =
m=FAsculos do=20
seu ventre.
- Ele enrija a sua cauda como o cedro; os nervos das suas coxas =
s=E3o=20
entretecidos.
- Os seus ossos s=E3o como tubos de bronze, as suas costelas como =
barras de=20
ferro.
- Ele =E9 obra prima dos caminhos de Deus; aquele que o fez o proveu =
da sua=20
espada.
- Em verdade os montes lhe produzem pasto, onde todos os animais do =
campo=20
folgam.
- Deita-se debaixo dos lotos, no esconderijo dos canaviais e no=20
p=E2ntano.
- Os lotos cobrem-no com sua sombra; os salgueiros do ribeiro o=20
cercam.
- Eis que se um rio trasborda, ele n=E3o treme; sente-se seguro =
ainda que o=20
Jord=E3o se levante at=E9 a sua boca.
- Poder=E1 algu=E9m apanh=E1-lo quando ele estiver de vigia, ou com =
la=E7os lhe=20
furar o nariz?
- Poder=E1s tirar com anzol o leviat=E3, ou apertar-lhe a l=EDngua =
com uma=20
corda?
- Poder=E1s meter-lhe uma corda de junco no nariz, ou com um gancho =
furar a=20
sua queixada?
- Porventura te far=E1 muitas s=FAplicas, ou brandamente te =
falar=E1?
- Far=E1 ele alian=E7a contigo, ou o tomar=E1s tu por servo para =
sempre? =20
- Brincar=E1s com ele, como se fora um p=E1ssaro, ou o prender=E1s =
para tuas=20
meninas?
- Far=E3o os s=F3cios de pesca tr=E1fico dele, ou o dividir=E3o =
entre os=20
negociantes?
- Poder=E1s encher-lhe a pele de arp=F5es, ou a cabe=E7a de =
fisgas?
- P=F5e a tua m=E3o sobre ele; lembra-te da peleja; nunca mais o =
far=E1s! =20
- Eis que =E9 v=E3 a esperan=E7a de apanh=E1-lo; pois n=E3o ser=E1 =
um homem derrubado s=F3=20
ao v=EA-lo?
- Ningu=E9m h=E1 t=E3o ousado, que se atreva a despert=E1-lo; quem, =
pois, =E9 aquele=20
que pode erguer-se diante de mim?
- Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe? =
Pois tudo=20
quanto existe debaixo de todo c=E9u =E9 meu.
- N=E3o me calarei a respeito dos seus membros, nem da sua grande =
for=E7a, nem=20
da gra=E7a da sua estrutura.
- Quem lhe pode tirar o vestido exterior? Quem lhe penetrar=E1 a =
coura=E7a=20
dupla?
- Quem jamais abriu as portas do seu rosto? Pois em roda dos seus =
dentes=20
est=E1 o terror.
- As suas fortes escamas s=E3o o seu orgulho, cada uma fechada como =
por um=20
selo apertado.
- Uma =E0 outra se chega t=E3o perto, que nem o ar passa por entre =
elas. =20
- Umas =E0s outras se ligam; tanto aderem entre si, que n=E3o se =
podem=20
separar.
- Os seus espirros fazem resplandecer a luz, e os seus olhos s=E3o =
como as=20
pestanas da alva.
- Da sua boca saem tochas; fa=EDscas de fogo saltam dela. =
- Dos seus narizes procede fuma=E7a, como de uma panela que ferve, e =
de juncos=20
que ardem.
- O seu h=E1lito faz incender os carv=F5es, e da sua boca sai uma =
chama. =20
- No seu pesco=E7o reside a for=E7a; e diante dele anda saltando o =
terror. =20
- Os tecidos da sua carne est=E3o pegados entre si; ela =E9 firme =
sobre ele, n=E3o=20
se pode mover.
- O seu cora=E7=E3o =E9 firme como uma pedra; sim, firme como a =
pedra inferior=20
dum=E1 m=F3.
