O Livro de Jó

Lições do Sofrimento

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Origem do Livro de Jó

A autoria de Jó é incerta. Alguns eruditos atribuem o livro a Moisés. Outros atribuem a um dos antigos sábios, cujos escrito podem se encontrados em Provérbios ou Eclesiastes. Talvez o próprio Salomão tenha sido seu autor. Os procedimentos, os costumes e o estilo de vida geral do livro de Jó são do período patriarcal (cerca de 2000-1800 aC). Apesar dos estudiosos não concordarem quanto à época em que foi compilado, este texto é obviamente o registro de uma tradição oral muito antiga. Aqueles que atribuem o livro a Moisés, acham que a história surgiu lá pelo séc. XV aC. Outros acham que surgiu lá pelo séc. II aC. A maior parte dos conservadores atribuem Jó ao período salomônico, pela metade do séc. X aC.

1 A virtude e riqueza de Jó

  1. Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus,que temia a Deus e que se desviava do mal.
  2. Nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
  3. Possuia sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas, era também mui numeroso o pessoal ao seu serviço; de maneira que este homem era o maior de todos os do Oriente.
  4. Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquete,s cada um por sua vez, e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.
  5. Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos, e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente.
  6. Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o senhor, veio também Satanás entre eles.
  7. Então perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.
  8. Perguntou ainda o Senhor a Satanás: Observaste a meu servo Jó? porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.
  9. Então respondeu Satanás ao Senhor:Porventura Jó debalde teme a Deus?
  10. Acaso não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? a obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra.
  11. Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face!
  12. Disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor.

    As aflições e paciência de Jó

  13. Sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comia, e bebiam vinho na casa do irmão primogênito,
  14. que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavraram, e as jumentas pasciam junto a eles;
  15. de repente deram sobre eles os sabeus, e os levaram, e mataram aos servos ao fio da espada; só eu escapei, para trazer-te a nova.
  16. Falava este ainda quando veio outro, e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova.
  17. Falava este ainda quando veio outro, e disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, deram sobre os camelos, eos levaram, e mataram os servos ao fio da espada; só eu escapei, para trazer-te a nova.
  18. Falava este ainda quando veio outro, e disse:Fogo de deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova.
  19. Também este falava ainda quando veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo, e bebendo vinho, em casa do irmão primogênito,
  20. eis que se levantou grande vento da banda do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre eles, e morreram; só eu escapei, para trazer-te a nova.
  21. Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça, e lançou-se em terra e adorou:
  22. e disse: Nu sai do ventre de minha mãe, e nu voltarei;o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!
  23. Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.

    2

  1. Num dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também satanás entre eles apresentar-se perante ele.
  2. Então o senhor disse a satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor, e disse:De rodear a terra, e passear por ela.
  3. Perguntou o senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a deus, e que se desvia do mal. Ele conserva a sua integridade embora me incitasses contra eloe, para o consumir sem causa.
  4. Então Satanás respondeu ao Senhor: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.
  5. Estende, porém, a tua mão, toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!
  6. Disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida.
  7. Então saiu Satanás da presença do Senhor, e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça.
  8. Jó sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se.
  9. Então sua mulher lhe disse:Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.
  10. Mas ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.
  11. Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, Bildade o suíta, e Zofar o naamatita; e combinaram ir juntamente condoer-se dele, e consolá-lo.
  12. Levantando eles de longe os olhos e não o reco0nhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça.
  13. Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites: e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.

3 Jó amaldiçoa o seu nascimento

  1. Depois disto passou Jó a falar, e amaldiçoou o seu dia natalício.
  2. Disse Jó:
  3. Pereça o dia em que nasci e a noite que disse: Foi concebido um homem!
  4. Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz.
  5. Reclamem-no as trevas e a sombra de morte: habitem sobre ele nuvens; espante-o tudo o que pode enegrecer o dia!
  6. Aquela noite! dela se apoderem densas trevas; não se regozije ela entre os dias do ano, não entre na conta dos meses.
  7. Seja estéril aquela noite, e dela sejam banidos os sons de júbilo.
  8. Amaldiçoem-na aquela que sabem amaldiçoar o dia, e sabem excitar o monstro marinho.
  9. Escureçam-se as estrelas do crepúsculo matutino dessa noite, que ela espera a luz e a luz não venha; que não veja as pálpebras dos olhos da alva,
  10. pois não se fechou as portas do ventre de minha mãe, nem escondeu dos meus olhos o sofrimento.
  11. Por que não morri eu na madre? Porque não expirei ao sair dela?
  12. Por que houve regaço que me acolheste? e por que os peitos, para que eu mamasse?
  13. Porque já agora repousaria tranquilo; dormiria, e então haveria para mim descanso,
  14. com os reis e conselheiros da terra, que para si edificaram mausoléus;
  15. ou com os princípes que tinham ouro, e encheram de prata as suas casas;
  16. ou, como aborto oculto, eu não existiria, como crianças que nunca viram a luz;
  17. Ali os maus cessam de perturbar, e ali repousam os cansados.
  18. Ali os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do feitor.
  19. Ali está assim o pequeno como o grande, e o servo livre de seu senhor.
  20. Por que se concede luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo,
  21. que esperam a morte, e ela não vem; cavam em procura dela mais do que tesouros ocultos;
  22. que se regozijariam por um túmulo, que exultariam se achassem a sepultura?
  23. Por que se concede luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados?
  24. Porque em vez do meu pão me vêm gemidos, e os meus lamentos se derramam como água;
  25. aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece.
  26. Não tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande perturbação.

4 Elifaz repreende a Jó

  1. Então respondeu Elifaz o temanita, e disse:
  2. Se intentar alguém falar-te, enfadar-te-ás? Quem, todavia, poderá conter as palavras?
  3. Eis que tens ensinado a muitos, e tens fortalecido a mãos fracas.
  4. As tuas palavras têm sustentado aos que tropeçam, e aos joelhos vacilantes tens fortificado.
  5. Mas agora, em chegando a tua vez, tu te enfadas; sendo tu atingido, te perturbas.
  6. Porventura não é o teu temor de Deus aquilo em que confias, e atua esperança a retidão dos teus caminhos?
  7. Lembra-te: acaso já pereceu algum inocente? e onde foram os retos destruídos?
  8. Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniquidade e semeiam o mal, isso mesmo eles segam.
  9. Com o hálito de Deus perecem; e com o assopro da sua ira se consomem.
  10. Cessa o bramido do leão e a voz do leão feroz, e os dentes dos leãozinhos se quebram.
  11. Perece o leão, porque não há presa, e os filhos da leoa andam dispersos.
  12. Uma palavra se me disse em segredo; e os meus ouvidos perceberam um sussurro dela.
  13. Entre pensamentos de visões noturnas, quando profundo sono cai sobre os homens,
  14. sobrevieram-me o espanto e o tremor, e todos os meus ossos estremeceram.
  15. Então um espírito passou por diante de min; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo;
  16. parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava diante dos meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz;
  17. Seria porventura o mortal justo diante de Deus? Seria acaso o homem puro diante do seu Criador?
  18. Eis que Deus não confia nos seus servos, e aos seus anjos atribui imperfeições;
  19. quanto mais àqueles que habitam em casas de barro, cujo fundamentos está no pó, e são esmagados como a traça!
  20. Nascem de manhã, e à tarde são destruidos; perecem para sempre, sem que disso se faça caso.
  21. Se se lhes corta o fio da vida, morrem, e não atingem a sabedoria./LI>

5 Elifaz exorta a Jó a que busque a Deus

  1. Chama agora! Haverá alguém que te atenda? e para qual dos santos anjos te virarás?
  2. Porque a ira do louco o destrói, e o zelo do tolo o mata.
  3. Bem vi eu o louco lançar raízes; mas logo declarei maldita a sua habitação.
  4. Seus filhos estão longe do socorro, são espezinhados às portas,e não há quem os livre.
  5. A sua messe o faminto o devora, e até do meio dos espinhos a arrebata; e o intrigante abocanha os seus bens.
  6. Porque a aflição não vem do pó, e não é da terra que brota o enfado.
  7. Mas o homem nasce para o enfado como as faíscas das brasas voam para cima.
  8. Quanto a mim eu buscaria a deus, e a ele entregaria a minha causa;
  9. ele faz cousas grandes e inescrutáveis, e maravilhas que não se podem contar;
  10. faz chover sobre a terra, e envia águas sobre os campos,
  11. para pôr os abatidos num lugar alto, e para que os enlutados se alegrem da maior ventura.
  12. Ele frustra as maquinações dos astutos, para que as suas mãos não possam realizar seus projetos.
  13. Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e o conselho dos que tramam se precipita.
  14. Eles de dia encontram as trevas; ao meio-dia andam como de noite, às apalpadelas.
  15. Porém deus salva da espada que lhes sai da boca, salva o necessitado da mão do poderoso.
  16. Assim há esperança para o pobre, e a iniquidade tapa a sua própria boca.
  17. Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do Todo-poderoso.
  18. Porque ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas mãos curam.
  19. De seis angústias te livrará, e na sétima o mal te não tocará.
  20. Na fome te livrará da morte, na guerra do poder da espada.
  21. Do açoite da língua estarás abrigado, e quando vier a assolação não a temerás.
  22. Da assolação e da fome te rirás, e das feras da terra não terás medo.
  23. Porque até com as pedras do campo terás a tua aliança, e os animais da terra viverão em paz contigo.
  24. Saberás que a paz é a tua tenda, percorrerás as tuas possessões, e nada te faltará.
  25. Saberás também que se multiplicará a tua descendência, e a tua posteridade, como a erva da terra.
  26. Em robusta velhice entrarás para a sepultura, como se recolhe o feixe de trigo a seu tempo.
  27. Eis que isto já o havemos inquirido, e assim é; ouve-o, e medita nisso para teu bem.

6 Jó justifica as suas queixas

  1. Então Jó respondeu:
  2. Oh! se a minha queixa de fato se pesasse, e contra ela, numa balança, se pusesse a minha miséria,
  3. esta na verdade pesaria mais que a areia dos mares, por isso é que as minhas palavras foram precipitadas.
  4. Porque as flechas do todo-poderoso estão em mim cravadas, e o meu espírito sorve o veneno delas; os terrores de Deus se arregimentam contra mim.
  5. Zurrará o jumento montês junto à relva? ou mugirá o boi junto à sua forragem?
  6. Comer-se-á sem sal o que é insipído? ou haverá sabor na clara do ovo?
  7. Aquilo que a minha alma recusava tocar, isso é agora a minha comida repugnante
  8. Quem dera que se cumprisse o meu pedido, e que Deus me concedesse o que anelo!
  9. Que fosse do agrado de Deus esmagar-me, que soltasse a sua mão, e acabasse comigo!
  10. Isto ainda seria a minha consolação, e saltaria de contente na minha dor que ele não poupa; porque não tenho negado as palavras do Santo,
  11. por que esperar se já não tenho forças?por que prolongar a vida se o meu fim é certo?
  12. Acaso a minha força é a força de pedra? ou é de bronze a minha carne?
  13. Não! jamais haverá socorro para mim; foram afastados de mim os meus recursos.
  14. Ao aflito deve o amigo mostrar compaixão, a menos que tenha abandonado o temor do Todo-poderoso.
  15. Meus irmãos aleivosamente me trataram; são como um ribeiro, como a torrente que transborda no vale,
  16. turvada com o gelo e com a neve que nela se esconde,
  17. torrente que no tempo do calor seca, emudece e desaparece do seu lugar.
  18. Desviam-se as caravanas dos seus caminhos, sobem para lugares desolados, e perecem.
  19. As caravanas de tema a procuram, os visitantes de sabá por ele suspiram.
  20. Ficam envergonhados por terem confiado; em chegando ali, confundem-se.
  21. Assim tembém vós outros sois nada para mim; vedes os meus e vos espantais.
  22. Acaso disse eu:Dai-me um presente? ou: Oferecei-me um suborno da vossa fazenda?
  23. ou: Livrai-me do poder do opressor?ou: Redimi- das mãos dos tiranos?
  24. Ensinai-me, e eu me calarei; dai-me a entender em que tenho errado.
  25. Oh! Como são pesuasivas as palavras retas! Mas que é o que repreende a vossa repreensão?
  26. Acaso pensais em reprovar as minhas palavras, ditas por um desesperado ao vento?
  27. Até sobre o órfão lançarias sorte, e especularies com o vosso amigo?
  28. Agora, pois, se sois servidos, olhai para mim, e vede que não minto na vossa cara.
  29. Tornai a julgar, vos peço, e não haja iniquidade; tornai a julgar, e ajustiça da minha causa triunfará.
  30. Há iniquidade na minha língua? Não pode o meu paladar discernir cousas perniciosas?

7 Jó contende com Deus

  1. Não é penosa a vida do homem sobre a terra? Não são os seus dias mcomo os de um jornaleiro?
  2. Como o escravo que suspira pela sombra, e como o jornaleiro que espera pela sua paga,
  3. assim me deram por herança meses de desengano, e noites de aflição me proporcionaram.
  4. Ao deitar-me digo: Quando me levantarás? Mas cumprida é a noite, e farto-me de me revolver na cama, até à alva.
  5. A minha carne está vestida de vermes e de crostas terrosas; a minha pele se encrosta e de novo supura.
  6. Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão.
  7. Lembra-te de que a minha vida é um sopro; os meus olhos não tornarão a ver o bem.
  8. Os olhos dos que agora me vêem não me verão mais; os teus olhos me procurarão, mas já não serei.
  9. Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura jamais tornará a subir.
  10. Nunca mais tornará a sua casa, nem o lugar onde habita o conhecerá jamais.
  11. Por isso não reprimirei a minha boca, falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma.
  12. Acaso sou eu o mar, ou algum monstro marinho, para que me ponhas guarda?
  13. Dizendo eu: Consolar-me-á o meu leito, a minha cama aliviará a minha queixa.
  14. então me espantas com sonhos, e com visões me assombras;
  15. pelo que a minha alma escolheria antes ser estrangulada, antes a morte do que esta tortura.
  16. Estou farto da minha vida; não quero viver para sempre. Deixa-me, pois, porque os meus dias são um sopro.
  17. Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado.
  18. e cada manhã o visites, e cada momento o ponhas à prova?
  19. Até quando não apartarás de mim a tua vista? Até quando não me darás tempo de engolir a minha saliva?
  20. Se pequei, que mal te fiz a ti, ó Espreitador dos homens? Por que te fizeste de mim um alvo, para que a mim mesmo me seja pesado?
  21. Por que não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade? Pois agora me deitarei no pó; e, se me buscas, já não serei.