- Quando ele se levanta, os valentes s=E3o atemorizados, e por causa =
da=20
consterna=E7=E3o ficam fora de si.
- Se algu=E9m o atacar com a espada, essa n=E3o poder=E1 penetrar; =
nem tampouco a=20
lan=E7a, nem o dardo, nem o arp=E3o.
- Ele considera o ferro como palha, e o bronze como pau podre. =
- A seta n=E3o o poder=E1 fazer fugir; para ele as pedras das fundas =
se tornam=20
em restolho.
- Os bast=F5es s=E3o reputados como juncos, e ele se ri do brandir =
da=20
lan=E7a.
- Debaixo do seu ventre h=E1 pontas agudas; ele se estende como um =
trilho=20
sobre o lodo.
- As profundezas faz ferver, como uma panela; torna o mar como uma =
vasilha=20
de ung=FCento.
- Ap=F3s si deixa uma vereda luminosa; parece o abismo tornado em =
brancura de=20
c=E3s.
- Na terra n=E3o h=E1 coisa que se lhe possa comparar; pois foi =
feito para estar=20
sem pavor.
- Ele v=EA tudo o que =E9 alto; =E9 rei sobre todos os filhos da =
soberba. =20
- Ent=E3o respondeu J=F3 ao Senhor:
- Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus prop=F3sitos pode =
ser=20
impedido.
- Quem =E9 este que sem conhecimento obscurece o conselho? por isso =
falei do=20
que n=E3o entendia; coisas que para mim eram demasiado maravilhosas, e =
que eu=20
n=E3o conhecia.
- Ouve, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me =
responderas. =20
- Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te v=EAem os meus=20
olhos.
- Pelo que me abomino, e me arrependo no p=F3 e na cinza. =
- Sucedeu pois que, acabando o Senhor de dizer a J=F3 aquelas =
palavras, o=20
Senhor disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti e =
contra=20
os teus dois amigos, porque n=E3o tendes falado de mim o que era reto, =
como o=20
meu servo J=F3.
- Tomai, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao meu servo =
J=F3, e=20
oferecei um holocausto por v=F3s; e o meu servo J=F3 orar=E1 por =
v=F3s; porque deveras=20
a ele aceitarei, para que eu n=E3o vos trate conforme a vossa =
estult=EDcia; porque=20
v=F3s n=E3o tendes falado de mim o que era reto, como o meu servo =
J=F3.
- Ent=E3o foram Elifaz o temanita, e Bildade o su=EDta, e Zofar o =
naamatita, e=20
fizeram como o Senhor lhes ordenara; e o Senhor aceitou a J=F3. =
- O Senhor, pois, virou o cativeiro de J=F3, quando este orava pelos =
seus=20
amigos; e o Senhor deu a J=F3 o dobro do que antes possu=EDa. =
- Ent=E3o vieram ter com ele todos os seus irm=E3os, e todas as suas =
irm=E3s, e=20
todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele p=E3o em sua =
casa;=20
condoeram-se dele, e o consolaram de todo o mal que o Senhor lhe havia =
enviado; e cada um deles lhe deu uma pe=E7a de dinheiro e um pendente =
de=20
ouro.
- E assim aben=E7oou o Senhor o =FAltimo estado de J=F3, mais do que =
o primeiro;=20
pois J=F3 chegou a ter catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil =
juntas de bois=20
e mil jumentas.
- Tamb=E9m teve sete filhos e tr=EAs filhas.
- E chamou o nome da primeira Jemima, e o nome da segunda Quezia, e =
o nome=20
da terceira Qu=E9ren-Hapuque.
- E em toda a terra n=E3o se acharam mulheres t=E3o formosas como as =
filhas de=20
J=F3; e seu pai lhes deu heran=E7a entre seus irm=E3os.
- Depois disto viveu J=F3 cento e quarenta anos, e viu seus filhos, =
e os=20
filhos de seus filhos: at=E9 a quarta gera=E7=E3o.
- Ent=E3o morreu J=F3, velho e cheio de dias.