Bildade afirma a justiça de Deus

  1. Então respondeu Bildade, o suita: Até quando falarás tais cousas?E até quando as palavras da tua boca serão qual vento impetuoso?
  2. Perverteria Deus o direito, ou perverteria o Todo-poderoso a justiça?
  3. Se teus filhos pecaram contra ele, tanbém ele os lançou no poder da sua transgerssão.
  4. Mas, se tu buscares a deus, e ao Todo-poderoso pedires misericórdia,
  5. se fores puro e reto, ele,sem demora, despertará em teu favor, e restaurará a justiça da tua morada.
  6. o teu primeiro estado, na verdade, terá sido pequeno, mas o teu último crescerá sobremaneira.
  7. Pois, eu te peço, pergunta agora a gerações passadas, e atenta para a experiência de seus pais;
  8. porque nós somos de ontem, e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra.
  9. Porventura não te ensinarão os pais, não haverão de falar-te, e do próprio entendimento não proferirão estas palavras:
  10. Pode o papiro crescer sem lodo? Ou viça o junco sem água?
  11. estando ainda na sua verdura, e ainda não colhidos, todavia antes de qualquer outra erva se secam.
  12. São assim as veredas de todos quantos se esquecem de deus; e a esperança do ímpio perecerá.
  13. A sua firmeza será frustrada, e a sua confiança é teia de aranha.
  14. Encostar-se-á à sua casa, e ela não se manterá, agarrar-se-á a ela, e ela não ficará em pé.
  15. Ele é viçoso perante o sol, e os seus renovos irrompem no seu jardim;
  16. as suas raízes se entrelaçam num montão de pedras, e penetram até às muralhas.
  17. Mas se deus o arranca do seu lugar, então este o negará, dizendo:Nunca te vi.
  18. Eis em que deu a sua vida! e do pó britarão outros.
  19. Eis que deus não rejeita ao íntegro, nem toma pela mão os malfeitores.
  20. Ele te encherá a boca de riso, eos teus lábios de júbilo.
  21. Teus aborrecedores se vestirão de ignomínia, e atenda dos perversos não subsistirá.

9 Jó é incapaz de responder a deus

  1. Então Jó respondeu, e disse:
  2. Na verdade sei que assim é: porque, como pode o homem ser justo para com Deus?
  3. Se quiser contender com ele, nem a uma de mil cousas lhe poderá responder.
  4. Ele é sábio de coração e grande em poder; quem porfiou com ele, e teve paz?
  5. Ele é quem remove os montes, sem que saibam que ele na sua ira os transtorna;
  6. Quem move a terra para fora do seu lugar, cujas colunas estremecem;
  7. quem fala ao sol, e este não sai, e sela as estrelas;
  8. quem sozinho estende os céus, e anda sobre os altos do mar;
  9. quem fez a ursa, o Órion, o Sete-estrelo e as recâmaras do sul;
  10. quem faz grandes cousas, que se não podem esquadrinhar, e maravilhas tais que se não podem contar.
  11. Eis que ele passa por mim, e não o vejo; segue perante mim, e não o percebo.
  12. Eis que arrebata a presa! quem o pode impedir? Quem lhe dirá: Que fazes?
  13. Deus não revogará a sua própria ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores do Egito.
  14. Quanto menos lhe poderei eu responder ou escolher as minhas palavras para argumentar com ele?
  15. A ele, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.
  16. Ainda que o chamasse, e ele me respondesse, nem por isso creria eu que desse ouvidos à minha voz.
  17. Porque me esmaga com uma tempestade, e multiplica as minhas chagas sem causa.
  18. Não me permitas respirar, antes me farta de amarguras.
  19. Se se trata da força do poderoso, ele dirá: Eis-me aqui; se de justiça: Quem me citará?
  20. Ainda que eu seja justo a minha boca me condenrá; embora seja eu íntegro, ele me terá por culpado.
  21. Eu sou íntegro, não levo em conta a minha alma, não faço caso da minha vida.
  22. Para mim tudo é o mesmo, por isso digo: Tanto destrói ele o íntegro como o perverso.
  23. Se qualquer flagelo mata à sùbita, então se rirá do desespero do inocente.
  24. A terra está entregue nas mãos dos perversos; e Deus ainda cobre o rosto dos juízes dela; se não é ele o causador disso, quem é logo?
  25. Os meus dias foram mais velozes do que um corredor; fugiram, e não viram a felicidade.
  26. Passaram como barcos de junco; como a águia que se lança sobre a presa.
  27. Se eu disser:Eu me esquecerei da minha queixa, deixarei o meu ar tristr, e ficarei contente;
  28. ainda assim todas as minhas dores me apavoram, porque bem sei que me não terás por inocente.
  29. Serei condenado; por que, pois, trabalho eu em vão?
  30. Ainda que me lave com água de neve, e purifique as mãos com cáustico,
  31. mesmo assim me submergirás no lodo, e as minhas próprias vestes me abominarão.
  32. Porque ele não é homem, como eu, a quem eu responda, vindo juntamente a juízo.
  33. Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos.
  34. Tire ele a sua vara de cima de mim, e não me amedronte o seu terror,
  35. então falarei sem o temer; do contrário, não estaria em mim.

10 Jó protesta contra a severidade de Deus

  1. A minha alma tem tédio à minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei com amargura da minha alma.
  2. Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo.
  3. Parece-te bem que me oprimas, que rejeites a obra das tuas mãos e favoreças o conselho dos perversos?
  4. Tens tu olhos de carne? Acaso vês tu como vê o homem?
  5. São os teus dias como os dias do mortal? Ou são os teus anos como os anos de um homem,
  6. para te informares da minha iniquidade, e averiguas o meu pecado?
  7. Bem sabes tu que eu não sou culpado, todavia ninguém há que me livre da tua mão.
  8. As tuas mãos me plasmaram e me aperfeiçoaram, porém, agora, queres devorar-me.
  9. Lembra-te de que me formaste como em barro; e queres, agora, reduzir-me a pó?
  10. Porventura não me vazaste como leite e não me coalhaste como queijo?
  11. De pele e carne me vestiste, e de ossos e tendões me entreteceste.
  12. Vida me concedeste na tua benevolência, e o teu cuidado a mim me guardou.
  13. Estas cousas as ocultaste no teu coração; ma bem sei o que resolveste contigo mesmo.
  14. Se eu pecar, tu me observas; e da minha iniquidade não me perdoarás.
  15. se for perverso, ai de mim! e se for justo, não ouso levantar a minha cabeça, pois estou cheio de ignomínia, e olho para a minha miséria.
  16. Porque se a levanto, tu me caças como a um leão feroz, e de novo revelas poder maravilhoso contra mim.
  17. Tu renovas contra mim as tuas testemunhas, e multiplicas contra mim a tua ira; males e lutas se sucedem contra mim.
  18. Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! se eu morresse, antes que olhos nenhum me vissem!
  19. teria eu sido como se nunca existira, e já do ventre teria sido levado à sepultura.
  20. Não são poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu tome alento;
  21. antes que eu vá para o lugar de que não voltarei, para a terra das tervas e da sombra da morte;
  22. terra de negridão, de profunda escuridade, terra da sombra da morte e do caos, onde a própria luz é tenebrosa.

11 Zofar acusa Jó de iniquidade

  1. Então respondeu Zofar, o naamatita:
  2. Porventura não se dará resposta a esse palavrório? Acaso tem razão o tagarela?
  3. Será o caso de as tuas parolas fazerem calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe?
  4. Pois dizes:A minha doutrina é pura, e sou limpo aos teus olhos.
  5. Oh! Falasse Deus e abrisse os seus lábios contra ti,
  6. e te revelasse os segredos da sabedoria, da verdadeira sabedoria, que é multiforme. sabe, portanto, que deus permite seja esquecida parte da tua iniquidade.
  7. Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-poderoso?
  8. Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo; que poderás saber?
  9. A sua medida é mais longa do que a terra, e mais larga do que o mar.
  10. Se ele passa, prende a alguém, e chama a juízo, quem o poderá impedir?
  11. porque ele conhece os homens vãos, e, sem esforço, v^a iniquidade.
  12. Mas o homem estúpido se tornará sábio, quando a cria de um asno montês nascer homem.
  13. Se dispuseres o teu coração, e estenderes as tuas mãos para Deus;
  14. se lançares para longe a iniquidade da tua mão, e não permitires habitar na tua tenda a injustiça;
  15. então levantarás o teu rosto sem mácula, estarás seguro, e não temerás.
  16. Pois te esquecerás dos teus sofrimentos, e dele só terás lembrança como de águas que passaram.
  17. A tua vida será mais clara que o meio-dia; ainda que lhe haja trevas, será como a manhã.
  18. Sentir-te-ás seguro, porque haverá esperança; olharás derredor, e dormirás tranquilo.
  19. Deitar-te-ás, e ninguém te espantará; e muitos procurarão obter o teu favor.
  20. Mas os olhos dos perversos desfalecerão, o seu refúgio perecerá; sua esperança será o render do espírito.

12 Jó se defende das acusações de seus amigos

  1. Então Jó respondeu:
  2. Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.
  3. Também eu tenho entendimento como vós, eu não vos sou inferior; quem não sabe cousas como essas?
  4. Eu sou irrisão para os meus amigos; eu, que invocava a Deus, e ele me respondia; o justo e o reto servem de irrisão.
  5. No pensamento de quem está seguro há desprezo para o infortúnio, um empurrão para aquele cujos pés já vacilam.
  6. As tendas dos tiranos gozam paz, e os que provocam a Deus estão seguros; têm o punho por seu Deus.
  7. Mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e ás aves dos céus, e elas to farão saber.
  8. Ou fala com a terra, e ela te i9nstruirá; até os peixes do mar to contarão.
  9. Qual entre todos estes não sabe que a mão do Senhor fez isto?
  10. Na sua mão está a alma de todo ser vivente, e o espírito de todo o gênero humano.
  11. Porventura o ouvido não submete à prova as palavras, como o paladar prova as comidas?
  12. Está a sabedoria com os idosos, e na longevidade o entendimento?
  13. Não! Com Deus está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento.
  14. O que ele deitar abaixo não se reedificará; lança na prisão e ninguém a pode abrir.
  15. Se retém as águas, elas secam; se as larga, devastam a terra.
  16. Com ele está a força e a sabedoria; seu é o que erra e o que faz errar.
  17. Aos conselheiros leva-os despojados do seu cargo, e aos juízes faz desvairar.
  18. Dissolve a autoridade dos reis, e uma corda lhes cinge os lombos.
  19. Aos sacerdotes leva os despojados do seu cargo, e aos poderosos transtorna.
  20. Aos eloquentes ele tira a palavra, e tira o entendimento aos anciãos.
  21. Lança desprezo sobre os princípes, e afrouxa o cinto dos fortes.
  22. Das trevas manifesta cousas profundas, e traz à luz a densa escuridade.
  23. Multiplica as nações e as faz perecer; dispersa-as e de novo as congrega.
  24. Tira o entendimento aos príncipes do povo da terra, e os faz vaguear pelos desertos sem caminho.
  25. Nas trevas andam às apalpadelas sem terem luz, e os faz cambalear como ébrios.

13 Jó defende a sua integridade

  1. Eis que tudo isso viram os meus olhos, eos meus ouvidos o ouviram e entenderam.
  2. Como vós o sabeis, também eu o sei; não vos sou inferior.
  3. Mas falarei ao todo-poderoso, e quero defender-me perante Deus.
  4. Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras, e vós todos sois médicos que não valem nada.
  5. Oxalá vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria!
  6. Ouvi agora a minha defesa, e atentai para os argumentos dos meus lábios.
  7. Porventura falareis perversidade em favor de Deus, a seu favor falareis mentiras?
  8. Sereis parciais por ele? contendereis a favor de Deus?
  9. Ser-vos-ia bom, se ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dele, como se zomba de um homem qualquer?
  10. Acerbamente vos repreenderá, se em oculto fordes parciais.
  11. Porventura não vos amendrontará a sua dignidade, e não cairá sobre vós o seu terror?
  12. As vossas máximas são como provérbios de cinza, os vossos baluartes, baluartes de barro.
  13. Calai-vos perante mim, e falarei eu, e venha sobre mim o que vier.
  14. Toamarei a minha carne nos meus dentes, e porei a vida na minha mão.
  15. Eis que me matará, já não tenho esperança; contudo defenderei o meu procedimento.
  16. Também isto será a minha salvação, o fato de o ímpio não vir perante ele.
  17. atentai para as minhas razões, e dai ouvidos à minha exposição.
  18. Tenho já bem encaminhada minha causa, e estou certo de que serei justificado.
  19. Quem há que possa contender comigo? Neste caso eu me calaria, e renderia o espírito.
  20. Concede-me somente duas cousas; então me não esconderei do teu rosto:
  21. Alivia a tua mão de sobre mim, e não me espante o teu terror.
  22. Interpela-me e te responderei, ou deixa-me falar, e tu me responderás.
  23. Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado.
  24. Por que escondes o teu rosto, e me tens por teu inimigo?
  25. Queres aterrorizar uma folha arrebatada pelo vento? e perseguirás a palha seca?
  26. Pois decretas contra mim cousas amargas e me atribuis as culpas da minha mocidade.
  27. Também pões os meus pés no tronco, observas todos os meus caminhos, e traças limites à planta dos meus pés.
  28. apesar de eu ser como uma cousa podre que se consome, e como a roupa que é comida da traça.

14 Jó medita na brevidade da vida

  1. O homem, nascido de mulher, vive breve tempo, cheio de inquietação.
  2. Nasce como a flor, e murcha; foge como a sobra, e não permanece,
  3. e sobre tal homem abres os teus olhos, e o fazes entrar em juízo contigo?
  4. Quem da imundícia poderá tirar cousa pura? Ninguém.
  5. Visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem puseste limites, além dos quais não passará.
  6. Desvia dele os teus olhares, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha prazer no seu dia.
  7. Porque há esperança para a árvore, pois mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos.
  8. Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco,
  9. ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como a planta nova.
  10. O homem, porém, morre, e fica prostrado; expira o homem, e onde está?
  11. Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca,
  12. assim o homem se deita, e não se levanta: enquanto existirem os céus não acordará, nem será despertado do seu sono.
  13. Oxalá me encobrisses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se fosse, e me pusesses um prazo e depois te lembrasses de mim!
  14. Morrendo o homem, porventura toranará a viver? Todos os dias da minha milícia esperaria, até que eu fosse substituido.
  15. Chamar--me-ias, e eu te responderia; terias saudades da obra de tuas mãos;
  16. e até contarias os meus passos, e não levarias em conta os meus pecados.
  17. A minha transgressão estaria selada num saco, e terias encoberto as minhas iniquidades.
  18. Como o monte que se esboroa e se desfaz, e a rocha que remove do seu lugar,
  19. como as águas gastam as pedras, e as cheias arrebatam o pó da terra, assim destróis a esperança do homem!
  20. Tu prevaleces para sempre contra ele, e ele passa, mudas-lhe o semblante, e o despedes para o além.
  21. Os seus filhos recebem honras, e ele o não sabe;são humilhados, e ele o não percebe.
  22. Ele sente as dores de apenas seu próprio corpo, e só a seu respeito sofre a sua alma.

15 Elifaz acusa Jó de impiedade

  1. Então respondeu Elifaz, o tematita:
  2. Porventura dará o sábio em resposta ciência de vento?
  3. E encher-se-á a si mesmo de vento oriental?
  4. Arguindo com palavras que de nada servem, e com razões, de que nada aproveita?
  5. Tornas vão o temor de Deus, e diminui a devoçaõ a ele devida.
  6. Pois a tua iniquidade ensina à tua boca, e tu escolheste a língua dos astutos.
  7. A tua própria boca te condena, e não eu:os teus lábios testificam contra ti.
  8. És tu porventura o primeiro homm que nasceu? Ou tfoste formado antes dos outeiros?
  9. Ou ouviste o secreto coonselho de deus e a ti só limitaste a sabedoria?
  10. Que sabes tu, que nós não saibamos? que entendes, que não haja em nós?
  11. Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai.
  12. Porventura fazes pouco caso das consolações de Deus, e das suaves palavras que te dirigimos nós?
  13. Por que te arrebata o teu coração?Por que flamejam os teus olhos,
  14. para voltares contra deus o teu furor, e deixares sair tais palavras da tua boca?
  15. Que é o homem, para que seja puro? e o que nasce de mulher, para ser justo?
  16. Eis que Deus, não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos,
  17. quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que bebe da iniquidade como a água?

    Elifaz mostra o justo castigo dos perversos

  18. Escuta-me, mostrar-to-ei; e o que tenho visto te contarei,
  19. o que os sábios anunciaram, que o ouviram de seus pais, e não o ocultaram
  20. (Aos quais somente se dera a terra, e nenhum estranho passou por entre eles):
  21. Todos os dias o perverso é atormentado, no curto número de anos que se reservam para o opressor.
  22. O sonido dos horrores está nos seus ouvidos; na prosperidade lhe sobrevém o assolador,
  23. Não crê que tornará das trevas, e , sim, que o espera a espada.
  24. Por pão0 anda vagueando, dizendo: Onde está? Bem sabe que o dia das trevas lhe está preparado, à mão.
  25. Assombram-no a angústia e a tribulação; prevalecem contra ele, como o rei preparado para a peleja.
  26. porque estendeu a sua mão contra Deus, e desafiou o Todo-poderoso;
  27. arremete contra ele obstinadamente, atrás da grossura dos seus escudos,
  28. porquanto cobriu o rosto com a sua gordura, e criou enxúndia nas ilhargas;
  29. habitou em cidades assoladas, em casas em que ninguém devia morar, que estavam destinadas a se fazerem montões de ruínas.
  30. Por isso não se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazebda, nem se estenderão seus bens pela terra.
  31. Não escapará das trevas; a chama do fogo secará os seus renovos e ao assopro da boca de Deus será arrebatado.
  32. Não confie, pois, na vaidade enganando-se a si mesmo, porque a vaidade será a sua recompensa.
  33. esta se lhe consumará antes dos seus dias, e o seu ramo não reverdecerá.
  34. sacudirá as suas uvas verdes, como a vide, e deixará cair a sua flor como a oliveira;
  35. pois a companhia dos ímpios será estéril, e o fogo consumirá as tendas de suborno.
  36. Concebem a malícia, e dão à luz a iniquidade, pois o seu coração só prepara enganos.

16 Jó se queixa do trato de Deus

  1. Então respondeu Jó:
  2. Tenho ouvido muitas coisas como essas; todos vós sois consoladores molestos.
  3. Porventura não terão fim essas palavras de vento?Ou que é que te instiga para responderes assim?
  4. Eu também poderia falar como vós falais; se a vossa alma estivesse em lugar da minha, eu poderia dirigir-vos um montão de palavras, e menear contra vós outros a minha cabeça;
  5. poderia fortalecer-vos com as minhas palavras, e a compaixão dos meus lábios abrandaria a vossa dor.
  6. Se eu falar, a minha dor não cessa, se me calar, qual é o meu alívio?
  7. Na verdade, as minhas forças estão exaustas; tu, ó deus, destruíste a minha família toda.
  8. Testemunha disto é que já me tornaste encarquilhado, a minha magreza já se levanta contra mim e me acusa cara a cara.
  9. Na sua ira me despedaçou, e tem animosidade contra mim; contra mim rangeu os dentes e, como meu adversário, aguça os olhos.
  10. Homens abrem contra mim a boca, com desprezo me esbofeteiam, e comtra mim todos se ajuntam.
  11. Deus me entrega ao ímpio, e nas mãos dos perversos me faz cair.
  12. Em paz eu vivia, porém ele me quebrantou; pegou-me pelo pescoço, e me despedaçou. Pôs-me por seu alvo:
  13. Cercam-me as suas flechas, atravessa-me os rins, e não me poupa; e o meu fel derrama na terra.
  14. Fere-me com ferimento sobre ferimento, arremete contra mim como um guerreiro.
  15. Cosi sobre a minha pele o cilício, e revolvi o meu orgulho no pó.
  16. O meu rosto está todo afogueado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte,
  17. embora não haja violência nas minhas mãos, e seja pura a minha oração.
  18. Ó terra, não cubras o meu sangue, e não haja lugar em que se oculte o meu clamor!
  19. Já agora sabei que a minha testemunha está no céu, e nas alturas quem advoga a minha causa.
  20. Os meus amigos zombam de mim, mas os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus,
  21. para que ele mantenha o direito do homem contra o prórpio Deus, e o do filho contra o seu próximo!
  22. Porque dentro em poucos anos eu seguirei o caminho de onde não tornarei./LI>

17 Jó nada mais espera desta vida

  1. O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim a sepultura.
  2. estou de fato cercado de zombadores, e os meus olhos são obrigados a lhes contemplar a provocação.
  3. Dá-me, pois, um penhor, sê o meu fiador para contigo mesmo; quem mais haverá que se possa comprometer comigo?
  4. Porque aos seus corações encobriste o entendimento, pelo que não os exaltarás.
  5. Se alguém oferece os seus amigos como presa, os olhos de seus filhos desfalecerão.
  6. Mas a mim me pôs por provérbio dos povos; tornei-me como aquele em cujo rosto se cospe.
  7. Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos, e já todos os meus membros são como a sombra;
  8. os retos pasmam disto, e o inocente se levanta contra o ímpio.
  9. Contudo o justo segue o seu caminho, e o puro de mãos cresce mais e mais em força.
  10. Mas tornai-vos todos vós, e vinde cá; porque sábio nenhum acharei entre vós.
  11. Os meus dias passaram, e se malograram os meus prpósitos, as aspirações do meu coração.
  12. Convertem-me a noite em dia, e aluz, dizem, está perto das trevas.
  13. Mas, se eu aguardo já a sepultura por minha casa, se nas trevas estendo a minha cama;
  14. se ao sepulcro eu clamo:Tu és meu pai; e aos vermes: Vós sois minha mãe e minha irmã;
  15. onde está, pois, a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?
  16. Ela descerá até às portas da morte, quando juntamente no pó teremos descanso.

18 Bildade descreve a sorte dos ímpios

  1. Então respondeu Bildade, o suíta:
  2. Até quando andarás à caça de palavras? Considera bem, e então falaremos.
  3. Por que somos reputados por animais, e aos teus olhos possamos por curtos de inteligência?
  4. Oh! tu, que te despedaças na tua ira, será a terra abandonada por tua causa? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?
  5. Na verdade, a luz dos perversos se apagará, e para seu fogo não resplandecerá a faísca;
  6. a luz se escurecerá nas suas tendas, e a sua lâmpada sobre ele se apagará;
  7. os seus passos fortes se estreitarão, e o seu próprio trama o derribará.
  8. Porque por seus próprios pés é lançado na rede, e andará na boca de forje.
  9. A armadilha o apanhará pelo calcanhar, e olaço o prenderá.
  10. A corda está-lhe escondida na terra, e a armadilha na vereda.
  11. Os assombros o espantarão de todos os lados, e o perseguirão a cada passo.
  12. A calamidade virá faminta sobre ele, e a miséria estará alerta ao seu lado,
  13. a qual lhe devorará os membros do corpo; serão devorados pelo primogênito da morte.
  14. O perverso será arrancado da sua tenda, onde está confiado, e será levado ao rei dos terrores.
  15. Nenhum dos seus morará na sua tenda, espalhar-se-á enxofre sobre a sua habilitação.
  16. Por baixo secarão as suas raízes, e murcharão por cima os seus ramos.
  17. A sua memória desaparecerá da terra, e pelas praças não terá nome.
  18. Da luz o lançarão nas trevas, e o afugentarão do mundo.
  19. Não terá filho nem posteridade entre o seu povo, nem sobrevivente algum ficará nas suas moradas.
  20. Do seu dia se espantarão os do ocidente, e os do oriente serão tomados de horror.
  21. Tais são, na verdade, as moradas, as moradas do perverso, e este é o paradeiro do que não conhece Deus.

19 Jó, embora sofrendo, sabe que seu Redentor vive

  1. Então respondeu Jó:
  2. Até quando afligireis a minha alma; e me quebrantareis com palavras?
  3. Já dez vezes me vituperastes, e não vos envergonhais de injuriar-me.
  4. Embora haja eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro.
  5. Se quereis engrandecer-vos contra mim, e me arguis pelo meu opróbrio,
  6. sabei agora que Deus é que me oprimiu e com a sua rede me cercou.
  7. Eis que clamo: Violência!mas não sou ouvido; grito: Socorro! porém não há justiça.
  8. O meu caminho ele fechou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas.
  9. Da minha honra me despojou; e tirou-me da cabeça a coroa.
  10. Arruinou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou-me a esperança, como a uma árvore.
  11. Inflamou contra mim a sua ira, e me tem na conta de seu adversário.
  12. JJuntas vieram as suas tropas, prepararam contra mim o seu caminho, e se acamparam ao redor da minha tenda.
  13. Pôs longe de mim a meus irmãos, e os que me conhecem, como estranhos se apartaram de mim.
  14. Os meus parentes me desampararam, eos meus conhecidos se esqueceram de mim, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.
  15. Os que se abrigaram na minha casa e as minhas servas me têm por estranho, e vim a ser estrangeiro aos seus olhos.
  16. Chamo o meu criado, e ele não me responde; tenho de suplicar-lhe, eu mesmo.
  17. O meu hálito é intolerável à minha mulher, e pelo mau cheiro sou repugnante aos filhos de minha mãe.
  18. Até as crianças me desprezam, e, querendo eu levantar-me, zombam de mim.
  19. Todos os meus amigos íntimos me abominam e até os que eu amava se tornaram contra mim.
  20. Os meus ossos se apegam à minha pele e à minha carne, e salvei-me só com a pele dos meus dentes. Por que me perseguis como deus me persegue, e não cessais de devorar a minha carne?
  21. Quem me dera fossem agora escritas as minhas palavras! Quem me dera fossem gravadas em livro!
  22. Que, com pena de ferro, e com chembo, para sempre fossem esculpidas na rocha!
  23. Porque eu sei que o meu redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra.
  24. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus.
  25. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro em mim.
  26. Se disserdes: Como o perseguiremos? e: A causa deste mal se acha nele.
  27. temei, pois, a espada, porque tais acusações merecem o seu furor, para saberdes que há um juízo.

20 Zofar descreve as calamidades dos perversos

  1. Então respondeu Zofar, o naamatita:
  2. Visto que os meus pensamentos me impõem resposta, eu me apresso.
  3. Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, mas o meu espírito me obriga a responder segundo o meu entendimento.
  4. Porventura não sabes tu que desde todos os tempos, desde que o homem foi posto sobre a terra,
  5. o júbilo dos perversos é breve, e a alegria dos ímpios momentânea?
  6. Ainda que a sua presunção remonte aos céus, e a sua cabeça atinja as nuvens,
  7. como o seu próprio esterco apodrecerá para sempre; e os que o conheceram dirão:Onde está?
  8. Voará como um sonho, e não será achado, será afungentado como uma visão da noite.
  9. Os olhos que o viram jamais o verão, e o seu lugar não o verá outra vez.
  10. Os seus filhos procurarão aplacar aos pobres, e as suas mãos lhes restaurarão os seus bens.
  11. Ainda que os seus ossos estejam cheios do vigor da sua juventude, esse vigor se deitará com ele no pó.
  12. Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da língua,
  13. e o saboreie, e o não deixe, antes o retenha no seu paladar,
  14. contudo a sua comida se transformará nas suas entranhas; fel de áspides será no seu interior.
  15. Engoliu riquezas, mas vomitá-las-á; do seu ventre Deus as lançará.
  16. veneno de áspides sorveu; língua de víbora o matará.
  17. Não se deliciará com a vista dos ribeiros, e dos rios transbordantes de mel e de leite.
  18. devilverá o fruto do seu trabalho e não o engolirá; do lucro de sua barganha não tirará prazer nenhum.
  19. Oprimiu e desamparou os pobres, roubou casas que não edificou.
  20. Por não haver limites à sua cobiça, não chegará a salvar as cousas por ele desejadas.
  21. Nada escapou à sua cobiça insaciável, pelo que a sua prosperidade não durará.
  22. Na plenitude da sua abastança, ver-se-á angustiado; toda a força da miséria virá sobre ele.
  23. Para encher a sua barriga deus mandará sobre ele o furor da sua ira, que, por alimento, mandará chover sobre ele.
  24. Se fugir das armas de ferro, o arco de bronze o transpassará.
  25. Ele arranca das suas costas a flecha, e esta vem resplandecente do seu fel; e haverá assombro sobre ele.
  26. Todas as calamidades serão reservadas contra os seus tesouros; fogo não assoprado o consumirá, fogo que se apascentará do que o ficar na sua tenda.
  27. Os céus lhe manifestarão a sua iniquidade; e a terra se levantará contra ele.
  28. As riquezas de sua casa serão transportadas; como água serão derramadas no dia da ira de Deus.
  29. Tal é, da parte de Deus, a sorte do homem perverso, tal a herança decretada por Deus.

21 Jó descreve a prosperidade dos perversos

  1. Respondeu, porém, Jó:
  2. ouvi atentamente as minhas razões, e já isso me será a vossa consolação.
  3. Tolerai-me, e eu falarei; e , havendo eu falado, podereis zombar.
  4. Acaso é do homem que eu me queixo? Não tenho motivo de me impacientar?
  5. Olhai para mim, e pasmai; e ponde a mão sobre a boca;
  6. porque só de pensar nisso me perturbo, e um calafrio se apodera de toda a minha carne.
  7. Como é, pois, que vivem os perversoso, envelhecem, e ainda se tornam mais poderosos?
  8. Seus filhos se estabelecem na sua presença; e os seus descendentes ante seus olhos.
  9. As suas casas têm paz, sem temor, e a vara de Deus não os fustiga.
  10. O seu touro gera, e não falha, suas novilhas têm a cria, e não abortam.
  11. Deixam correr suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos saltam de alegria;
  12. cantam com tamboril e harpa, e alegram-se ao som da flauta.
  13. E são estes os que disseram a Deus; retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos.
  14. que é o Todo-poderoso, para que nós o sirvamos?E que nos aproveitará que lhe façamos orações?
  15. Vede, porém, que não provém deles a sua prosperidade, longe de mim o conselho dos perversos!
  16. Quantas vezes sucede que se apaga a lâmpada dos perversos? que lhes sobrevém a destruição? que Deus na sua ira lhes reparte dores?
  17. Que são como a palha diante do vento, e como a pragana arrebatada pelo redemoinho?
  18. deus, dizei vós, guarda a iniquidade do perverso para seus filhos. Mas é a ele que deveria deus dar o pago, para que o sinta.
  19. Seus próprios olhos devem ver a sua ruína, e ele, beber do furor fo Todo-poderoso.
  20. Porque depois de morto, cortado já o número dos seus meses, que lhe interessa a ele a sua casa?
  21. Acaso, alguém ensinará ciência a Deus, a ele que julga os que estão nos céus?
  22. Um morre em pleno vigor, despreocupado e tranquilo,
  23. com seus baldes cheios de leite, e fresca a medula dos seus ossos.
  24. Ouro, ao contrário, morre na amargura do seu coração, não havendo provado o bem.
  25. Juntamente jazem no pó, onde os vermes os cobrem.
  26. Vede que conheço os vossos pensamentos, eos injustos desígnios com que me tratais.
  27. Porque direis: Onde está a casa do princípe, e onde a tenda em que morava o perverso?
  28. Porventura não tendes interrogado os que viajam? e não considerastes as suas declarações,
  29. que os maus são poupados no dia da calamidade, são socorridos no dia do furor?
  30. Quem lhe lançará em rosto o seu proceder? Quem lhe dará o pago do que faz?
  31. Finalmente é levado à sepultura, e sobre o seu túmulo se faz vigilância.
  32. Os torrões do vale lhe são leves, todos os homens o seguem, assim como não têm número os que foram adiante dele.
  33. Como, pois, me consolais em vão?Das vossas respostas só resta falsidade.

22 Elifaz acusa a Jó de grandes pecados

  1. Então respondeu Elifaz, o temanita:
  2. Porventura será o homem de algum proveito a Deus? Antes o sábio é só útil a si mesmo.
  3. ou tem o Todo-poderoso interesse em que sejas justo, ou algum lucro em que faças perfeitos os teus caminhos?
  4. Ou te repreende pelo teu temor de Deus, ou entra contra ti em juízo?
  5. Porventura não é grande a tua malícia, e sem termo as tuas iniquidades?
  6. Porque sem causa tomaste penhores a teu irmão, e aos seminus despojaste das suas roupas.
  7. Não deste água a beber ao cansado, e ao faminto retiveste o pão.
  8. Ao braço forte pertencia a terra, e só os homens favorecidos habitavam nela.
  9. As viúvas despediste de mãos vazias, e os braços dos órfãos foram quebrados.
  10. Por isso estás cercado de laços, e repentino pavor te conturba,
  11. ou trevas em que nada vês; e águas transbordantes te cobrem.
  12. Porventura não está Deus nas alturas do céu? Olha para as estrelas mais altas. que altura!
  13. E dizes:Que sabe Deus? Acaso poderá ele julgar através de densa escuridão?
  14. Grossas nuvens o encobrem, de modo que não pode ver: ele passeia pela abóbada do céu.
  15. Queres seguir a rota antiga, que os homens iníquos pisaram?
  16. estes foram arrebatados antes de tempo:o seu fundamento uma torrente o arrasta.
  17. Diziam ao senhor:Retira-te de nós.E: Que pode fazer-nos o Todo-poderoso?
  18. Contudo ele enchera de bens as suas casas.
  19. Longe de mim o conselho dos perversos!
  20. Os justos o vêem, e se alegram, e o inocente escarnece deles,
  21. dizendo:porquanto o nosso adversário foi destruido, e o fogo consumiu o resto deles.
  22. Reconcilia-te, pois, com ele, e tem paz, e assim te sobrevirá o bem.
  23. Aceita, peço-te, a instrução que profere, e põe as suas palavras no teu coração.
  24. se te converteres ao Todo-poderoso, serás restabelecido: se afastares a injustiça da tua tenda,
  25. e deitares ao pó o teu ouro, e o ouro de Ofir entre pedras dos ribeiros,
  26. então o Todo-poderoso será o teu ouro, e a tua prata escolhida.
  27. Deleitar-te-ás, pois, no Todo-poderoso, e levantarás o teu rosto para Deus.
  28. Orarás a ele, e ele te ouvirá; e pagarás os teus votos.
  29. Se projetas alguma cousa, ela te sairá bem, e aluz brilhará em teus caminhos.
  30. Se estes descem, então dirás: Para cima! E Deus salvará o humilde;
  31. e livrará até ao que não é inocenet; sim, será libertado, graças à pureza de tuas mãos

23 Jó deseja apresentar-se perante Deus

  1. Respondeu, porém, Jó:
  2. Ainda hoje a minha queixa é de um revoltado, apesar de a minha mão reprimir o meu gemido.
  3. Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! então me chegaria ao seu tribunal
  4. Exporia ante ele a minha causa, encheria a minha boca de argumentos.
  5. Saberia as palavras que ele me respondesse, e entenderia o que me dissesse.
  6. Acaso segundo a grandeza de seu poder contenderá comigo? Não; antes me atenderia.
  7. Ali o homem reto pleitearia com ele, e eu me livraria para sempre do meu juiz.
  8. Eis que se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo.
  9. Se opera à esquerda, não o vejo; esconde-se à direita, não o vejo; e não o diviso.
  10. Mas ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia eu como o ouro.
  11. Os meus pés seguiram as suas pisadas; guardei o seu caminho, e não me desviei dele.
  12. Do mandamento de seus lábios nunca me apartei, escondi no meu íntimo as palavras da sua boca.
  13. Mas, se ele resolveu alguma cousa, quem o pode dissuadir? O que ele deseja, isso fará.
  14. Pois ele cumprirá o que está ordenado, a meu respeito, e muitas cousas como estas ainda tem consigo.
  15. Por isso me perturbo perante ele; e quando o considero, tem-me dele.
  16. Deus é quem me fez desmaiar o coração, e o Todo-poderoso quem me perturbou,
  17. porque não estou desfalecido por causa das trevas, nem porque a escuridão cobre o meu rosto.

24 Jó contesta que os perversos muitas vezes não são castigados

  1. Por que o todo-poderoso não designa tempos de julgamentos?E por que os que o conhecem não vêem tais dias?
  2. Há os que removem os limites, roubam os rebanhos e os apascentam.
  3. Levam do órfão o jumento, da viúva tomam-lhe o boi.
  4. Desviam do caminho aos necessitados, e os pobres da terra todos têm de esconder-se.
  5. Como asnos monteses no deserto saem estes para o seu mister, à procura de presa no campo aberto, como pão para eles e seus filhos.
  6. No campo segam o pasto do perverso, e lhe rabisacam a vinha.
  7. Passam a noite nus por falta de roupa, e não têm cobertas contra o frio.
  8. Pelas chuvas das montanhas são molhados, e, não tendo refúgio, abraçam-se com as rochas.
  9. Orfãozinhos são arrancados ao peito, e dos pobres se toma penhor;
  10. de modo que estes andam nus, sem roupa, e, famintos, arrastam os molhos.
  11. Entre os muros desses perversos espremem o azeite, pisam-lhes o lagar, contudo padecem sede.
  12. desde as cidades gemem os homens, e a alma dos feridos clama; e contudo Deus não tem isso por anormal.
  13. Os perversos são inimigos da luz, não conhecem os seus caminhos, nem permanecem nas suas veredas.
  14. De madrugada se levanta o homicida, mata ao pobre e ao necessitado, e de noite se torna ladrão.
  15. Aguardam o crespúsculo os olhos do adúltero; este diz consigo: ninguém me reconhecerá; e cobre o rosto.
  16. Nas trevas minam as casas, de dia se conservam encerrados, nada querem com a luz.
  17. Pois a manhã para todos eles é como sombra de morte; mas os terrores da noite lhes são familiares.
  18. Vós dizeis: Os perversos são levados rapidamente na superfície das águas; maldita é a porção dos tais na terra; já não andam pelo caminho das vinhas.
  19. A secura e o calor desfazem as águas da neve; assim faz a sepultura aos que pecaram.
  20. A mãe se esquecerá dele, os vermes o comerão gostosamente; nunca mais haverá lembrança dele; como árvore será quebrado o injusto,
  21. aquele que devora o estéril que não tem filhos, e não faz o bem à viúva.
  22. Não! pelo contrário! Deus por sua força prolonga os dias dos valentes; vêem-se eles de pé quando desesperavam da vida.
  23. Ele lhes dá descanso, e nisso se estribam; os olhos de deus estão nos caminhos deles.
  24. São exaltados por breve tempo; depois passam, colhidos como todos os mais; são cortados como as pontas das espigas.
  25. se não é assim, quem me desmentirá, e anulará as minhas razões?

25 Bildade nega que o homem possa justificar-se diante de Deus

  1. Então respondeu Bildade, o suíta:
  2. A Deus pertence o domínio e o poder, ele faz reinar a paz nas alturas celestes.
  3. Acaso têm número os seus exércitos?E sobre quem não se levanta a sua luz?
  4. Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?
  5. Eis que até a lua não tem brilho, e as estrelas não são puras aos olhos dele.
  6. Quanto menos o homem, que ´gusano, e o filho do homem, que é verme!

26 Jó afirma a sabedoria

  1. Jó, porém, respondeu:
  2. Como sabes ajudar ao que não tem força! e prestar socorro ao braço que não tem vigor!
  3. Como sabes aconselhar ao que não tem sabedoria! e revelar plenitude de verdadeiro conhecimento!
  4. Com a ajuda de quem proferes tais palavras? E de quem é o espírito que fala em ti? E de quem é o espírito que fala em ti?
  5. As almas dos mortos tremem debaixo das águas com seus habitantes.
  6. O além está desnudo perante ele, e não há coberta para o abismo.
  7. Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a terra sobre o nada.
  8. Prende as águas em densas nuvens, e as nuvens não se rasgam debaixo delas.
  9. Encobre a face do seu trono, e sobre ele estende a sua nuvem.
  10. Traçou um círculo à superfície das águas até aos confins da luz e das trevas.
  11. As colunas do céu tremem, e se espantam da sua ameaça.
  12. Com a sua força fende o mar, e com o seu entendimento abate o adversário.
  13. Pelo seu sopro aclara os céus, a sua mão fere o dragão veloz.
  14. Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos! Que leve sussuro temos ouvido dele! Mas o trovão do seu poder, quem o entenderá?

27 Jó descreve a sorte dos perversos

  1. Prosseguindo Jó em seu discurso, disse:
  2. Tão certo como vive o senhor, que me tirou o direito, e o Todo-poderoso, que amargurou a minha alma,
  3. enquanto em mim estiver a minha vida, e o sopro de Deus nos meus narizes,
  4. nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano.
  5. Longe de mim que eu vos dê razão, até que eu expire, nunca afastarei de mim a minha integridade.
  6. A minha justiça me apegarei e não a largarei; não me reprova a minha consciência por qualquer dia da minha vida.
  7. Seja como o perverso o meu inimigo, e o que se levantar contra mim como o injusto.
  8. Porque qual será a esperança do ímpio, quando lhe for cortada a vida, quando deus lhe arrancar a alma?
  9. Acaso ouvirá deus o seu clamor, em lhe sobrevindo a tribulação?
  10. Deleitar-se-á o perverso no Todo-poderoso, e invocará a Deus em todo o tempo?
  11. Ensinar-vos-ei o que encerra a mão de Deus, e não vos ocultarei o que está com o Todo-poderoso.
  12. Eis que todos vós já vistes isso; por que, pois, alimentais vãs noções?
  13. Eis qual será da parte de Deus a porção do perverso, e aherança, que os opressores receberão do Todo-poderoso:
  14. Se os seus filhos se multiplicarem, será para a espada, e a sua prole não se fartará de pão.
  15. Os que ficarem dela, a peste os enterrará, e as suas viúvas não chorarão.
  16. Se o perverso amontoar prata como pó, e acumular vestes como barro,
  17. ele os acumulará, mas o justo é que os vestirá, e o inocente repartirá a prata.
  18. Ele edifica a sua casa como a da traça, e como a choça que o vigia constrói.
  19. Rico se deita, com a sua riqueza, abre os seus olhos, e já não a vê.
  20. Pavores se apoderam dele como inundação, de noite a tempestade o arrebata.
  21. O vento oriental o leva, e ele se vai; varre-o com ímpeto do seu lugar.
  22. Deus lança isto sobre ele, e não o poupa, a ele que procura fugir precipitadamente da sua mão;
  23. à sua queda lhe batem palmas, à saída o apupam com assobios.

28 O homem apropria-se das riquezas da terra

  1. Na verdade, a prata tem suas minas, e o ouro, que se refina, os seu lugar.
  2. O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre.
  3. Os homens põem termo à escuridão, a até aos últimos confins procuram as pedras ocultas nas trevas e na densa escuridade.
  4. Abrem entrada para minas longe da habitação dos homens, esquecidos dos transeuntes; e, oscilam de um lado para outro.
  5. Da terra procede o pão, mas em baixo é resilvida como por fogo.
  6. Nas suas pedras se encontra safira, e há pó que contém ouro.
  7. essa vereda, a ave de rapina a ignora, e jamais a viram os olhos do falcão.
  8. Nunca a pisaram feras majestosas, nem o leãozinho passou por ela.
  9. Estende p homem a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes.
  10. Abre canais nas pedras, eos seus olhos vêem tudo o que há de mais precioso.
  11. Tapa os veios de água e nem uma gota sai deles, e traz à luz o que estava escondido.

    A verdadeira sabedoria é dom de Deus

  12. Mas onde se achará a sabedoria? e onde está o lugar do entendimento?
  13. O homem não conhece o valor dela, nem se acha ela na terra dos viventes.
  14. O abismo diz: Ela não está em mim; e o mar diz: Não está comigo.
  15. Não se dá por ela ouro fino, nem se pesa prata em câmbio dela.
  16. O seu valor não se pode avaliar pelo ouro de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.
  17. O ouro não se iguala a ela, nem o cristal; ela não se trocará por jóia de ouro fino;
  18. ela faz esquecer o coral e o cristal; a aquisição da sabedoria é melhor que a das pérolas.
  19. Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode avaliar por ouro puro.
  20. Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento?
  21. está encoberta aos olhos de todo vivenete, e oculta às aves do céu.
  22. O abismo e a morte dizem: ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.
  23. Deus lhe entende o caminho, e ele é quem sabe o seu lugar.
  24. porque ele perscuta até as extremidades da terra, vê tudo o que há debaixo dos céus.
  25. Quando regulou o peso do vento, e fixou a medida das águas;
  26. quando determinou leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões;
  27. então viu ele a sabedoria e a manifestou; estabeleceu-a, e também a esquadrinhou.
  28. E disse ao homem: eis que o temor do senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o enetndimento.

29 Jó lembra-se do seu primeiro estado feliz

  1. Prosseguiu Jó no seu discurso, e disse:
  2. Ah! quem me dera ser como fui nos meses passados, como nos dias em que deus me guardava!
  3. Quando fazia resplandecer a sua lâmpada sobre a minha cabeça, quando eu, guiado por sua luz, caminhava pelas trevas;
  4. como fui nos dias do meu vigor, quando a amizade de deus estava sobre a minha tenda;
  5. quando o todo-poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim;
  6. quando eu lavava os meus pés em leite, e da rocha me corriam ribeiros de azeite!
  7. Quando eu saia para a porta da cidade, e na praça me era dado sentar-me,
  8. os moços me via, e se retiravam; os idosos se levantavam e se punham em pé;
  9. os princípes reprimiam as suas palavras, e punham a mão sobre a boca;
  10. a voz dos nobres emudecia, e a sua língua se apegava ao paladar.
  11. ouvindo-me alhum ouvido, esse me chamava feliz; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim;
  12. porque eu livrava os pobres que clamavam, e também o órfão que não tinha quem o socorrese.
  13. A bênção do que estava a perecer vinha sobre mim, e eu fazia rejubilar-se o coração da viúva.
  14. Eu me cobria de justiça, e esta me servia de veste; como manto e turbante era a minha equidade.
  15. Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo.
  16. Dos necessitados era pai, e até as causas dos desconhecidos eu examinava.
  17. Eu quebrava os queixos do iníquo, e dos seus dentes lhe fazia eu cair a vítima.
  18. Eu dizia: No meu ninho expirarei, multiplicarei os meus dias como a areia.
  19. A minha raiz se estenderá até às águas, e orvalho ficará durante a noite sobre os meus ramos;
  20. a minha honra se renovará na minha mão.
  21. Os que me ouviam esperavam o meu conselho e guardavam silêncio para ouví-lo.
  22. Havendo eu falado não replicavam; as minhas palavras caiam sobre eles como orvalho.
  23. esperavam-me como à chuva de primavera.
  24. Sorria-me para eles quando não tinham confiança; e a luz do meu rosto não desprezavam.
  25. Eu lhes escolhia o caminho, assentava-me como chefe, e habitava como rei entre as suas tropas, como quem consola os que pranteiam.

30 Jó lamenta a miséria em que caiu

  1. Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr ao lado doa cães do meu rebanho.
  2. de que também me serviria a força das suas mãos? homens cujo vigor já pereceu.
  3. De míngua e fome se debilitaram; roem os lugares secos, desde muito em ruínas e desolados.
  4. Apanham malvas e folhas dos arbustos, e se sustentam de raízes de zimbro.
  5. S=E3o expulsos do meio dos homens, que gritam atr=E1s deles, como = atr=E1s de um=20 ladr=E3o.   
  6. T=EAm que habitar nos desfiladeiros sombrios, nas cavernas da = terra e dos=20 penhascos.   
  7. Bramam entre os arbustos, ajuntam-se debaixo das urtigas.  =  
  8. S=E3o filhos de insensatos, filhos de gente sem nome; da terra = foram=20 enxotados.   
  9. Mas agora vim a ser a sua can=E7=E3o, e lhes sirvo de = prov=E9rbio.   
  10. Eles me abominam, afastam-se de mim, e no meu rosto n=E3o se = privam de=20 cuspir.   
  11. Porquanto Deus desatou a minha corda e me humilhou, eles sacudiram = de si o=20 freio perante o meu rosto.   
  12. =EB direita levanta-se gente vil; empurram os meus p=E9s, e contra = mim erigem=20 os seus caminhos de destrui=E7=E3o.   
  13. Estragam a minha vereda, promovem a minha calamidade; n=E3o h=E1 = quem os=20 detenha.   
  14. V=EAm como por uma grande brecha, por entre as ru=EDnas se = precipitam. =20  
  15. Sobrevieram-me pavores; =E9 perseguida a minha honra como pelo = vento; e como=20 nuvem passou a minha felicidade.   
  16. E agora dentro de mim se derrama a minha alma; os dias da = afli=E7=E3o se=20 apoderaram de mim.   
  17. De noite me s=E3o traspassados os ossos, e o mal que me corr=F3i = n=E3o=20 descansa.   
  18. Pela viol=EAncia do mal est=E1 desfigurada a minha veste; como a = gola da minha=20 t=FAnica, me aperta.   
  19. Ele me lan=E7ou na lama, e fiquei semelhante ao p=F3 e =E0 = cinza.   
  20. Clamo a ti, e n=E3o me respondes; ponho-me em p=E9, e n=E3o = atentas para=20 mim.   
  21. Tornas-te cruel para comigo; com a for=E7a da tua m=E3o me = persegues. =20  
  22. Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e = dissolves-me na=20 tempestade.   
  23. Pois eu sei que me levar=E1s =E0 morte, e =E0 casa do ajuntamento = destinada a=20 todos os viventes.   
  24. Contudo n=E3o estende a m=E3o quem est=E1 a cair? ou n=E3o clama = por socorro na=20 sua calamidade?   
  25. N=E3o chorava eu sobre aquele que estava aflito? ou n=E3o se = angustiava a=20 minha alma pelo necessitado?   
  26. Todavia aguardando eu o bem, eis que me veio o mal, e esperando eu = a luz,=20 veio a escurid=E3o.   
  27. As minhas entranhas fervem e n=E3o descansam; os dias da = afli=E7=E3o me=20 surpreenderam.   
  28. Denegrido ando, mas n=E3o do sol; levanto-me na congrega=E7=E3o, e = clamo por=20 socorro.   
  29. Tornei-me irm=E3o dos chacais, e companheiro dos avestruzes.  =  
  30. A minha pele enegrece e se me cai, e os meus ossos est=E3o = queimados do=20 calor.   
  31. Pelo que se tornou em pranto a minha harpa, e a minha flauta em = voz dos=20 que choram.   

J=F3 31

  1. Fiz pacto com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa = virgem? =20  
  2. Pois que por=E7=E3o teria eu de Deus l=E1 de cima, e que heran=E7a = do=20 Todo-Poderoso l=E1 do alto?   
  3. N=E3o =E9 a destrui=E7=E3o para o perverso, e o desastre para os = obradores da=20 iniq=FCidade?   
  4. N=E3o v=EA ele os meus caminhos, e n=E3o conta todos os meus = passos? =20  
  5. Se eu tenho andado com falsidade, e se o meu p=E9 se tem apressado = ap=F3s o=20 engano   
  6. (pese-me Deus em balan=E7as fi=E9is, e conhe=E7a a minha = integridade); =20  
  7. se os meus passos se t=EAm desviado do caminho, e se o meu = cora=E7ao tem=20 seguido os meus olhos, e se qualquer mancha se tem pegado =E0s minhas=20 m=E3os;   
  8. ent=E3o semeie eu e outro coma, e seja arrancado o produto do meu=20 campo.   
  9. Se o meu cora=E7=E3o se deixou seduzir por causa duma mulher, ou = se eu tenho=20 armado trai=E7=E3o =E0 porta do meu pr=F3ximo,   
  10. ent=E3o moa minha mulher para outro, e outros se encurvem sobre = ela. =20  
  11. Pois isso seria um crime infame; sim, isso seria uma iniq=FCidade = para ser=20 punida pelos ju=EDzes;   
  12. porque seria fogo que consome at=E9 Abadom, e desarraigaria toda a = minha=20 renda.   
  13. Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles = pleitearam comigo,   
  14. ent=E3o que faria eu quando Deus se levantasse? E quando ele me = viesse=20 inquirir, que lhe responderia?   
  15. Aquele que me formou no ventre n=E3o o fez tamb=E9m a meu servo? E = n=E3o foi um=20 que nos plasmou na madre?   
  16. Se tenho negado aos pobres o que desejavam, ou feito desfalecer os = olhos=20 da vi=FAva,   
  17. ou se tenho comido sozinho o meu bocado, e n=E3o tem comido dele o = =F3rf=E3o=20 tamb=E9m   
  18. (pois desde a minha mocidade o =F3rf=E3o cresceu comigo como com = seu pai, e a=20 vi=FAva, tenho-a guiado desde o ventre de minha m=E3e);   
  19. se tenho visto algu=E9m perecer por falta de roupa, ou o = necessitado n=E3o ter=20 com que se cobrir;   
  20. se os seus lombos n=E3o me aben=E7oaram, se ele n=E3o se aquentava = com os velos=20 dos meus cordeiros;   
  21. se levantei a minha m=E3o contra o =F3rfao, porque na porta via a = minha=20 ajuda;   
  22. ent=E3o caia do ombro a minha esp=E1dua, e separe-se o meu bra=E7o = da sua=20 juntura.   
  23. Pois a calamidade vinda de Deus seria para mim um horror, e eu = n=E3o poderia=20 suportar a sua majestade.   
  24. Se do ouro fiz a minha esperan=E7a, ou disse ao ouro fino: Tu =E9s = a minha=20 confian=E7a;   
  25. se me regozijei por ser grande a minha riqueza, e por ter a minha = m=E3o=20 alcan=E7a o muito;   
  26. se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, quando = ela=20 caminhava em esplendor,   
  27. e o meu cora=E7=E3o se deixou enganar em oculto, e a minha boca = beijou a minha=20 m=E3o;   
  28. isso tamb=E9m seria uma iniq=FCidade para ser punida pelos = ju=EDzes; pois assim=20 teria negado a Deus que est=E1 l=E1 em cima.   
  29. Se me regozijei com a ru=EDna do que me tem =F3dio, e se exultei = quando o mal=20 lhe sobreveio   
  30. (mas eu n=E3o deixei pecar a minha boca, pedindo com = impreca=E7=E3o a sua=20 morte);   
  31. se as pessoas da minha tenda n=E3o disseram: Quem h=E1 que n=E3o = se tenha=20 saciado com carne provida por ele?   
  32. O estrangeiro n=E3o passava a noite na rua; mas eu abria as minhas = portas ao=20 viandante;   
  33. se, como Ad=E3o, encobri as minhas transgress=F5es, ocultando a = minha=20 iniq=FCidade no meu seio,   
  34. porque tinha medo da grande multid=E3o, e o desprezo das = fam=EDlias me=20 aterrorizava, de modo que me calei, e n=E3o sa=ED da porta...  =  
  35. Ah! quem me dera um que me ouvisse! Eis a minha defesa, que me = responda o=20 Todo-Poderoso! Oxal=E1 tivesse eu a acusa=E7=E3o escrita pelo meu = advers=E1rio! =20  
  36. Por certo eu a levaria sobre o ombro, sobre mim a ataria como = coroa. =20  
  37. Eu lhe daria conta dos meus passos; como pr=EDncipe me chegaria a = ele =20  
  38. Se a minha terra clamar contra mim, e se os seus sulcos juntamente = chorarem;   
  39. se comi os seus frutos sem dinheiro, ou se fiz que morressem os = seus=20 donos;   
  40. por trigo me produza cardos, e por cevada joio. Acabaram-se as = palavras de=20 J=F3.   

J=F3 32

  1. E aqueles tr=EAs homens cessaram de responder a J=F3; porque era = justo aos=20 seus pr=F3prios olhos.   
  2. Ent=E3o se acendeu a ira de Eli=FA, filho de Baraquel, o buzita, = da fam=EDlia de=20 R=E3o; acendeu-se a sua ira contra J=F3, porque este se justificava a = si mesmo, e=20 n=E3o a Deus.   
  3. Tamb=E9m contra os seus tr=EAs amigos se acendeu a sua ira, porque = n=E3o tinham=20 achado o que responder, e contudo tinham condenado a J=F3.  =  
  4. Ora, Eli=FA havia esperado para falar a J=F3, porque eles eram = mais idosos do=20 que ele.   
  5. Quando, pois, Eli=FA viu que n=E3o havia resposta na boca daqueles = tr=EAs=20 homens, acendeu-se-lhe a ira.   
  6. Ent=E3o respondeu Eli=FA, filho de Baraquel, o buzita, dizendo: Eu = sou de=20 pouca idade, e v=F3s sois, idosos; arreceei-me e temi de vos declarar = a minha=20 opini=E3o.   
  7. Dizia eu: Falem os dias, e a multid=E3o dos anos ensine a = sabedoria. =20  
  8. H=E1, por=E9m, um esp=EDrito no homem, e o sopro do Todo-Poderoso = o faz=20 entendido.   
  9. N=E3o s=E3o os velhos que s=E3o os s=E1bios, nem os anci=E3os que = entendem o que =E9=20 reto.   
  10. Pelo que digo: Ouvi-me, e tamb=E9m eu declararei a minha = opini=E3o. =20  
  11. Eis que aguardei as vossas palavras, escutei as vossas = considera=E7=F5es,=20 enquanto busc=E1veis o que dizer.   
  12. Eu, pois, vos prestava toda a minha aten=E7=E3o, e eis que n=E3o = houve entre v=F3s=20 quem convencesse a J=F3, nem quem respondesse =E0s suas = palavras;   
  13. pelo que n=E3o digais: Achamos a sabedoria; Deus =E9 que pode = derrub=E1-lo, e=20 n=E3o o homem.   
  14. Ora ele n=E3o dirigiu contra mim palavra alguma, nem lhe = responderei com as=20 vossas palavras.   
  15. Est=E3o pasmados, n=E3o respondem mais; faltam-lhes as = palavras.   
  16. Hei de eu esperar, porque eles n=E3o falam, porque j=E1 pararam, e = n=E3o=20 respondem mais?   
  17. Eu tamb=E9m darei a minha resposta; eu tamb=E9m declararei a minha = opini=E3o.   
  18. Pois estou cheio de palavras; o esp=EDrito dentro de mim me=20 constrange.   
  19. Eis que o meu peito =E9 como o mosto, sem respiradouro, como odres = novos que=20 est=E3o para arrebentar.   
  20. Falarei, para que ache al=EDvio; abrirei os meus l=E1bios e = responderei: =20  
  21. Que n=E3o fa=E7a eu acep=E7=E3o de pessoas, nem use de lisonjas = para com o=20 homem.   
  22. Porque n=E3o sei usar de lisonjas; do contr=E1rio, em breve me = levaria o meu=20 Criador.   

J=F3 33

  1. Ouve, pois, as minhas palavras, =F3 J=F3, e d=E1 ouvidos a todas = as minhas=20 declara=E7oes.   
  2. Eis que j=E1 abri a minha boca; j=E1 falou a minha l=EDngua = debaixo do meu=20 paladar.   
  3. As minhas palavras declaram a integridade do meu cora=E7=E3o, e os = meus l=E1bios=20 falam com sinceridade o que sabem.   
  4. O Esp=EDrito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me d=E1 = vida. =20  
  5. Se podes, responde-me; p=F5e as tuas palavras em ordem diante de = mim;=20 apresenta-te.   
  6. Eis que diante de Deus sou o que tu =E9s; eu tamb=E9m fui formado = do=20 barro.   
  7. Eis que n=E3o te perturbar=E1 nenhum medo de mim, nem ser=E1 = pesada sobre ti a=20 minha m=E3o.   
  8. Na verdade tu falaste aos meus ouvidos, e eu ouvi a voz das tuas = palavras.=20 Dizias:   
  9. Limpo estou, sem transgress=E3o; puro sou, e n=E3o h=E1 em mim = iniq=FCidade. =20  
  10. Eis que Deus procura motivos de inimizade contra mim, e me = considera como=20 o seu inimigo.   
  11. P=F5e no tronco os meus p=E9s, e observa todas as minhas = veredas.   
  12. Eis que nisso n=E3o tens raz=E3o; eu te responderei; porque Deus e = maior do=20 que o homem.   
  13. Por que raz=E3o contendes com ele por n=E3o dar conta dos seus = atos? =20  
  14. Pois Deus fala de um modo, e ainda de outro se o homem n=E3o lhe=20 atende.   
  15. Em sonho ou em vis=E3o de noite, quando cai sono profundo sobre os = homens,=20 quando adormecem na cama;   
  16. ent=E3o abre os ouvidos dos homens, e os atemoriza com = avisos,   
  17. para apartar o homem do seu des=EDgnio, e esconder do homem a = soberba; =20  
  18. para reter a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela = espada. =20  
  19. Tamb=E9m =E9 castigado na sua cama com dores, e com incessante = contenda nos=20 seus ossos;   
  20. de modo que a sua vida abomina o p=E3o, e a sua alma a comida=20 apetec=EDvel.   
  21. Consome-se a sua carne, de maneira que desaparece, e os seus = ossos, que=20 n=E3o se viam, agora aparecem.   
  22. A sua alma se vai chegando =E0 cova, e a sua vida aos que trazem a = morte.   
  23. Se com ele, pois, houver um anjo, um int=E9rprete, um entre mil, = para=20 declarar ao homem o que lhe =E9 justo,   
  24. ent=E3o ter=E1 compaix=E3o dele, e lhe dir=E1: Livra-o, para que = n=E3o des=E7a =E0 cova;=20 j=E1 achei resgate.   
  25. Sua carne se reverdecer=E1 mais do que na sua inf=E2ncia; e ele = tornar=E1 aos=20 dias da sua juventude.   
  26. Deveras orar=E1 a Deus, que lhe ser=E1 prop=EDcio, e o far=E1 ver = a sua face com=20 j=FAbilo, e restituir=E1 ao homem a sua justi=E7a.   
  27. Cantar=E1 diante dos homens, e dir=E1: Pequei, e perverti o = direito, o que de=20 nada me aproveitou.   
  28. Mas Deus livrou a minha alma de ir para a cova, e a minha vida = ver=E1 a=20 luz.   
  29. Eis que tudo isto Deus faz duas e tr=EAs vezes para com o = homem, =20  
  30. para reconduzir a sua alma da cova, a fim de que seja iluminado = com a luz=20 dos viventes.   
  31. Escuta, pois, =F3 J=F3, ouve-me; cala-te, e eu falarei.  =  
  32. Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo=20 justificar-te.   
  33. Se n=E3o, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a = sabedoria. =20  

J=F3 34

  1. Prosseguiu Eli=FA, dizendo:   
  2. Ouvi, v=F3s, s=E1bios, as minhas palavras; e v=F3s, entendidos, = inclinai os=20 ouvidos para mim.   
  3. Pois o ouvido prova as palavras, como o paladar experimenta a=20 comida.   
  4. O que =E9 direito escolhamos para n=F3s; e conhe=E7amos entre = n=F3s o que =E9=20 bom.   
  5. Pois J=F3 disse: Sou justo, e Deus tirou-me o direito.  =  
  6. Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida = =E9=20 incur=E1vel, embora eu esteja sem transgress=E3o.   
  7. Que homem h=E1 como J=F3, que bebe o esc=E1rnio como =E1gua,  =  
  8. que anda na companhia dos malfeitores, e caminha com homens = =EDmpios? =20  
  9. Porque disse: De nada aproveita ao homem o comprazer-se em = Deus. =20  
  10. Pelo que ouvi-me, v=F3s homens de entendimento: longe de Deus o = praticar a=20 maldade, e do Todo-Poderoso o cometer a iniq=FCidade!   
  11. Pois, segundo a obra do homem, ele lhe retribui, e faz a cada um = segundo o=20 seu caminho.   
  12. Na verdade, Deus n=E3o proceder=E1 impiamente, nem o Todo-Poderoso = perverter=E1=20 o ju=EDzo.   
  13. Quem lhe entregou o governo da terra? E quem lhe deu autoridade = sobre o=20 mundo todo?   
  14. Se ele retirasse para si o seu esp=EDrito, e recolhesse para si o = seu=20 f=F4lego,   
  15. toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o = p=F3. =20  
  16. Se, pois, h=E1 em ti entendimento, ouve isto, inclina os ouvidos = =E0s palavras=20 que profiro.   
  17. Acaso quem odeia o direito governar=E1? Querer=E1s tu condenar = aquele que =E9=20 justo e poderoso?   
  18. aquele que diz a um rei: =F3 vil? e aos pr=EDncipes: =F3 = =EDmpios?   
  19. que n=E3o faz acep=E7=E3o das pessoas de pr=EDncipes, nem estima o = rico mais do=20 que o pobre; porque todos s=E3o obra de suas m=E3os?   
  20. Eles num momento morrem; e =E0 meia-noite os povos s=E3o = perturbados, e=20 passam, e os poderosos s=E3o levados n=E3o por m=E3o humana.  =  
  21. Porque os seus olhos est=E3o sobre os caminhos de cada um, e ele = v=EA todos os=20 seus passos.   
  22. N=E3o h=E1 escurid=E3o nem densas trevas, onde se escondam os = obradores da=20 iniq=FCidade.   
  23. Porque Deus n=E3o precisa observar por muito tempo o homem para = que este=20 compare=E7a perante ele em ju=EDzo.   
  24. Ele quebranta os fortes, sem inquiri=E7ao, e p=F5e outros em lugar = deles.   
  25. Pois conhecendo ele as suas obras, de noite os transtorna, e ficam = esmagados.   
  26. Ele os fere como =EDmpios, =E0 vista dos circunstantes;  =  
  27. porquanto se desviaram dele, e n=E3o quiseram compreender nenhum = de seus=20 caminhos,   
  28. de sorte que o clamor do pobre subisse at=E9 ele, e que ouvisse o = clamor dos=20 aflitos.   
  29. Se ele d=E1 tranq=FCilidade, quem ent=E3o o condenar=E1? Se ele = encobrir o rosto,=20 quem ent=E3o o poder=E1 contemplar, quer seja uma na=E7=E3o, quer seja = um homem=20 s=F3?   
  30. para que o =EDmpio n=E3o reine, e n=E3o haja quem iluda o = povo.   
  31. Pois, quem jamais disse a Deus: Sofri, ainda que n=E3o = pequei;   
  32. o que n=E3o vejo, ensina-me tu; se fiz alguma maldade, nunca mais = a hei de=20 fazer?   
  33. Ser=E1 a sua recompensa como queres, para que a recuses? Pois tu = tens que=20 fazer a escolha, e n=E3o eu; portanto fala o que sabes.   
  34. Os homens de entendimento dir-me-=E3o, e o var=E3o s=E1bio, que me = ouvir: =20  
  35. J=F3 fala sem conhecimento, e =E0s suas palavras falta = sabedoria.   
  36. Oxal=E1 que J=F3 fosse provado at=E9 o fim; porque responde como = os=20 in=EDquos.   
  37. Porque ao seu pecado acrescenta a rebeli=E3o; entre n=F3s bate as = palmas, e=20 multiplica contra Deus as suas palavras.   

J=F3 35

  1. Disse mais Eli=FA:   
  2. Tens por direito dizeres: Maior =E9 a minha justi=E7a do que a de = Deus? =20  
  3. Porque dizes: Que me aproveita? Que proveito tenho mais do que se = eu=20 tivera pecado?   
  4. Eu te darei respostas, a ti e aos teus amigos contigo.  =  
  5. Atenta para os c=E9us, e v=EA; e contempla o firmamento que =E9 = mais alto do que=20 tu.   
  6. Se pecares, que efetuar=E1s contra ele? Se as tuas transgress=F5es = se=20 multiplicarem, que lhe far=E1s com isso?   
  7. Se fores justo, que lhe dar=E1s, ou que receber=E1 ele da tua = m=E3o? =20  
  8. A tua impiedade poderia fazer mal a outro tal como tu; e a tua = justi=E7a=20 poderia aproveitar a um filho do homem.   
  9. Por causa da multid=E3o das opress=F5es os homens clamam; clamam = por socorro=20 por causa do bra=E7o dos poderosos.   
  10. Mas ningu=E9m diz: Onde est=E1 Deus meu Criador, que inspira = can=E7=F5es durante a=20 noite;   
  11. que nos ensina mais do que aos animais da terra, e nos faz mais = s=E1bios do=20 que as aves do c=E9u?   
  12. Ali clamam, por=E9m ele n=E3o responde, por causa da arrog=E2ncia = os maus. =20  
  13. Certo =E9 que Deus n=E3o ouve o grito da vaidade, nem para ela = atentar=E1 o=20 Todo-Poderoso.   
  14. Quanto menos quando tu dizes que n=E3o o v=EAs. A causa est=E1 = perante ele; por=20 isso espera nele.   
  15. Mas agora, porque a sua ira ainda n=E3o se exerce, nem grandemente = considera=20 ele a arrog=E2ncia,   
  16. por isso abre J=F3 em v=E3o a sua boca, e sem conhecimento = multiplica=20 palavras.   

J=F3 36

  1. Prosseguiu ainda Eli=FA e disse:   
  2. Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda h=E1 raz=F5es a = favor de=20 Deus.   
  3. De longe trarei o meu conhecimento, e ao meu criador atribuirei a=20 justi=E7a.   
  4. Pois, na verdade, as minhas palavras n=E3o ser=E3o falsas; contigo = est=E1 um que=20 tem perfeito conhecimento.   
  5. Eis que Deus =E9 mui poderoso, contudo a ningu=E9m despre grande = =E9 no poder de=20 entendimento.   
  6. Ele n=E3o preserva a vida do =EDmpio, mas faz justi=E7a aos = aflitos. =20  
  7. Do justo n=E3o aparta os seus olhos; antes com os reis no trono os = faz=20 sentar para sempre, e assim s=E3o exaltados.   
  8. E se est=E3o presos em grilh=F5es, e amarrados com cordas de = afli=E7=E3o, =20  
  9. ent=E3o lhes faz saber a obra deles, e as suas transgress=F5es, = porquanto se=20 t=EAm portado com soberba.   
  10. E abre-lhes o ouvido para a instru=E7=E3o, e ordena que se = convertam da=20 iniq=FCidade.   
  11. Se o ouvirem, e o servirem, acabar=E3o seus dias em prosperidade, = e os seus=20 anos em del=EDcias.   
  12. Mas se n=E3o o ouvirem, =E0 espada ser=E3o passados, e expirar=E3o = sem=20 conhecimento.   
  13. Assim os =EDmpios de cora=E7=E3o amontoam, a sua ira; e quando = Deus os p=F5e em=20 grilh=F5es, n=E3o clamam por socorro.   
  14. Eles morrem na mocidade, e a sua vida perece entre as = prostitutas. =20  
  15. Ao aflito livra por meio da sua afli=E7=E3o, e por meio da = opress=E3o lhe abre=20 os ouvidos.   
  16. Assim tamb=E9m quer induzir-te da ang=FAstia para um lugar = espa=E7oso, em que=20 n=E3o h=E1 aperto; e as iguarias da tua mesa ser=E3o cheias de = gordura.   
  17. Mas tu est=E1s cheio do ju=EDzo do =EDmpio; o ju=EDzo e a = justi=E7a tomam conta de=20 ti.   
  18. Cuida, pois, para que a ira n=E3o te induza a escarnecer, nem te = desvie a=20 grandeza do resgate.   
  19. Prevalecer=E1 o teu clamor, ou todas as for=E7as da tua fortaleza, = para que=20 n=E3o estejas em aperto?   
  20. N=E3o suspires pela noite, em que os povos sejam tomados do seu = lugar. =20  
  21. Guarda-te, e n=E3o declines para a iniq=FCidade; porquanto isso = escolheste=20 antes que a afli=E7=E3o.   
  22. Eis que Deus =E9 excelso em seu poder; quem =E9 ensinador como = ele? =20  
  23. Quem lhe prescreveu o seu caminho? Ou quem poder=E1 dizer: Tu = praticaste a=20 injusti=E7a?   
  24. Lembra-te de engrandecer a sua obra, de que t=EAm cantado os = homens. =20  
  25. Todos os homens a v=EAem; de longe a contempla o homem.  =  
  26. Eis que Deus =E9 grande, e n=F3s n=E3o o conhecemos, e o n=FAmero = dos seus anos=20 n=E3o se pode esquadrinhar.   
  27. Pois atrai a si as gotas de =E1gua, e do seu vapor as destila em=20 chuva,   
  28. que as nuvens derramam e gotejam abundantemente sobre o = homem. =20  
  29. Poder=E1 algu=E9m entender as dilata=E7=F5es das nuvens, e os = trov=F5es do seu=20 pavilh=E3o?   
  30. Eis que ao redor de si estende a sua luz, e cobre o fundo do = mar. =20  
  31. Pois por estas coisas julga os povos e lhes d=E1 mantimento em=20 abund=E2ncia.   
  32. Cobre as m=E3os com o rel=E2mpago, e d=E1-lhe ordem para que fira = o alvo. =20  
  33. O fragor da tempestade d=E1 not=EDcia dele; at=E9 o gado pressente = a sua=20 aproxima=E7=E3o.   

J=F3 37

  1. Sobre isso tamb=E9m treme o meu cora=E7=E3o, e salta do seu = lugar.   
  2. Dai atentamente ouvidos ao estrondo da voz de Deus e ao sonido que = sai da=20 sua boca.   
  3. Ele o envia por debaixo de todo o c=E9u, e o seu rel=E2mpago at=E9 = os confins da=20 terra.   
  4. Depois do rel=E2mpago ruge uma grande voz; ele troveja com a sua = voz=20 majestosa; e n=E3o retarda os raios, quando =E9 ouvida a sua = voz.   
  5. Com a sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes coisas, = que n=F3s=20 n=E3o compreendemos.   
  6. Pois =E0 neve diz: Cai sobre a terra; como tamb=E9m =E0s chuvas e = aos=20 aguaceiros: Sede copiosos.   
  7. Ele sela as m=E3os de todo homem, para que todos saibam que ele os = fez.   
  8. E as feras entram nos esconderijos e ficam nos seus covis.  =  
  9. Da rec=E2mara do sul sai o tuf=E3o, e do norte o frio.  =  
  10. Ao sopro de Deus forma-se o gelo, e as largas =E1guas s=E3o = congeladas. =20  
  11. Tamb=E9m de umidade carrega as grossas nuvens; as nuvens espalham=20 rel=E2mpagos.   
  12. Fazem evolu=E7=F5es sob a sua dire=E7=E3o, para efetuar tudo = quanto lhes ordena=20 sobre a superf=EDcie do mundo habit=E1vel:   
  13. seja para disciplina, ou para a sua terra, ou para benefic=EAncia, = que as=20 fa=E7a vir.   
  14. A isto, J=F3, inclina os teus ouvidos; p=E1ra e considera as obras = maravilhosas de Deus.   
  15. Sabes tu como Deus lhes d=E1 as suas ordens, e faz resplandecer o = rel=E2mpago=20 da sua nuvem?   
  16. Compreendes o equil=EDbrio das nuvens, e as maravilhas daquele que = =E9=20 perfeito nos conhecimentos;   
  17. tu cujas vestes s=E3o quentes, quando h=E1 calma sobre a terra por = causa do=20 vento sul?   
  18. Acaso podes, como ele, estender o firmamento, que =E9 s=F3lido = como um espelho=20 fundido?   
  19. Ensina-nos o que lhe diremos; pois n=F3s nada poderemos p=F4r em = boa ordem,=20 por causa das trevas.   
  20. Contar-lhe-ia algu=E9m que eu quero falar. Ou desejaria um homem = ser=20 devorado?   
  21. E agora o homem n=E3o pode olhar para o sol, que resplandece no = c=E9u quando o=20 vento, tendo passado, o deixa limpo.   
  22. Do norte vem o =E1ureo esplendor; em Deus h=E1 tremenda = majestade. =20  
  23. Quanto ao Todo-Poderoso, n=E3o o podemos compreender; grande =E9 = em poder e=20 justi=E7a e pleno de retid=E3o; a ningu=E9m, pois, oprimir=E1.  =  
  24. Por isso o temem os homens; ele n=E3o respeita os que se julgam=20 s=E1bios.   

J=F3 38

  1. Depois disso o Senhor respondeu a J=F3 dum redemoinho, = dizendo:   
  2. Quem =E9 este que escurece o conselho com palavras sem = conhecimento? =20  
  3. Agora cinge os teus lombos, como homem; porque te perguntarei, e = tu me=20 responder=E1s.   
  4. Onde estavas tu, quando eu lan=E7ava os fundamentos da terra? = Faze-mo saber,=20 se tens entendimento.   
  5. Quem lhe fixou as medidas, se =E9 que o sabes? ou quem a mediu com = o=20 cordel?   
  6. Sobre que foram firmadas as suas bases, ou quem lhe assentou a = pedra de=20 esquina,   
  7. quando juntas cantavam as estrelas da manh=E3, e todos os filhos = de Deus=20 bradavam de j=FAbilo?   
  8. Ou quem encerrou com portas o mar, quando este rompeu e saiu da=20 madre;   
  9. quando eu lhe pus nuvens por vestidura, e escurid=E3o por = faixas, =20  
  10. e lhe tracei limites, pondo-lhe portas e ferrolhos,   
  11. e lhe disse: At=E9 aqui vir=E1s, por=E9m n=E3o mais adiante; e = aqui se quebrar=E3o=20 as tuas ondas orgulhosas?   
  12. Desde que come=E7aram os teus dias, deste tu ordem =E0 madrugada, = ou mostraste=20 =E0 alva o seu lugar,   
  13. para que agarrasse nas extremidades da terra, e os =EDmpios fossem = sacudidos=20 dela?   
  14. A terra se transforma como o barro sob o selo; e todas as coisas = se=20 assinalam como as cores dum vestido.   
  15. E dos =EDmpios =E9 retirada a sua luz, e o bra=E7o altivo se = quebranta. =20  
  16. Acaso tu entraste at=E9 os mananciais do mar, ou passeaste pelos = recessos do=20 abismo?   
  17. Ou foram-te descobertas as portas da morte, ou viste as portas da = sombra=20 da morte?   
  18. Compreendeste a largura da terra? Faze-mo saber, se sabes tudo = isso. =20  
  19. Onde est=E1 o caminho para a morada da luz? E, quanto =E0s trevas, = onde est=E1 o=20 seu lugar,   
  20. para que =E0s tragas aos seus limites, e para que saibas as = veredas para a=20 sua casa?   
  21. De certo tu o sabes, porque j=E1 ent=E3o eras nascido, e porque = =E9 grande o=20 n=FAmero dos teus dias!   
  22. Acaso entraste nos tesouros da neve, e viste os tesouros da = saraiva, =20  
  23. que eu tenho reservado para o tempo da ang=FAstia, para o dia da = peleja e da=20 guerra?   
  24. Onde est=E1 o caminho para o lugar em que se reparte a luz, e se = espalha o=20 vento oriental sobre a terra?   
  25. Quem abriu canais para o aguaceiro, e um caminho para o = rel=E2mpago do=20 trov=E3o;   
  26. para fazer cair chuva numa terra, onde n=E3o h=E1 ningu=E9m, e no = deserto, em=20 que n=E3o h=E1 gente;   
  27. para fartar a terra deserta e assolada, e para fazer crescer a = tenra=20 relva?   
  28. A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as gotas do = orvalho? =20  
  29. Do ventre de quem saiu o gelo? E quem gerou a geada do = c=E9u?   
  30. Como pedra as =E1guas se endurecem, e a superf=EDcie do abismo se=20 congela.   
  31. Podes atar as cadeias das Pl=EAiades, ou soltar os atilhos do = Oriom? =20  
  32. Ou fazer sair as constela=E7=F5es a seu tempo, e guiar a ursa com = seus=20 filhos?   
  33. Sabes tu as ordenan=E7as dos c=E9us, ou podes estabelecer o seu = dom=EDnio sobre=20 a terra?   
  34. Ou podes levantar a tua voz at=E9 as nuvens, para que a = abund=E2ncia das =E1guas=20 te cubra?   
  35. Ou ordenar=E1s aos raios de modo que saiam? Eles te dir=E3o: = Eis-nos=20 aqui?   
  36. Quem p=F4s sabedoria nas densas nuvens, ou quem deu entendimento = ao=20 meteoro?   
  37. Quem numerar=E1 as nuvens pela sabedoria? Ou os odres do c=E9u, = quem os=20 esvaziar=E1,   
  38. quando se funde o p=F3 em massa, e se pegam os torr=F5es uns aos = outros? =20  
  39. Podes ca=E7ar presa para a leoa, ou satisfazer a fome dos filhos = dos=20 le=F5es,   
  40. quando se agacham nos covis, e est=E3o =E0 espreita nas = covas?   
  41. Quem prepara ao corvo o seu alimento, quando os seus pintainhos = clamam a=20 Deus e andam vagueando, por n=E3o terem o que comer?  =  

J=F3 39

  1. Sabes tu o tempo do parto das cabras montesas, ou podes observar = quando =E9=20 que parem as cor=E7as?   
  2. Podes contar os meses que cumprem, ou sabes o tempo do seu = parto? =20  
  3. Encurvam-se, d=E3o =E0 luz as suas crias, lan=E7am de si a sua = prole. =20  
  4. Seus filhos enrijam, crescem no campo livre; saem, e n=E3o tornam = para=20 elas:   
  5. Quem despediu livre o jumento mont=EAs, e quem soltou as pris=F5es = ao asno=20 veloz,   
  6. ao qual dei o ermo por casa, e a terra salgada por morada?  =  
  7. Ele despreza o tumulto da cidade; n=E3o obedece os gritos do = condutor. =20  
  8. O circuito das montanhas =E9 o seu pasto, e anda buscando tudo o = que est=E1=20 verde.   
  9. Querer=E1 o boi selvagem servir-te? ou ficar=E1 junto =E0 tua = manjedoura? =20  
  10. Podes amarrar o boi selvagem ao arado com uma corda, ou = esterroar=E1 ele=20 ap=F3s ti os vales?   
  11. Ou confiar=E1s nele, por ser grande a sua for=E7a, ou deixar=E1s a = seu cargo o=20 teu trabalho?   
  12. Fiar=E1s dele que te torne o que semeaste e o recolha =E0 tua = eira? =20  
  13. Movem-se alegremente as asas da avestruz; mas =E9 benigno o adorno = da sua=20 plumagem?   
  14. Pois ela deixa os seus ovos na terra, e os aquenta no p=F3,  =  
  15. e se esquece de que algum p=E9 os pode pisar, ou de que a fera os = pode=20 calcar.   
  16. Endurece-se para com seus filhos, como se n=E3o fossem seus; = embora se perca=20 o seu trabalho, ela est=E1 sem temor;   
  17. porque Deus a privou de sabedoria, e n=E3o lhe repartiu = entendimento. =20  
  18. Quando ela se levanta para correr, zomba do cavalo, e do = cavaleiro. =20  
  19. Acaso deste for=E7a ao cavalo, ou revestiste de for=E7a o seu = pesco=E7o? =20  
  20. Fizeste-o pular como o gafanhoto? Terr=EDvel =E9 o fogoso respirar = das suas=20 ventas.   
  21. Escarva no vale, e folga na sua for=E7a, e sai ao encontro dos=20 armados.   
  22. Ri-se do temor, e n=E3o se espanta; e n=E3o torna atr=E1s por = causa da=20 espada.   
  23. Sobre ele rangem a aljava, a lan=E7a cintilante e o dardo.  =  
  24. Tremendo e enfurecido devora a terra, e n=E3o se cont=E9m ao som = da=20 trombeta.   
  25. Toda vez que soa a trombeta, diz: Eia! E de longe cheira a guerra, = e o=20 trov=E3o dos capit=E3es e os gritos.   
  26. =C9 pelo teu entendimento que se eleva o gavi=E3o, e estende as = suas asas para=20 o sul?   
  27. Ou se remonta a =E1guia ao teu mandado, e p=F5e no alto o seu = ninho? =20  
  28. Mora nas penhas e ali tem a sua pousada, no cume das penhas, no = lugar=20 seguro.   
  29. Dali descobre a presa; seus olhos a avistam de longe.   
  30. Seus filhos chupam o sangue; e onde h=E1 mortos, ela a=ED = est=E1. =20  

J=F3 40

  1. Disse mais o Senhor a J=F3:   
  2. Contender=E1 contra o Todo-Poderoso o censurador? Quem assim = arg=FAi a Deus,=20 responda a estas coisas.   
  3. Ent=E3o J=F3 respondeu ao Senhor, e disse:   
  4. Eis que sou vil; que te responderia eu? Antes ponho a minha m=E3o = sobre a=20 boca.   
  5. Uma vez tenho falado, e n=E3o replicarei; ou ainda duas vezes, = por=E9m n=E3o=20 prosseguirei.   
  6. Ent=E3o, do meio do redemoinho, o Senhor respondeu a J=F3:  =  
  7. Cinge agora os teus lombos como homem; eu te perguntarei a ti, e = tu me=20 responder=E1s.   
  8. Far=E1s tu v=E3o tamb=E9m o meu ju=EDzo, ou me condenar=E1s para = te justificares a=20 ti?   
  9. Ou tens bra=E7o como Deus; ou podes trovejar com uma voz como a = dele? =20  
  10. Orna-te, pois, de excel=EAncia e dignidade, e veste-te de gl=F3ria = e de=20 esplendor.   
  11. Derrama as inunda=E7=F5es da tua ira, e atenta para todo soberbo, = e=20 abate-o.   
  12. Olha para todo soberbo, e humilha-o, e calca aos p=E9s os =EDmpios = onde=20 est=E3o.   
  13. Esconde-os juntamente no p=F3; ata-lhes os rostos no lugar = escondido. =20  
  14. Ent=E3o tamb=E9m eu de ti confessarei que a tua m=E3o direita te = poder=E1=20 salvar.   
  15. Contempla agora o hipop=F3tamo, que eu criei como a ti, que come a = erva como=20 o boi.   
  16. Eis que a sua for=E7a est=E1 nos seus lombos, e o seu poder nos = m=FAsculos do=20 seu ventre.   
  17. Ele enrija a sua cauda como o cedro; os nervos das suas coxas = s=E3o=20 entretecidos.   
  18. Os seus ossos s=E3o como tubos de bronze, as suas costelas como = barras de=20 ferro.   
  19. Ele =E9 obra prima dos caminhos de Deus; aquele que o fez o proveu = da sua=20 espada.   
  20. Em verdade os montes lhe produzem pasto, onde todos os animais do = campo=20 folgam.   
  21. Deita-se debaixo dos lotos, no esconderijo dos canaviais e no=20 p=E2ntano.   
  22. Os lotos cobrem-no com sua sombra; os salgueiros do ribeiro o=20 cercam.   
  23. Eis que se um rio trasborda, ele n=E3o treme; sente-se seguro = ainda que o=20 Jord=E3o se levante at=E9 a sua boca.   
  24. Poder=E1 algu=E9m apanh=E1-lo quando ele estiver de vigia, ou com = la=E7os lhe=20 furar o nariz?   

J=F3 41

  1. Poder=E1s tirar com anzol o leviat=E3, ou apertar-lhe a l=EDngua = com uma=20 corda?   
  2. Poder=E1s meter-lhe uma corda de junco no nariz, ou com um gancho = furar a=20 sua queixada?   
  3. Porventura te far=E1 muitas s=FAplicas, ou brandamente te = falar=E1?   
  4. Far=E1 ele alian=E7a contigo, ou o tomar=E1s tu por servo para = sempre? =20  
  5. Brincar=E1s com ele, como se fora um p=E1ssaro, ou o prender=E1s = para tuas=20 meninas?   
  6. Far=E3o os s=F3cios de pesca tr=E1fico dele, ou o dividir=E3o = entre os=20 negociantes?   
  7. Poder=E1s encher-lhe a pele de arp=F5es, ou a cabe=E7a de = fisgas?   
  8. P=F5e a tua m=E3o sobre ele; lembra-te da peleja; nunca mais o = far=E1s! =20  
  9. Eis que =E9 v=E3 a esperan=E7a de apanh=E1-lo; pois n=E3o ser=E1 = um homem derrubado s=F3=20 ao v=EA-lo?   
  10. Ningu=E9m h=E1 t=E3o ousado, que se atreva a despert=E1-lo; quem, = pois, =E9 aquele=20 que pode erguer-se diante de mim?   
  11. Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe? = Pois tudo=20 quanto existe debaixo de todo c=E9u =E9 meu.   
  12. N=E3o me calarei a respeito dos seus membros, nem da sua grande = for=E7a, nem=20 da gra=E7a da sua estrutura.   
  13. Quem lhe pode tirar o vestido exterior? Quem lhe penetrar=E1 a = coura=E7a=20 dupla?   
  14. Quem jamais abriu as portas do seu rosto? Pois em roda dos seus = dentes=20 est=E1 o terror.   
  15. As suas fortes escamas s=E3o o seu orgulho, cada uma fechada como = por um=20 selo apertado.   
  16. Uma =E0 outra se chega t=E3o perto, que nem o ar passa por entre = elas. =20  
  17. Umas =E0s outras se ligam; tanto aderem entre si, que n=E3o se = podem=20 separar.   
  18. Os seus espirros fazem resplandecer a luz, e os seus olhos s=E3o = como as=20 pestanas da alva.   
  19. Da sua boca saem tochas; fa=EDscas de fogo saltam dela.  =  
  20. Dos seus narizes procede fuma=E7a, como de uma panela que ferve, e = de juncos=20 que ardem.   
  21. O seu h=E1lito faz incender os carv=F5es, e da sua boca sai uma = chama. =20  
  22. No seu pesco=E7o reside a for=E7a; e diante dele anda saltando o = terror. =20  
  23. Os tecidos da sua carne est=E3o pegados entre si; ela =E9 firme = sobre ele, n=E3o=20 se pode mover.   
  24. O seu cora=E7=E3o =E9 firme como uma pedra; sim, firme como a = pedra inferior=20 dum=E1 m=F3.   
  25. Quando ele se levanta, os valentes s=E3o atemorizados, e por causa = da=20 consterna=E7=E3o ficam fora de si.   
  26. Se algu=E9m o atacar com a espada, essa n=E3o poder=E1 penetrar; = nem tampouco a=20 lan=E7a, nem o dardo, nem o arp=E3o.   
  27. Ele considera o ferro como palha, e o bronze como pau podre.  =  
  28. A seta n=E3o o poder=E1 fazer fugir; para ele as pedras das fundas = se tornam=20 em restolho.   
  29. Os bast=F5es s=E3o reputados como juncos, e ele se ri do brandir = da=20 lan=E7a.   
  30. Debaixo do seu ventre h=E1 pontas agudas; ele se estende como um = trilho=20 sobre o lodo.   
  31. As profundezas faz ferver, como uma panela; torna o mar como uma = vasilha=20 de ung=FCento.   
  32. Ap=F3s si deixa uma vereda luminosa; parece o abismo tornado em = brancura de=20 c=E3s.   
  33. Na terra n=E3o h=E1 coisa que se lhe possa comparar; pois foi = feito para estar=20 sem pavor.   
  34. Ele v=EA tudo o que =E9 alto; =E9 rei sobre todos os filhos da = soberba. =20  

J=F3 42

  1. Ent=E3o respondeu J=F3 ao Senhor:   
  2. Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus prop=F3sitos pode = ser=20 impedido.   
  3. Quem =E9 este que sem conhecimento obscurece o conselho? por isso = falei do=20 que n=E3o entendia; coisas que para mim eram demasiado maravilhosas, e = que eu=20 n=E3o conhecia.   
  4. Ouve, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me = responderas. =20  
  5. Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te v=EAem os meus=20 olhos.   
  6. Pelo que me abomino, e me arrependo no p=F3 e na cinza.  =  
  7. Sucedeu pois que, acabando o Senhor de dizer a J=F3 aquelas = palavras, o=20 Senhor disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti e = contra=20 os teus dois amigos, porque n=E3o tendes falado de mim o que era reto, = como o=20 meu servo J=F3.   
  8. Tomai, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao meu servo = J=F3, e=20 oferecei um holocausto por v=F3s; e o meu servo J=F3 orar=E1 por = v=F3s; porque deveras=20 a ele aceitarei, para que eu n=E3o vos trate conforme a vossa = estult=EDcia; porque=20 v=F3s n=E3o tendes falado de mim o que era reto, como o meu servo = J=F3.   
  9. Ent=E3o foram Elifaz o temanita, e Bildade o su=EDta, e Zofar o = naamatita, e=20 fizeram como o Senhor lhes ordenara; e o Senhor aceitou a J=F3.  =  
  10. O Senhor, pois, virou o cativeiro de J=F3, quando este orava pelos = seus=20 amigos; e o Senhor deu a J=F3 o dobro do que antes possu=EDa.  =  
  11. Ent=E3o vieram ter com ele todos os seus irm=E3os, e todas as suas = irm=E3s, e=20 todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele p=E3o em sua = casa;=20 condoeram-se dele, e o consolaram de todo o mal que o Senhor lhe havia = enviado; e cada um deles lhe deu uma pe=E7a de dinheiro e um pendente = de=20 ouro.   
  12. E assim aben=E7oou o Senhor o =FAltimo estado de J=F3, mais do que = o primeiro;=20 pois J=F3 chegou a ter catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil = juntas de bois=20 e mil jumentas.   
  13. Tamb=E9m teve sete filhos e tr=EAs filhas.   
  14. E chamou o nome da primeira Jemima, e o nome da segunda Quezia, e = o nome=20 da terceira Qu=E9ren-Hapuque.   
  15. E em toda a terra n=E3o se acharam mulheres t=E3o formosas como as = filhas de=20 J=F3; e seu pai lhes deu heran=E7a entre seus irm=E3os.   
  16. Depois disto viveu J=F3 cento e quarenta anos, e viu seus filhos, = e os=20 filhos de seus filhos: at=E9 a quarta gera=E7=E3o.   
  17. Ent=E3o morreu J=F3, velho e cheio de dias.   

Referência: Bíblia Sagrada traduzida por João Ferreira de Almeida